Malta querida do GEFAC,

No passado sábado, fui a Coimbra ver o espectáculo que apresentaram no Teatro Académico de Gil Vicente. Ao princípio, era um pretexto para voltar à cidade onde muitos de nós nascemos pela segunda vez e onde vivemos sempre ou quase sempre com a mala debaixo da cama pronta a seguir viagem.

A ideia partiu da Manela Pina e do Zé Altino mas foi prontamente acarinhada – um fim-de-semana que se prolonga por um 25 de Abril, a calhar nesta segunda-feira, merecia ser bem aproveitado. Chegámos a meio da tarde e ainda fomos jantar, antes do espectáculo, com o José António e a Teresa Paz.

Talvez seja importante fazer uma declaração de interesses – no jantar de sábado, no Dom Pitéu, um bom restaurante que eu não conhecia, só eu não era do GEFAC (Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra). O Altino, o José António, a Manela, a Natália e a Teresa Paz são todos gefaquianos. Eu, como se sabe, sou do Teatro dos Estudantes, do TEUC.

Sempre a contar com o coimbrinha quarto de hora de tolerância académica, por maioria de razões no Gil Vicente, académico até no nome, conseguimos chegar a tempo do início da belíssima e comovente Primavera com que a actual geração do GEFAC nos brindou no sábado.

“Como Faz a Primavera” foi o que nos deram no Teatro Académico de Gil Vicente, teatro por onde passei no último meio século, em espectáculos do TEUC e em Assembleias Magnas (a que presidi, naquele ano quente de 1975). Essa “Primavera”, sendo diferente e ensaiando outros trilhos, não desmerece aquele espectáculo do GEFAC que a minha geração guarda para sempre na memória: “Já nasceu, é menino e chama-se António”.

Organismos como o GEFAC ou o TEUC, que vivem do trabalho de sucessivas gerações de estudantes, têm sempre a marca daqueles que, em cada geração, os fazem, sem dívidas herdadas. É assim que se renovam sempre, remoçando os velhos.

De tal maneira que, no fim da “Primavera”, no fim do espectáculo que o GEFAC apresentou no sábado passado, no conimbricense Teatro Académico de Gil Vicente, eu acabei por ir para os copos, contrariando aquela ideia feita que classifica como fracas as actuais noites de Coimbra. E nem precisei de pedir à malta da minha Matulónia, nomeadamente aos dois sociólogos com quem estive à conversa, um deles do elenco da “Primavera”, indicações geo-estratégicas.

Fui parar ao The Murphy’s Irish Pub, quase na Praça da República, um lugar lindo, com gente linda que prova que a noite, às vezes, muitas vezes, é a melhor hora do dia. Este postal que lhes envio foi lá aguarelado. Foi aguarelado numa mesa em frente do eléctrico que espera, no último andar, avançar para a “Estrela” que nos há-de calhar.

No Murphy’s, encontrei o Tozé e a Anabela, o Luís Lobo e a Margarida, todos eles também vindos da “Primavera”. Estava um luar que até parecia que amanhecia. Ou seja, estava na hora de recolher à casa que facilitou o descanso indispensável antes do regresso ao Porto. Sem pressas. Era domingo e um domingo, ontem, véspera deste feriado do 25 de Abril – do 25 de Abril Sempre, como o baptizou o Presidente Jorge Sampaio.

O almoço de ontem foi já a caminho do Porto, num restaurante da Mealhada que muito aprecio por ter o nome do meu filho mais velho, o Pedro (dos Leitões).

Malta, obrigado por tudo! Obrigado pela “Primavera”.

Júlio Roldão

25/04/2022

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Júlio Roldão

É jornalista desde 1977. Nasceu no Porto, em 1953, e estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e pelo Círculo de Artes Plásticas (CAPC), tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.

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