11 de Março de 1975

 11 de Março de 1975

Soldado barricado no RALIS (em 11 de Março de 1975). (Créditos fotográficos: Manuel Moura / Lusa – publico.pt)

(Direitos reservados)

Cumpriram-se anteontem (no sábado), 48 anos sobre o 11 de Março de 1975. Dinis de Almeida (1944-2021), que integrou o Movimento dos Capitães de Abril, desde da sua génese, teve um papel fundamental na derrota do ataque da Força Aérea ao RALIS (o extinto Regimento de Artilharia de Lisboa).

A Força Aérea agiu às ordens às ordens de António de Spínola, que foi o primeiro Presidente da República após o golpe militar de 25 de Abril de 1974. A investida ou tentativa de golpe de estado frustrada, em 11 de Março, ditou a morte do soldado Fernando Luís. O ataque só não teve um fim mais trágico devido a Diniz de Almeida1 e “à sua coragem e ponderação revolucionárias”, afirmou Mário Tomé, ao portal de informação alternativa Esquerda.Net (edição de 17 de Maio de 2021).

António de Spínola (ionline.sapo.pt)

O também militar de Abril, agora coronel na reforma, disse, na mesma altura, que se deve a Diniz de Almeida o facto de “a miserável demonstração de despotismo ‘maoísta’ na tortura a Marcelino da Mata2 por MRPP’s infiltrados no seu quartel, o RAL 1, não tivesse consequências mais funestas” (sic).

A intervenção de Dinis de Almeida fez abortar o golpe spnínolista. (© RTP)

Diniz de Almeida, que, no dia 25 de Abril de 1974, tinha comandado uma coluna militar saída da Figueira da Foz com destino a Lisboa, travou o ataque ao RALIS com a coragem própria de um militar a quem se deve o controlo do Forte de Peniche e a ocupação do quartel alvejado pelas forças contra-revolucionárias às ordens de Spínola.

Manuel Duran Clemente (segundo-comandante da Escola Prática de Administração Militar), outro dos Capitães de Abril, teve também um papel fundamental nesse 11 de Março de 1975. Aos microfones da então Emissora Nacional (EN), avisou “o país do que se estava a passar”. E alertou para a necessidade de “se obedecer apenas ao primeiro-ministro Vasco Gonçalves e ao Copcon” ou Comando Operacional do Continente.

A imagem do capitão Manuel Duran Clemente, no pequeno ecrã, foi a última que se gravou, da revolução, na memória do público. (© RTP)

O alerta de Duran Clemente valeu-lhe um louvor de Francisco da Costa Gomes (1914-2001), então chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA): “A informação ao País difundida pela 5.ª Divisão do EMGFA através dos microfones da EN, a partir das 13h15 do dia 11 de Março de 1975, constituiu intervenção oportuna – em grande parte decisiva – na rápida neutralização do golpe contra-revolucionário, designadamente na tranquilização do estado de espírito das populações. Nesta conformidade é louvado e também cada um dos restantes seus membros da equipa de radiofusão da 5.ª divisão do EMGFA, Capitão do SAM, Manuel António Duran dos Santos Clemente”.

Os vencedores de Novembro nunca perdoaram a Dinis de Almeida nem a Duran Clemente a fidelidade aos ideais de Abril.

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Notas:

1 – Dinis de Almeida deixou-nos em 2021, vitimado pela covid-19.

Marcelino da Mata.
(observador.pt)

2 – Marcelino da Mata (1940-2021), natural da Guiné, serviu o exército colonial português e, seguindo a Wikipédia, recordamos que foi um dos fundadores e principais operacionais dos Comandos. Participou em 2412 operações militares, durante 11 anos na Guerra Colonial, no teatro militar da Guiné, tendo sido o militar mais condecorado da história do Exército Português, com a maioria das condecorações a deverem-se a feitos heróicos em campanha. Entre as suas principais condecorações contam-se a Ordem Militar da Torre e Espada e cinco Cruzes de Guerra. Após a Guerra de Independência da Guiné-Bissau, foi proibido de entrar na sua terra natal. A sua morte foi também ditada pela covid-19.

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13/03/2023

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Soares Novais

Porto (1954). Autor, editor, jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP). Publicou o romance “Português Suave” e o livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”. É um dos autores portugueses com obra publicada na colecção “Livro na Rua”, que é editada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Tem textos publicados no "Resistir.info" e em diversos sítios electrónicos da América Latina e do País Basco. É autor da coluna semanal “Sinais de Fogo” no blogue “A Viagem dos Argonautas”. Assina a crónica “Farpas e Cafunés”, na revista digital brasileira “Nós Fora dos Eixos”.

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