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Nota da Redacção:

“Cartoon” retirado da Bienal Internacional de Arte de Gaia

A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia anunciou, no dia 18 de Abril, que o cartoonista Onofre Varela decidiu retirar este “cartoon” exposto na Bienal Internacional de Arte de Gaia, na sequência de críticas da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL), como divulga a agência Lusa.

Na manhã dessa terça-feira, a autarquia gaiense publica, na sua página oficial do Facebook, uma carta dirigida ao presidente da edilidade, o socialista Eduardo Vítor Rodrigues, em que a CIL considera que o referido “cartoon” de Onofre Varela “banaliza o Holocausto cometido pelo regime nazi e diaboliza os judeus na sua relação com a Palestina”, acrescentando que a “Estrela de David sobreposta no coração de uma imagem desenhada de Hitler é uma ofensa grave e indecorosa”.

Na mesma carta dirigida ao autarca de Vila Nova de Gaia, a Comunidade Israelita de Lisboa manifesta ser contra a censura, mas alega que “o direito de livre expressão deve e pode ser travado quando estimula o ódio e a intolerância”.

Para a CIL, esta imagem da autoria de Onofre Varela “é ultrajante e menoriza o horror e a tragédia do Holocausto”. Na óptica da Comunidade Israelita de Lisboa, Hitler não tratou os Judeus com “desrespeito” como regista o texto do “cartoon”, mas “com um extermínio em massa e com uma desumanidade sem limites”.

Na tarde de 18 de Abril, a Câmara Municipal gaiense reitera, na mesma nota enviada à Lusa, que “apoia todas as instituições e iniciativas de relevante interesse municipal, sem exercer qualquer tipo de interferência na sua gestão e organização”. Todavia, o executivo camarário argumenta que, no caso da Bienal de Arte de Gaia, a preparação do evento e a escolha dos artistas, assim como das respectivas obras, são “da responsabilidade exclusiva da curadoria e da entidade organizadora – Cooperativa Cultural Artistas de Gaia”.

Nessa perspectiva, a mesma nota dirigida à Lusa esclarece: “Jamais o município põe em causa a liberdade de expressão. Independentemente disso, entende-se que quando se ferem susce[p]tibilidades num tempo em que a tolerância é um valor fundamental, devem ser tomadas opções. Por isso, constatamos com total agrado a decisão de retirada, pelo artista, do ‘cartoon’ em causa, desta forma evidenciando a sua sensibilidade ao assunto.”

Dois dias depois, o jornal Observador reproduz as declarações de Onofre Varela à Lusa, o qual, ao ser acusado de desenhar um “cartoon” qualificado de antissemita pela Comunidade Israelita de Lisboa, expressou que o modo como Israel trata cidadãos da Palestina também é de repúdio.

Conforme divulga a agência noticiosa, o cartoonista refutou as acusações de antissemitismo proferidas pela CIL, frisando que decidiu retirar o “cartoon” – que agora publicamos no sinalAberto – da Bienal de Arte de Gaia “para não ferir susce[p]tibilidades tão melindrosas”.

Por outro lado, numa publicação na sua página social Facebook, o artista esclarece que este “cartoon” tem por base “dois factos históricos – Hitler maltratou Judeus e Israel maltrata Palestinianos”. “Dizer que esta minha apreciação crítica é uma atitude antissemita é confundir uma cebola com um pêssego!”, ironiza Onofre Varela, prosseguindo no mesmo tom mordaz: “Nesse sentido, alerto quem se escandalizou com o meu desenho para que nunca use cebola numa salada de frutas, nem pêssego num estrugido. O resultado seria intragável, como intragável é o fundamentalismo de quem apelida de ‘antissemita’ quem não diz ámen consigo”.

Em consequência disso, Onofre Varela reitera que “para não ferir susceptibilidades tão melindrosas com a obra em questão”, e depois de conversar com os responsáveis da mostra, decidiu retirá-la (mantendo as outras 19) da 5.a Bienal Internacional de Arte de Gaia, que teve início a 8 de Abril e pode ser visitada até 8 de Julho. “Talvez assim ajude a construir a Paz naquela região… mas não me parece!… Nem, tão-pouco, vou consegui-la aqui, neste post”, escreve Varela.

O cartoonista, que colabora igualmente no jornal digital sinalAberto, manifesta que, da sua parte, “a memória dos judeus vitimados pelos assassinos nazis merece toda a dor, todo o respeito e toda a consideração”. “Obviamente que repudio o genocídio perpetrado por Hitler, o qual escreveu páginas negras e vergonhosas na História da Humanidade. O modo como Israel trata os cidadãos da Palestina, desde a invasão do seu território em 1967, também merece, de mim, idêntico repúdio”, sustenta o cartoonista, denunciando ainda que, “mercê da visibilidade” do seu trabalho na Bienal Internacional de Gaia, já foi insultado por activistas judeus, na sua página do Facebook, notando que “será gente que não representará a Comunidade”.

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Aceda, ainda, às declarações de Onofre Varela à TVI:

https://tviplayer.iol.pt/programa/tvi-jornal/63ef5eb50cf2665294d5f87a/video/643ffb6e0cf2dce741b55724

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24/04/2023

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Onofre Varela

Onofre Varela nasceu no Porto em 1944, estudou pintura e exerceu a atividade de desenhador gráfico no domínio da litografia e em agências de publicidade, antes de abraçar a carreira de jornalista (no âmbito do «cartoon»), em 1970, no jornal O Primeiro de Janeiro. Colaborou com a RTP, desenhando em direto a informação meteorológica no programa "Às Dez" e animando espaços infantis. Foi caricaturista e ilustrador principal no Jornal de Notícias, onde também escreveu artigos de opinião, crónicas e entrevistas. Premiado em Portugal e no estrangeiro nas áreas da caricatura e da criação de logótipos, expôs os seus trabalhos satíricos em Portugal, na Espanha, em França, na Turquia, em Macau e no Brasil. Publicou "O Peter Pan não existe" (pela Caminho, em 2007) e é coautor de "Cinco Enterros do João" (pela Arca das Letras, em 2006). Onofre Varela é uma das personalidades mais conhecidas da região do Porto.

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