Querido mestre Adolfo Gutkin,

Escrevo-te este postal sabendo já, pela tua neta Yara Gutkin, que estás bem apesar das circunstâncias deste tempo de pandemia. A Yara foi muito simpática e respondeu-me, na hora, ao email que lhe enviei a perguntar por ti. Talvez até sem saber que somos velhos amigos e, além do mais, sem qualquer obrigação de responder, seja o que for, a um desconhecido, mesmo que ele se apresente como jornalista.

Ela não saberá mas tu, para mim, és um grande amigo e foste um dos meus mais queridos mestres. Aprendi contigo coisas tão lindas quem nem ela, com toda a sensibilidade de artista, imaginará.. Lembro-me, por exemplo, de me ter comovido até às lágrimas quando te vi em Sitges, nos idos de 1982, numa sala forrada a ouro, apresentar, na velha tradição da Comédia, um dos primeiros concertos do teu filho Carlos, o pai da Yara  – “eu que estou velho, cansado e já sem arte para continuar a fazer-vos rir, venho aqui, na velha tradição da Comédia, pedir a vossa benevolência para este menino, para este meu filho”, disseste antecipando o êxito do concerto de guitarra clássica do Carlitos.

Ainda há dias, recuperei esta memória para um canhenho de recortes que estou a escrever com o apoio de um dos filhos. Daí esta lembrança e este postal ilustrado com um fragmento das tuas “Histórias de Zé e Maria”, um trabalho colectivo que orientaste no Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra e que foi, para mim e para mais gente, outra grande lição.

Fica bem com este abraço fraternal do

Júlio Roldão

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Júlio Roldão

É jornalista desde 1977. Nasceu no Porto, em 1953, e estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e pelo Círculo de Artes Plásticas (CAPC), tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.

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