Meu caro Marco Grieco,

Acabei de ler um dos teus expressos curtos e lembrei-me de te enviar um dos meus postais. Há vinte anos, quando era, lá no Jornal de Noticias, “Editor do Mundo” (com cartão de visita impresso e tudo) pude sempre contar contigo nos momentos mais apertados daquela editoria.

Apanhamos, como te lembras, o 11 de Setembro, e o Mundo, que normalmente apenas tinha duas páginas diárias e com publicidade, passou a ocupar um espaço diário dez vezes superior. Não sei se foi fácil ou difícil criar o Mundo, mas editá-lo, no último trimestre de 2001, foi obra desenganada.

O 11 de Setembro foi o tema em destaque no jornal, dias e dias a fio, e em muitos desses dias pouco havia de novo a acrescentar ao que já tinha sido publicado. Nessas ocasiões, eu pedia-te que desenhasses as páginas com imagens rasgadas e outros truques de paginação, para que os artistas da pena pudessem escrever menos. Cumplicidades que ficam para a vida.

Numa dessas ocasiões transformaste uma página do JN num autêntico tapete persa e deixaste-me um retângulo no centro para um texto que eu escrevi falando de Alhambra e de outros lugares que unem a Humanidade. Cheguei a fazer, com essa página, um quadro que, entretanto, já desfiz para aproveitar a moldura – uma página recortada que andará, lá por casa, meio perdida.

Como te recordas, depois tiraram-me do Mundo e emprateleiraram-me na editoria das “Publicações Especiais” onde continuei a contar com o teu apoio. Um dia destes talvez possamos ir beber um copo e pôr estas memórias em dia.

Fica bem com este abraço do

Júlio Roldão

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Júlio Roldão

É jornalista desde 1977. Nasceu no Porto, em 1953, e estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e pelo Círculo de Artes Plásticas (CAPC), tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.

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