Caro Alfredo Maia,
Quando Alcides de Campos assinava as “crónicas parisienses” na revista Vértice, agigantando-se como se fosse um Fernão Lopes da “rive gauche”, eu ainda não me sonhava jornalista nem que viria a conhecê-lo, pessoalmente, quando ele colaborava na Embaixada de Portugal em Paris, no n.º 3 da rue de Noisiel.
Isto aconteceu em Setembro de 1988, numa recepção oferecida pelo embaixador Gaspar da Silva em honra do presidente Mário Soares que se deslocara a Paris numa “rentrée” tão especial que contemplou a inauguração, no Grand Palais, de uma exposição da pintora Maria Helena Vieira da Silva. A esta inauguração, que testemunhei como jornalista e foi guiada pela própria pintora, compareceram também o presidente francês François Mitterrand, os ministros franceses Jack Lang e Roland Dumas, o casal Azeredo e Madalena Perdigão (da Gulbenkian), os embaixadores Gaspar da Silva e José Augusto Seabra e, se a memória não me falha, Eduardo Prado Coelho.
Eu fiquei hospedado no mesmo hotel da rua de Saint Honoré, o Hotel de France et Choiseul, onde Franklin D. Roosevelt e Eleanor passaram a lua-de-mel e foi lá que me comovi, até às lágrimas, a ver, em directo, pela televisão, a Rosa Mota ganhar a medalha de ouro da Maratona feminina dos Jogos Olímpicos de Seoul. – “C’est la portugaise”, gritava, rendido, o nosso camarada da televisão francesa, num tom de voz que não disfarçava a simpatia pela nossa Rosinha.
Nesse ano e nesse mês, também vi a deslumbrante Isabelle Hupert, acabada de chegar de Veneza onde ganhara o prémio de interpretação feminina pelo papel de Marie Bouchon no filme “Une affaire de femme”, de Claude Chabrol. Ela foi uma das grandes estrelas do jantar que Jack Lang, nessa “rentrée” de Setembro de 1988, ofereceu a Mário Soares.
Quando estamos a chegar a Setembro, que era ou é o tradicional mês das “rentrées”, lembro-me sempre, com alguma nostalgia, própria de quem está a envelhecer, dessa reportagem em Paris. A esta distância, e sabendo que a tradição já não é o que era, só posso desejar-te, a ti que continuas na linha da frente do jornalismo, um bom regresso ao mês de Setembro que chega já amanhã.
Boa “rentrée” e até breve.
Júlio Roldão