Meu querido Augusto Baptista,
Há dias, perguntaram-me se eu conhecia algum Capitão de Abril. Eu disse que sim e estava a pensar em ti que és um dos capitães de Abril, à data colocado em Luanda. Não fazes parte do pequeno grupo de operacionais que a comunicação social tornou famosos, mas és, de facto e de direito, um Capitão de Abril, nome pelo qual ficaram conhecidos os militares do Movimento das Forças Armadas (MFA) que derrubaram a ditadura do chamado Estado Novo, em Abril de 1974.
Um Capitão de Abril mesmo depois de teres regressado à tua vida civil, onde há muito te afirmaste como jornalista da palavra e da imagem, como escritor, como ilustrador e como estudioso de tradições populares, nomeadamente daquelas que se traduzem em manifestações de matriz teatral. Entre outras paixões multifacetadas.
Em Junho de ano passado, quando participei, no Teatro da Cerca, em Coimbra, numa tertúlia em torno do espectáculo que o nosso comum amigo António Augusto Barros encenou, com a companhia Escola da Noite, à volta da tua obra escrita e da tua obra gráfica, em Junho do ano passado já disse isto mesmo, por outras palavras, e até lembrei as nossas cumplicidades políticas, profissionais e sociais de anos.
Mas hoje quero reafirmar, neste palco virtual, que poucos escrevem bem como tu escreves, que poucos desenham bem como tu desenhas, que poucos fotografam bem como tu fotografas e sempre com aquela discrição absoluta própria dos sábios. Em Junho do ano passado, cheguei a dizer que encarnas a figura do sábio da Renascença.
Graças a ti, como julgo que já te disse, graças ao teu contagiante gosto pelo Tangram, a fase de confinamento obrigatório a que a pandemia em curso já nos obrigou foi mais fácil de suportar. Razão acrescida para te escrever este postal que, sublinho, aproveita uma fotografia tua, da cidade do Porto onde vivemos, fotografia que tenho, em destaque, numa das paredes da minha casa.
E pronto. Ponto. Meu Capitão de Abril. Às vezes, enviamos um postal só para celebrar a amizade.
Eu, pelo menos, às vezes faço isso.
O teu amigo,
Júlio Roldão