Exma. Senhora Ministra da Saúde, Dra. Marta Temido,
Embora tenhamos vários bons amigos em comum, a verdade é que só em nome da liberdade de Imprensa posso permitir-me a este atrevimento de lhe enviar um postal, um postal aberto e com esta falsa familiaridade insinuada – os tempos estranhos que vivemos permitem também atitudes estranhas como esta.
Sou um velho jornalista (com carteira profissional válida) e um utente do Serviço Nacional de Saúde que olha para Vossa Excelência com admiração, atitude que, a meu ver, não colide com os meus deveres profissionais, nem mesmo quando resolvo tornar pública essa admiração.
Como jornalista, já fui responsável pelo noticiário relativo à Saúde num jornal nacional, à data considerado um jornal “popular e de qualidade”, adoptando como critério editorial dessa secção a necessidade de uma informação que contribuísse, numa primeira linha, para uma efectiva Educação para a Saúde.
A frase do Professor Doutor Abel Salazar – “O médico que só sabe Medicina nem Medicina sabe” – gravada na entrada do instituto de ciências biomédicas que tem o nome deste sábio da Renascença traduz, na minha modesta opinião, essa visão integral do indivíduo e a compreensão de cada momento da caminhada de Humanidade tão necessárias em tempos como o que vivemos.
Com serenidade, às vezes sob fogo cerrado, dos inimigos e até dos amigos, Vossa Excelência tem sabido dosear o capital de esperança que a generalidade dos portugueses esperam por parte das autoridades como terapêutica mínima garantida contra as tentações do desespero e do medo.
É isto que eu quero agradecer-lhe, sem qualquer sombra de pecado, enviando-lhe este postal ilustrado com um fragmento de um recorte de um jornal italiano sobre o qual tracei alguns rabiscos toscos enquanto pensava no que suportarão, no futuro, os meus filhos e os meus netos, em especial o mais novo, nascido no Norte de Itália em plena pandemia.
Respeitosamente e com admiração,
Júlio Roldão