Meu caro Nicolau Santos
Em Novembro de 2018, respondendo a um convite de Isabel Augusto para colaborar numa publicação da Green Media, escrevi um texto onde comecei por citar a intervenção que o Nicolau Santos proferiu no VI Encontro de Gerações do Jornal de Notícias (JN), quando referiu, com grande oportunidade, que as chamadas notícias falsas (fake news), sendo falsas, não são notícias.
Isabel Augusto, directora geral da Green Media, uma agência de comunicação e imagem que está a celebrar 16 anos, é, como saberá, alguém a quem, pela empatia que gera, dificilmente dizemos não. Se calhar, este é o segredo do sucesso da própria Green Media, uma empresa que lida muito de perto com jornalistas e que, num aniversário anterior, encomendou à Adega de Palmela uma edição especial de um vinho, de um bom tinto, cujo rótulo homenageia precisamente os jornalistas.
Jornalistas quase anónimos, como é o meu caso, e jornalistas famosos, como é o caso do Nicolau Santos que já pertenceu à direcção do Expresso (onde publicava poesia na primeira página do caderno de Economia), é presidente do Conselho de Administração da Agência Lusa e prepara-se para ser presidente do Conselho de administração da RTP. Sobre o desafio que vai enfrentar, disse-me um dia Freitas Cruz, um nome do nosso JN que também foi presidente da RTP, que este lugar tem mais peso do que um táxi cheio de ministros.
Eu que sempre tive muita consideração por Freitas Cruz, apesar de algumas divergências conhecidas, não sei se o lugar de presidente do Conselho de Administração da RTP continua a ter um peso maior do que o de um táxi carregadinho de ministros, mesmo considerando que terá sido em 2020, a marca televisiva portuguesa de confiança dos portugueses como, há dias, a própria estação de televisão, num auto-elogio, amplamente divulgou.
Intrigado com a notícia, pelos vistos inalterável nos últimos anos, fui indagar como foi atribuído esse galardão e descobri que tal título resultou de um inquérito realizado pela revista Selecções do Readers aos seus doze mil assinantes, “ficha técnica” dos prémios que o jornalista José Rodrigues dos Santos, também considerado personalidade do ano em duas categorias (informação e literatura), não referiu.
Sem querer entrar em considerações sobre o universo do inquérito que atribui os títulos de marcas de confiança ou de personalidades do ano, a meu ver bastante pequeno para a dimensão mediática dos prémios, termino com uma dúvida que me assaltou – será que aquela insistência na notícia das marcas e das personalidades do ano está relacionada com a chegada do Nicolau Santos à presidência da RTP?
Eu não quero acreditar mas já me disseram que são marcas de um recado prévio. Serão?
Um abraço fraternal
Júlio Roldão