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Querido Eugénio Alves
Há muito que defendo a utilidade de elaborar, com regularidade, uma tabela periódica dos jantares e ou de outros encontros entre amigos que gostaríamos de perpetuar. Actualizar essa lista é um óptimo exercício e o nosso jantar de ontem, na portuense Rua do Bonjardim, um jantar não programado que aconteceu por força das circunstâncias, entraria na próxima tabela revista.
Claro que é preciso referir que vinho foi servido. Ontem, por exemplo, bebeu-se a seiscentésima sexagésima sexta garrafa de uma edição limitada de 1.050 garrafas de um Malbec de 2017 – “Dedicado” – produzida por Finca Flichman em Mendoza, Argentina. Microterroir Sand e Silt, acrescente-se. Sem esquecer guardar o rótulo pois, num caso assim, é mesmo um rótulo de um vinho bebido com os amigos.
Eu gosto muito de tabelas periódicas. Tenho a dos espectáculos a que assisti que mais me marcaram. Tenho dos livros que também mais impacto exerceram sobre mim e até tenho uma tabela com pessoas que jamais convidaria para jantar, tabela que inclui pelo menos um presidente e um ex presidente estrangeiros. Volta e meia elaboro uma tabela periódica que invento. O exercício de as inventar e preencher é muito, mas mesmo muito interessante.
À primeira vista parece fácil escolher doze pessoas que jamais convidaremos para jantar. Parece mas não é. O problema é chegar à décima segunda pessoa e perceber que ainda há mais gente que poderia figurar na lista… como a tabela tem um número previamente acordado de elementos, quando chegamos aos doze se queremos contemplar temos de retirar alguém que já tínhamos incluído no Index…
E o contrário não é mais fácil. Substituir um dos doze livros que mais nos influenciaram exige alguma reflexão. Escolher doze jantares entre amigos também não será tarefa fácil principalmente quando ao actualizarmos a lista com o último somos obrigados a tirar um que já lá estaria… E seleccionar o que veio à memória nesse memorável jantar? Ontem, por exemplo, falamos do primeiro congresso dos jornalistas portugueses, a que eu já assisti e que estiveste ligado com tarefas organizativas. E da maravilha daquele cartaz e do slogan – Expressão de Liberdade Liberdade de Expressão. Foi na Gulbenkian em 1983. Uma festa cheia de pontes.
Ontem também falamos de Machu Picchu a cidade perdida dos Incas, no Peru, onde já foste e eu não. Onde foste com aquele nosso amigo em comum, aquele grande amigo que está sempre a proclamar que a “amizade é um posto”. Ele sabe, como nós, que assim é – um posto elevado e cheio de estrelas. Às vezes basta uma frase batida para percebermos o lado que nos une – “aguenta o meio campo”. É que às vezes basta aguentar o meio campo.
Claro que sim. Vacinadíssimos com duas doses, certificado digital, dois anos de prec, muitos mais de circo, também de Coimbra, filhos, netos, alguma hipocondria e esta vontade de viver, “malgré tout”, como diria um galego que soubesse falar Francês. O Assis Pacheco, por exemplo, de quem também falamos ontem, para citar mais um que ainda está vivo.
Aquele abraço.
Júlio Roldão