Querida Renate Reinsve,

Roubei uma fotografia – uma magnífica fotografia sua apanhada por Massimo Leardini para a revista D, suplemento das edições de sábado do jornal italiano la Repubblica – para lhe enviar este postal. O que eu não faço pelos meus amigos.

A Renate não é minha amiga mas eu sim, eu sou seu amigo e desconfio que vou ficar seu grande admirador quando a vir interpretar o papel de Julie no filme de Joachim Trier “The Worst Person on The World” (A pior pessoa do Mundo).

Como se lê na capa da revista D de sábado passado, com a interpretação da “pior pessoa do Mundo” a Renate tornou-se, aos 33 anos, a melhor actriz do Festival de Cannes deste ano de 2021.

Uma das suas colegas de ofício que igualmente muito admiro, Isabelle Huppert, também ganhou muito nova o prémio para a melhor interpretação feminina do Festival de Cannes, no filme “Violette Nozière”. E talvez este prémio a tenha empurrado um pouco para o notável percurso profissional que se lhe reconhece.

Mas o mais importante é o retrato dessa sua geração, que é também, tanto quanto consigo deduzir, o de Julie. Uma geração que chega aos trinta anos sem descobrir um rumo… Não é coisa exclusiva dos países do Norte da Europa, como a Noruega onde a Renate nasceu em 1987.

Isso garanto eu, baby boomer, com dois dos quatro filhos da geração Y, que é a sua e muito provavelmente também a de Julie. Gente que demora a encontrar-se e a encontrar o equilíbrio que todos, ou quase todos, consciente ou inconscientemente, procuram.

As incertezas do tempo em que vivemos não ajudam nada. Contrariedades a que, em alguns casos, deve-se juntar a excessiva protecção que alguns baby boomers privilegiados foram dando aos filhos. Nomeadamente aos filhos da geração Y.

Por tudo isto, minha querida Renate Reinsve, essa sua premiada interpretação da pior pessoa do Mundo é filme a não perder. O cinema, o bom cinema, também serve para levantar questões que tocam a muitos, como Cannes tantas vezes e tão bem costuma sublinhar.

Espero vê-la muito em breve. Com legendas em Português. Obrigado por ter ficado famosa assim.

Seu admirador,

Júlio Roldão

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Júlio Roldão

É jornalista desde 1977. Nasceu no Porto, em 1953, e estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e pelo Círculo de Artes Plásticas (CAPC), tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.

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