Caro arquitecto,

Quando estou em Itália, o que acontece com alguma frequência (Itália é, depois de Portugal, o país onde passo mais tempo e mais tempo seguido), não dispenso a leitura de jornais, editados em papel, e um deles é o “la Repubblica” em parte por causa do senhor arquitecto.

O seu “preguiçoso”, aquela vinheta quase diária com esse herói sempre deitado numa rede semelhante às redes que se prendem entre duas árvores, também faz vender o “la Repubblica”, mesmo sabendo-se que o “preguiçoso” mexe-se pouco.

Sempre de papo para o ar, seja a escrever, seja a fingir que está a escrever, seja a amarfanhar folhas de papel para as lançar num imaginário cesto de papéis ou seja a lançar aviões de papel no espaço, o seu “preguiçoso” mexe comigo.

Sem ofensa, parece um sem abrigo que se alojou no “la Repubblica”, um sem abrigo de estimação a quem nos afeiçoamos e de quem sentimos falta quando não aparece. Claro que também gosto do “la Repubblica” pelo facto do jornal ter este nome em homenagem ao jornal português homónimo, infelizmente já desaparecido.

Eu, jornalista português encartado, gosto de jornais em papel. Mesmo de jornais escritos em línguas que não consigo ler. Não é o caso do Italiano que já vou arranhando, o que pouco importa pois a linguagem da ilustração muitas vezes dispensa palavras. Veja-se o “preguiçoso”, ou seja aquela sua vinheta que sai no “la Repubblica” e que eu baptizei de “preguiçoso”. Baptizei e copiei numa página do próprio jornal com esta invejosa ousadia que apenas esconde admiração pelo seu trabalho como ilustrador.

Seu fiel leitor,

Júlio Roldão

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Júlio Roldão

É jornalista desde 1977. Nasceu no Porto, em 1953, e estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e pelo Círculo de Artes Plásticas (CAPC), tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.

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