Querida Carmo Rodeia,

Eis-nos aqui, nos Açores. Já lá vão vinte e dois anos. Neste feliz instantâneo do arquivo fotográfico do sítio da Presidência. No centro Jorge Sampaio. E o juiz conselheiro e Ministro da República na Região dos Açores Alberto Sampaio da Nóvoa. Tu, ainda jornalista, mostras bem que o Sol brilhava. De colete esverdeado, de bigode e suspensórios também fiquei no retrato.

Há muitas fotografias da visita aos Açores do presidente Sampaio. Eu só tive acesso a esta apesar desta viagem ter sido uma das melhores que cumpri como repórter. Foi um privilégio ter sido destacado para este serviço.

Voltando á fotografia. Foi tirada onde? O arquivo fotográfico desconhece. Terá sido no Faial? Fomos a todas as ilhas reportar essa visita do presidente Sampaio. Às nove ilhas dos Açores, incluindo Corvo e Flores. Começamos na Terceira se a memória não me falha.

Já lá vão vinte e dois anos. Tanto tempo sem lembrar essa reportagem… Chegou-se a falar num jantar convívio entre os jornalistas que foram nessa viagem… Às tantas foi festa que me escapou. Era o único do Porto. Não regressei por Lisboa. Voei para Santiago de Compostela, muito mais perto do Porto.

Voltando à viagem. Lembras-te do Corvo? Chegamos lá antes do presidente. Vimos a chegada dele. Chegou lá de barco.

O dr. José Barrias estava na ilha. Para uma palestra sobre alcoolismo. À data José Barrias, psiquiatra de mérito, era colaborador do “meu” Jornal de Notícias. Foi ao lado dele que ingeri o primeiro “nitromint”, 0,00 não sei quantas miligramas de nitroglicerina, em SOS, para dores cardiotorácicas. Emocionei-me a ver Jorge Sampaio a chegar ao Corvo, aquela ilha pequenina, com uma população a rondar 400 pessoas que nessa noite jantaram todas, na praça principal, com o presidente.

Não te lembrarás do meu “Diário de Bombordo”, conjunto de crónicas que escrevi e publiquei a par da reportagem. Cheguei a pensar reescrevê-las e publicá-las autonomamente mas nunca concretizei essa vontade. Há dois anos, publiquei um livrinho, em forma de harmónio japonês, com ISBN depósito legal e tudo, que é uma homenagem a esses “Povos lavradores // com alma de baleeiros // tementes do mar” como nele escrevo. 

Mesmo sendo uma edição limitada, só para oferta, ou talvez por ser uma edição limitada, devia ter enviado um exemplar deste “No Primeiro Fogo” ao dr. Jorge Sampaio. Estou certo que ele teria gostado.

Fico-me por aqui.

Um beijinho do 

Júlio Roldão.

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Júlio Roldão

É jornalista desde 1977. Nasceu no Porto, em 1953, e estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e pelo Círculo de Artes Plásticas (CAPC), tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.

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