Caro Mister Jorge Braz,

Escrevo-lhe este postal antes de saber o resultado da final do Campeonato do Mundo de Futsal que ontem opôs a selecção da Argentina à selecção de Portugal que o mister escolheu e treina.

Independentemente do resultado, que, nacionalismos à parte, espero venha a ser favorável a Portugal e será já conhecido quando este postal estiver disponível no sítio do nosso SinalAberto, independentemente do resultado, a selecção portuguesa merece grande aplauso.

Ontem quando, ao acordar, fui conferir as notícias que tinham caído no meu telemóvel, fiquei logo mal disposto quando li que o Çaraiva (eu, às vezes, escrevo este nome com cê cedilhado) já começou a gritar contra o aumento do salário mínimo nacional.

A argumentação deste designado patrão dos patrões, que já foi empregado, é que os ainda só prometidos 750 euros por mês são um exagero a combater neste contexto da ressaca pandémica – é bem verdade que não devemos servir a quem já serviu. 

Ninguém merece ler, ao acordar, uma notícia destas. Mais a mais ainda mal refeitos do caso do banqueiro que anda acossado e a monte para fugir a uma pena de prisão que já transitou em julgado…

Ontem, valeu-me o futsal. Até à hora da final e independentemente do resultado. É que já joguei futebol de salão. Mal, mas joguei. Em tempos, houve o hábito de organizar campeonatos informais de equipas constituídas por profissionais dos mesmos ofícios e eu cheguei a entrar numa.

Com equipas de jornalistas, de bancários (bancários, não banqueiros), de polícias, de professores, de ferroviários, de músicos… Julgo que os patrões, inteligentemente, nunca tentaram constituir equipa própria… Os desafios em que entrassem seriam muito desinteressantes. Quiçá até pouco éticos.

Ao contrário, quase garanto, do jogo de ontem. Citando a opinião do mister quando disse que o Argentina-Portugal iria ser uma grande final. Quando o Jorge Braz disse, se me recordo ao JN, que o seleccionador argentino foi dos jogadores mais elegantes que já viu jogar e que a Selecção da Argentina incorpora essa elegância, sem deixar de ser competitiva.

Até Jorge Luís Borges, seu homónimo e escritor argentino muito crítico do futebol, ficaria rendido ao futebol de salão pudesse ele ter assistido ao jogo de ontem… Não deixa de ser um desporto de bola onde é proibido utilizar as mãos, com a única excepção dos guarda-redes… Mas é um jogo onde, em 30 segundos, é possível reverter um resultado… Só isto…

Muitos parabéns para si e para toda a Selecção Portuguesa de Futsal. Só o ter feito com que esquecesse o Çaraiva, o fugitivo que anda a monte e outros… Só isto…

Inesperadamente,

Júlio Roldão

04/10/2021

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Júlio Roldão

É jornalista desde 1977. Nasceu no Porto, em 1953, e estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e pelo Círculo de Artes Plásticas (CAPC), tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.

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