Querida Elisa,

Marisa Liz, a vocalista dos Amor Electro que integra o júri do concurso “The Voice Portugal”, ao dizer a um jovem fadista que ele está no bom caminho quando saboreia cada palavra do poema que canta, Marisa Liz ajudou-me a descobrir como iniciar este postal que hoje te envio.

Não sei se saberei saborear cada uma e todas as palavras que aqui venha a escrever, mas sei que este postal é o registo de uma celebração, a celebração da amizade e da vida. Daí a escolha da ilustração do próprio postal – o rótulo do vinho que ontem bebemos, rótulo de uma garrafa que tu escolheste para me oferecer e que ficou a aguardar esta ocasião.

Trata-se de um vinho espumante, um bruto natural Bairrada DOC, produzido pelo método clássico em 2015 com as castas Pinot-Noir e Chardonnay, as preferidas do vitivinicultor Luiz Costa que lhe dá o nome. Não sendo um conhecedor dos segredos da vitivinicultura e da enologia, sei quando gosto ou não gosto de um vinho e sei que gostei deste.

Mas também sei que os vinhos só sabem verdadeiramente bem quando são bebidos com os amigos. Nestas ocasiões, são bebidos como quem saboreia todas as palavras do poema de um fado. Sobre este segredo até já escrevi um haiku, uma daquelas formas poéticas japonesas de três versos – Rótulos de vinhos // bebidos com os amigos // e outros poemas.

Ontem bebemos uma 4.ª edição de Luiz Costa, cujo rótulo, devida e plasticamente trabalhado, é hoje a ilustração deste postal que te envio a celebrar a amizade, a vida e cada uma e todas as palavras já ditas ou até ainda por dizer. 

Como sabes, tenho esta mania de arrancar os rótulos dos vinhos que bebo com os amigos e de os colar num papel aquarelável onde, depois, desenho o contorno de uma garrafa numa linha que suporta o nome de quem os bebeu, quando e onde. Já tenho algumas dezenas de postais assim criados. Postais de rótulos de vinhos bebidos com amigos nos locais mais diversos.

Escolho o amarelo para pintar o vinho branco, um vermelho para os tintos e um azul quando também embotelho o céu. Esta receita é simples mas faz um figuraço. É quase uma “selfie” para memória futura, passe o estrangeirismo. Imagino que tivesses bebido algum vinho com amigos quando andaste por Timor a ensinar Português a futuros professores de Português. Se tivesses reciclado assim os rótulos dessas garrafas, tinhas mais um belo álbum timorense – um álbum “diVino”.

E pronto. Um dia destes temos de voltar a beber um vinho. É um bom pretexto para celebrar a vida, a amizade e o mais que se pretenda “diVino”. 

Até breve.

Teu Júlio Roldão

15/11/2021

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Júlio Roldão

É jornalista desde 1977. Nasceu no Porto, em 1953, e estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e pelo Círculo de Artes Plásticas (CAPC), tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.

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