Caro Henrique Borges,
Como já revelei, por sinal num postal também publicado neste sinalAberto, alguém que disse ser colaboradora de Annie Leibovitz telefonou-me, em tempos, a sugerir que eu manifestasse interesse em ser fotografado pela própria Leibovitz.
Só se fosse nu e forrado com páginas de jornais, num cenário idêntico ao que dona Annie criou para fotografar o pintor Keith Haring, pensei de imediato, lembrando esse famoso retrato de Keith Haring, tão famoso como o de John Lennon, todo nu, agarrado a Yoko Ono, instantâneo também assinado por dona Annie Leibovitz.
Apesar de lisonjeado, recusei a sugestão, sem esquecer agradecer à senhora que me telefonou como quem angaria modelos fotográficos. Mas, com todo o respeito que dona Annie Leibovitz me merece, eu tenho a sorte de poder contar com belos retratos de profissionais como o Augusto Baptista, o João Paulo Coutinho, o Manuel Correia ou o Pereira de Sousa; e também, o que conta e muito, com belos retratos captados por ti.
Assim de repente, o Augusto Baptista retratou-me no terraço da portuense torre do Jornal de Notícias (edifício que, em breve, vai acolher um hotel), o J. Paulo Coutinho apanhou-me na Redacção do JN com os meus suspensórios preferidos, o Manuel Correia captou-me ao portão da Cooperativa Clepsidra, num dia em que nevou em Coimbra, e o Pereira de Sousa é o autor na fotografia que escolhi para as minhas crónicas na “Cidade Aberta” do JN.
Todos belos retratos, como belos retratos são os que fazes aos teus amigos, em momentos de partilha colectiva, das manifestações às apresentações de livros e outros encontros. Até mesmo quando nos apanhas de máscara, como aconteceu há dias, na Unicepe, aquando da apresentação do mais recente livro de reflexão política do nosso comum amigo Domingos Lopes.
Retratar alguém de máscara é muito mais difícil, mas ainda há dias, numa Assembleia Geral da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, o nosso também comum amigo J. Sarabando, que não foi à apresentação do Domingos Lopes, disse ter-me reconhecido lá, pelas tuas fotografias, apesar da máscara, facto que até proporcionou uma conversa sobre o livro e tudo.
Retratar fotograficamente alguém com máscara é difícil mas desafiante. Tanto que me atrevi a fazer uma paráfrase do quadro “Rapariga com Brinco de Pérola”, de Johannes Vermeer, com a menina a usar máscara. É, aliás, a imagem dessa paráfrase que te envio transformada em postal. Paráfrase é como quem diz falsa paráfrase, pois a minha “Rapariga” é uma aguarela enquanto a do Vermeer é um óleo.
E pronto. Vou ficar por aqui. Sempre agradecido à tua amizade e sempre rendido ao teu talento para a fotografia. Fica-te bem como professor de Filosofia. E rima.
Aquele abraço,
Júlio Roldão
11/04/2022