A amiga Galp
A Galp pagou um milhão de euros a um seu funcionário por cinco dias de trabalho. A renumeração bruta beneficiou Carlos Costa Pina1, que, a 5 de Janeiro de 2022, apresentou a sua renúncia ao cargo de administrador da Galp Energia. Tal aconteceu depois de ter sido acusado pelo Ministério Público (MP) no processo relativo às parcerias público-privadas (PPP).
Costa Pina teve direito à segunda maior remuneração bruta na Galp. Apenas foi superado pelo ex-presidente executivo, Andy Brown, que auferiu 1,8 milhões de euros brutos.
Pina e Brown não foram os únicos a beneficiar das “mãos largas da amiga Galp”. O administrador operacional Thore Kristiansen teve direito a 930 mil euros, seguido do administrador financeiro Filipe Crisóstomo Silva2, com 632 mil euros brutos. A ex-administradora executiva Sofia Tenreiro também foi “brindada” com a uma compensação de 450 mil euros, enquanto Susana Quintana-Plaza recebeu quase 488 mil euros.
Os vencimentos pagos pela Galp à sua comissão executiva, somando os gestores que continuam e os que, entretanto, saíram, ascendeu a sete milhões de euros no ano passado, com destaque para 2,8 milhões de euros de remuneração fixa, 1,2 milhões de prémios relativos a 2021 e 2,3 milhões de outros pagamentos (incluindo as referidas compensações a ex-administradores), como noticia o Expresso. Tais “Euromilhões” espelham os 1104 milhões de euros de lucros da Galp, que a levaram a distribuir dividendos de 1165 milhões aos seus accionistas, com a dona Paula Amorim à cabeça. Pena é que o accionista Estado, com 7,6%, se cale perante tão descarados privilégios, que apenas dão “luz verde ao futuro” de alguns escolhidos…
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Notas:
1 – Carlos Costa Pina, além de membro do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da Galp (de 2012 a 2022), tinha sido secretário de Estado do Tesouro e das Finanças dos XVII e XVIII Governos Constitucionais (entre 2005 e 2011), liderados por José Sócrates. Em Dezembro de 2022, foi constituído arguido, juntamente com Paulo Campos, secretário de Estado das Obras Públicas, no âmbito do processo relativo às PPP rodoviárias. Costa Pina é acusado, pelo MP, de cinco crimes de participação económica em negócio, enquanto a Paulo Campos são apontados cinco crimes da mesma natureza. O processo tem um terceiro acusado, Rui Manteigas, ex-diretor da área de concessões da empresa Estradas de Portugal, a quem o MP aponta também cinco crimes de participação económica em negócio.
2 – Filipe Crisóstomo Silva sucedeu a Andy Brown na presidência executiva da petrolífera. Por agora, fica-se sem se saber quanto passou a ganhar o antigo director executivo (CEO) do Deutsche Bank em Portugal.
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10/04/2023