A eleição presidencial brasileira no exterior

Num domingo frio de outono canadiano, no dia 2 de Outubro, a cidade de Toronto amanheceu sob a sensação térmica de 5^o graus centígrados e um céu limpo de sol. Com uma hora a menos em relação ao horário de Brasília, as eleições presidenciais iniciaram-se às 8h00, com a duração de nove horas de votação.

Segundo o Consulado Geral do Brasil em Toronto, estima-se que, hoje, vivam aproximadamente 130 mil brasileiros no Canadá. Destes, certa de 90 mil residem na jurisdição a ser representada pelas províncias de Ontário, de Manitoba e do território de Nunavut, composto por um arquipélago do Ártico Canadiano. Entretanto, 17 mil eleitores estão registrados para votar na cidade, com 600 eleitores em Winnipeg, na província de Manitoba. É, aqui, observável uma população brasileira mais jovem do que adulta, entre 35 mil a 40 mil crianças e cerca de 22 mil mulheres e de 22 mil homens.

Foram 21 boletins de urnas eletrónicas em Toronto e dois boletins de urnas manuais. Na jurisdição do Consulado Geral do Brasil em Toronto (CGBT), Lula da Silva (do Partido dos Trabalhadores – PT) obteve a maioria dos votos, seguido de Jair Bolsonaro (do Partido Liberal – PL), de Simone Tebet (do Movimento Democrático Brasileiro – MDB) e de Ciro Gomes (do Partido Democrático Trabalhista – PDT). Os resumos das urnas estão disponíveis para consulta pública, no CGBT, até amanhã (7 de Outubro).

De acordo com o Consulado Geral de Toronto, a maioria dos brasileiros é proveniente dos estados de Minas Gerais, de São Paulo (capital e interior), de Espírito Santo, de Pernambuco e de outros estados situados na região do Nordeste e do Centro Oeste do país. Muitos encontram-se naturalizados como canadianos, embora as autoridades locais não divulguem o número exato de brasileiros com dupla cidadania, assim como também não avançam com o número real de brasileiros com passagem a turismo ou a negócios por jurisdição.

Assim, torna-se impreciso estabelecer o número de indocumentados. Refira-se que o Consulado Geral de Toronto calcula que seja cerca de 3% a 5% dos brasileiros, o equivalente a três mil indocumentados. Como informa o CGBT, os números para os não documentados cresceram ligeiramente, de 2021 para 2022, devido ao processo de re-emigração de brasileiros dos Estados Unidos para o Canadá.

Neste domingo (2 de Outubro), a comunidade brasileira apresentou-se para a votação referente à eleição presidencial de 2022, no Beanfield Centre Automotive Building, um centro de convenções escolhido para comportar a demanda de eleitores na jurisdição.

Muitos vestiram-se de vermelho para apresentarem o seu apoio ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (do Partido dos Trabalhadores – PT) e de verde e amarelo a apoiarem o candidato Jair Messias Bolsonaro (pelo Partido Liberal – PL).

Numa das votações mais acirradas desde 1989, com o término da ditadura militar, viu-se o ex-presidente Lula da Silva a ultrapassar o actual presidente Jair Bolsonaro, do PL, eleito em 2018. A partir da votação presidencial de 2018, o número de brasileiros com domicílio eleitoral no exterior aumentou em 39,21%, computando uma fuga de cérebros do país. Actualmente, são cerca de 697 mil os brasileiros documentados no exterior. O colégio eleitoral da America do Norte (Estados Unidos e Canadá) é conhecido por ser mais conservador e de direita, tendo votado a favor do Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018. Entretanto, a comunidade brasileira no exterior mobilizou-se em massa para esta eleição, votando em Lula com 47,17%, nas 181 cidades estrangeiras. Entre os eleitores no exterior, as mulheres representam a maioria, com 58,54%. Lisboa é a principal cidade com imigrantes brasileiros, seguida por Miami e por Boston, ambas nos Estados Unidos..

Com os ânimos entre os eleitores, dentro e fora do país, sistematicamente polarizados, a votação, neste domingo, ocorreu tranquila e organizada. Historicamente, os colégios eleitorais de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro apresentam-se, respectivamente, com os maiores números de eleitores e são capazes de direcionar a eleição. Por sua vez, a região do Nordeste, composta por nove estados, possui, em conjunto, um colégio eleitoral também capaz de reverter uma eleição.

Neste domingo, os colégios eleitorais de São Paulo e do Rio de Janeiro revelaram-se conservadores ao darem a maioria dos votos a Jair Bolsonaro. No entanto, Minas Gerais e, principalmente, a região do Nordeste votaram em peso no ex-presidente Lula da Silva.

Ao consultarmos os resultados do primeiro turno eleitoral, na capital da província de Ontário, no Canadá, o Jornal de Toronto informa ter-se verificado o aumento de 78,1% no número de eleitores. O resultado do primeiro turno foi o seguinte (por ordem numérica de votos, nos quatro candidatos mais votados): Lula (PT): 4.663 (50,56%); Jair Bolsonaro (PL): 3.425 (37,14%); Simone Tebet (MDB): 489 (5,3%) e Ciro Gomes (do Partido Democrático Trabalhista – PDT): 421 (4,57%).

Diga-se que, em relação às diferenças dos resultados das votações, o Jornal de Toronto alude aos votos coletados pelo TSE. Esses votos estão contabilizados de forma diferente no que respeita aos boletins de urna apresentados no Consulado Geral do Brasil em Toronto. Porém, em ambos os casos, o ex-presidente Lula da Silva é mais votado do que o actual presidente Jair Bolsonaro.

Questionado pelo sinalAberto, o Consulado Geral do Brasil em Toronto esclareceu que a diferença dos números entre os seus boletins de urna e os dados fornecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é relativa aos votos de Winnipeg (capital da província canadense de Manitoba). Essa situação deveu-se ao facto de a servidora que coordenou a eleição em Winnipeg ter retornado a Toronto, apenas na noite de segunda-feira (3 de Outubro), com o Boletim de Urna da Secção 1402.

Na oportunidade, José Bernardo Godomiczer filmou a longa fila de brasileiros que residem em Toronto e que, neste domingo (2 de Outubro), quiseram escolher os seus candidatos presidenciais.

A 30 de Outubro, ocorrerá o segundo turno das eleições presidenciais brasileiras. Por conseguinte, nos próximos dias, Simone Tebet (do Movimento Democrático Brasileiro) revelará em quais candidatos dará o seu suporte durante o segundo turno deste processo eleitoral. De maneira indirecta, o candidato Ciro Gomes (do Partido Democrático Trabalhista) revelou o seu apoio ao candidato Lula da Silva (do PT), por acordo do seu partido. De facto, as suas orientações de voto podem alterar o rumo das eleições.

Apesar de Lula (do PT) fechar o primeiro turno com 48,43% dos votos contra Bolsonaro (com 43,20%), o segundo turno promete uma disputa tão ou mais acirrada do que a observada no dia 2 de Outubro. Do eleitorado apurado, foram 123.679.629 comparecimentos, dos quais 118.227.018 apresentaram votos válidos e 32.766.498 abstenções de voto.

Mesmo com o país a evidenciar que a sua população está polarizada entre a direita conservadora e a esquerda representada pelo Partido dos Trabalhadores, nesta última eleição também foram eleitos deputados estaduais, federais, senadores e governadores com pautas feministas e igualitárias. Para um Brasil conservador, evangélico e de direita, eleger mulheres transgénero mostra uma mudança de paradigma.

Os estados de São Paulo, de Minas Gerais, de Sergipe e do Rio de Janeiro elegeram as primeiras deputadas federais trans do país, respectivamente, Erika Hilton (do Partido Socialismo e Liberdade – PSOL), Duda Salabert (do PDT), Linda Brasil (do PSOL) e Dani Balbi (do Partido Comunista do Brasil – PCdoB). Acrescido a esta mudança de paradigma, encontra-se a indígena Sonia Guajajara (candidata pelo PSOL, com o nome civil de Sônia Bone de Souza Silva Santos) como a mulher indígena mais votada (e a primeira líder indígena brasileira a ser eleita como deputada federal), com 156.963 votos, no estado de São Paulo. Por sua vez, a deputada federal Tabata Amaral (do Partido Socialista Brasileiro – PSB) é reeleita com 337.812 votos, também no estado de São Paulo.

Apesar da eleição de diversos deputados e senadores conservadores, as mulheres de esquerda têm adquirido cada vez mais voz e engajamento na política brasileira, trazendo pautas feministas, sociais e igualitárias para tornarem o país um espaço para todos.

06/10/2022

Siga-nos: