A flor e o menino mágico

 A flor e o menino mágico

Ilustração: Sandra Serra

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Era uma vez uma flor que habitava num jardim junto de outras flores e plantas, de arbustos e de árvores. A flor era muito alta, tinha grandes pétalas amarelas e, no centro delas, um círculo de miolo castanho. Era uma flor tão bela e elegante que todos sorriam ao olhá-la. Quando o vento soprava, balançava para um lado e para o outro, com tal graciosidade que parecia dançar. O mais intrigante é que esta flor passava o dia a rodar, a rodar, sempre voltada para o Sol. De nascente a poente, ela nunca se cansava deste movimento. Por isso, também lhe chamavam a flor do Sol. Sabem de que flor se trata? É um GIRASSOL! Pois, este girassol era uma flor especial. A sua cor amarela brilhava com tanta intensidade que era a alegria do jardim. As outras flores tinham muito respeito pelo girassol, sempre bem-disposto e delicado, olhando para o Sol com os seus ramos verdes bem abertos. À noite, tombava ligeiramente a sua corola e dormia.

O girassol tinha muitos amigos. Um deles era um menino que, todos os dias, o visitava. O menino tinha poderes mágicos, mas raramente os usava. Certo dia, o pequeno mágico disse ao girassol que este era um símbolo de força e de felicidade, o que o deixou muito honrado e até envaidecido. Então, inspirado pelo que ouvira, o girassol disse às outras flores: – Tenho um desejo imenso de ir conhecer o mundo! Cansado de viver no mesmo lugar, o meu sonho é voar! Mas, preso como estou à terra, nunca tal conseguirei! E dito isto, caiu numa profunda tristeza. As outras flores estranharam aquele desejo do girassol, pois nunca tinham ouvido semelhante coisa. Até parecia uma mania. O sábio gato que se deitava muitas vezes perto dele, no jardim, disse-lhe: – O menino mágico é a tua solução! Conta-lhe o teu sonho de voar!

Na manhã seguinte, o girassol estava ansioso por que este o visitasse. Sempre voltado para o Sol, quando ouvia os seus passos, ficava ainda mais altivo e majestoso. Naquele dia, porém, estava nervoso e as folhas agitadas e trémulas deixavam transparecer a sua inquietação. Quando o menino se aproximou, o girassol partilhou com ele o seu desejo de voar, de ir ver outras paragens e de fazer novos amigos. O menino ouviu-o com atenção e declarou: – A vida de uma flor não é muito longa, por isso, vou conceder-te este desejo. Terás um dia para voar e conhecer o mundo para lá deste jardim, mas, antes do final noite, tens de voltar para te colocar de novo na terra. As outras flores do jardim ficaram muito surpreendidas. Falavam baixinho entre si, comentando o desejo da flor do Sol e a sua sorte. O girassol estava radiante. Balouçou-se ligeiramente, agradeceu ao menino mágico a oportunidade de concretizar o seu desejo e, rodando a sua corola para um lado e para o outro, afirmou perante todos: – Amigas e amigos, companheiras e companheiros deste jardim, amanhã será o grande dia! Pela manhã, iniciarei a grande viagem pelo céu e partirei, finalmente, à descoberta do mundo!

Fez-se por alguns momentos um silêncio inquietante. Depois, as flores começaram a falar todas ao mesmo tempo, dando palpites sobre aquela viagem. Algumas começaram a engendrar planos para aproveitar a boleia do girassol. O gladíolo disse que se prenderia nas suas folhas e registaria tudo com a sua memória fotográfica. A rosa ofereceu-se para lançar o seu perfume durante a viagem, encantando pássaros e abelhas e até a glicínia congeminou enrolar-se no longo caule do girassol, adornando-o com as suas belas e delicadas folhas verdes, que serviriam para o proteger de qualquer intruso. Porém, a grande flor queria ser livre e viver aquela aventura sem qualquer empecilho. E decidiu que a tarefa de viajar era sua, a coragem era sua e a experiência seria só sua. Mas, sabendo que não devia desprezar os seus amigos, assegurou: – Quando regressar, partilharei convosco cada pormenor da minha viagem!

E assim, na manhã seguinte, com uma grande assistência de flores, de árvores, de arbustos e de animais de toda a espécie, o girassol iniciou a grande proeza. O menino mágico fez um gesto de magia e disse umas palavras estranhas que só ele entendia. Então, a grande flor começou por se elevar, devagar, desprendendo cuidadosamente as suas raízes da terra. Assim que se endireitou e subiu alguns centímetros acima do chão, desequilibrou-se, balançou e aterrou. – Oooooh! – ecoou por todo o jardim. Mas, logo de seguida, começaram a surgir incentivos e palavras a darem coragem à flor.

Fazendo mais uma tentativa, o girassol levantou-se, ergueu-se e, equilibrando-se a custo, subiu no ar, elevando-se esplendoroso acima do solo. Depois, muito direito, com a sua bela corola ligeiramente tombada, despediu-se. – Adeus amigas e amigos! Desejem-me sorte! Até ao meu regresso!

E, dizendo isto, elevou-se ainda mais no ar e principiou o seu voo perante os aplausos e espanto de todos quantos assistiam àquele grande feito.

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(*) In “As Flores Também Sonham”

12/09/2022

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Celeste Almeida Gonçalves

É professora e escritora de obras para a infância e juventude, desenvolve vasta atividade de mediação de leitura em escolas e bibliotecas e dinamiza variados projetos, no âmbito da leitura e da escrita criativa.

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