A inesquecível aventura no circo
Ilustração: Sandra Serra
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Mal saiu da casa do menino, o girassol dirigiu-se ao lago, onde molhou as suas raízes que estavam a ficar muito secas. A certa altura, sentiu uma estranha impressão, que mais parecia uma comichão, e eis que, pendurado nelas, estava um sapo. O girassol fez tudo para soltar o sapo, mas este não queria soltar-se e agarrou-se bem.
– Sai das minhas raízes! Não vês que estás a machucá-las! Solta-te! – ordenou o girassol, aborrecido. O sapo, todo queixoso, implorou: – Leva-me contigo! Por favor! Estou farto de viver aqui. Gostava tanto de visitar outros lugares! Leva-me contigo! Peço-te!
O girassol achou que tal pedido era um atrevimento por parte do sapo, mas teve pena dele e acedeu a levá-lo atrelado a si.
A joaninha estava calada e não se meteu na conversa, mas a ideia de ter mais um companheiro de viagem até lhe agradou. Enquanto voavam pela cidade, olhando para baixo, viam a vida agitada e apressada de todas as pessoas. Que grande frenesim!
– No nosso jardim, tudo é mais calmo e sossegado! – exclamou a joaninha.
– E no lugar onde vivo, a vida é sempre igual! Um aborrecimento! E eu que até gosto de aventura! – desabafou o sapo.
Enquanto ouvia os seus companheiros, crescia dentro do girassol o pensamento de que aquela aventura estava a ser bem divertida. Tantas coisas novas! Tantas coisas diferentes! Nunca tinha imaginado que a vida fora do jardim fosse assim.
E eis que, lá do alto, avistou uma grande tenda circular, com muitos camiões, caravanas e animais em jaulas de vários tamanhos. Estava toda enfeitada com bandeirinhas de muitas cores e uma grande carrinha com um cartaz anunciava pelo altifalante: – Meninas e meninos, senhoras e senhores, o grande circo chegou à cidade! Venham ver este espetáculo sem igual, com atrações de cortar a respiração! Temos palhaços, malabaristas, o grande mágico, o cão bailarino, o macaco ciclista e a fantástica atuação do elefante equilibrista! Venham ver as habilidades dos nossos artistas e a coragem do fabuloso domador de leões!
Mal ouviu este anúncio, o girassol pensou em ir assistir ao espetáculo do circo. Mas como iria entrar? Para uma flor, seria muito difícil conseguir penetrar no enorme recinto circular. Além de não ser pessoa nem animal, não tinha dinheiro para pagar o bilhete. O sapo teve, então, a ideia de distrair a menina do lindo vestido cor-de-rosa, cheio de lantejoulas, que estava na entrada do circo, recebendo os visitantes. Saltou-lhe para os pés e a menina recuou, assustada, com aquela ousadia do sapo. O girassol preparava-se para espreitar o interior da grande tenda, no meio da confusão criada pelo sapo, quando foi surpreendido por um senhor muito bem vestido, de casaca azul, camisa branca, laço e uma grande cartola na cabeça.
– Alto lá! O que se passa aqui? Um girassol a andar e a voar no meu circo? Nunca vi semelhante coisa! Diz-me lá que outras habilidades sabes fazer, para além de transportares um sapo, uma joaninha e de voares?
O girassol estava bastante embaraçado. Nem sabia o que havia de dizer, mas lá respondeu, um pouco a medo: – Eu sei dançar! Era o que fazia no meu jardim. Dançava a música do vento!
– Ora aí está algo que me interessa! Vais trabalhar para mim neste circo! Hoje à tarde, vais atuar. Nós tocamos as músicas e tu danças para todos apreciarem a tua habilidade. Está combinado! – disse o homem da casaca azul, sem lhe dar a oportunidade de discordar.
A grande flor não sabia se devia ficar contente ou se aflita com tamanha responsabilidade. Nunca tinha dançado ao som de música, de verdade. E, ainda por cima, num circo. Sim. Estava mesmo atrapalhado, o girassol. A joaninha procurou acalmá-lo e até o sapo lhe deu coragem. – Vais ver que vai ser divertido! – disse a joaninha.
– Vais ter uma oportunidade única de seres artista de circo! E vais receber aplausos! Já te imaginaste a dançar no meio da grande pista? – incentivava o sapo.
O girassol ficou entusiasmado com as palavras encorajadoras dos amigos. Fez um pouco de exercício, treinou alguns movimentos, bamboleou, rodou a corola e, com um encanto que espantou o sapo, que nunca tal tinha visto, abanou as suas folhas, gingando diferentes ritmos.
Por fim, chegou o grande momento da atuação. O girassol estava um pouco nervoso, mas, com a inspiração do momento, os nervos logo passaram. O homem da casaca azul anunciou: – E agora, respeitável público, a atração especial, espetacular, nunca antes vista! Hoje, neste grande circo, o magnífico girassol dançarino!
A assistência aplaudiu a entrada do girassol: – CLAP, CLAP, CLAP!
Fez-se, por alguns instantes, um silêncio que pôs os corações do sapo, da joaninha e do girassol a mil! Depois, a música começou a tocar e o girassol iniciou a sua atuação.
No centro da pista do circo, era maravilhosa a grande flor amarela, com a sua vistosa corola, o seu longo caule e as suas folhas verdes, dançando ao som de uma rapsódia repleta de músicas muito animadas.
A cada melodia, o girassol inventava novos passos de dança, novos movimentos, rodando e sacudindo a sua corola, agitando as suas folhas e ondulando, dengoso, o seu longo caule. Terminou com uma dança ritmada, saracoteando-se com uma espantosa energia e contagiando todos com a sua graça e agilidade.
O público foi ao rubro com a habilidade da grande flor. Ouviram-se muitas palmas: – CLAP, CLAP, CLAP!
O girassol agradeceu, baixando ligeiramente a sua corola e fazendo uma elegante vénia. O dono do circo estava radiante. – Estás contratado! Vais ter um camarim e, desde já, fazes parte desta companhia de circo!
O girassol ficou felicíssimo. Era oficialmente um dançarino. Um artista. Mas, pensando bem, olhou para os seus amigos e disse: – Amigos, eu não posso ficar no circo! Quero conhecer e aprender mais sobre o mundo e, além disso, prometi ao menino mágico que, até ao final da noite, regressaria ao jardim!
O sapo e a joaninha compreenderam que aquela era a verdade. E da verdade não se pode fugir.
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(*) In “As Flores Também Sonham”
26/09/2022
