A maravilhosa afeição entre Rezinga e Beatriz

 A maravilhosa afeição entre Rezinga e Beatriz

Ilustração: Sandra Serra

(*)

Depois de um dos seus longos passeios, Rezinga estava de regresso ao quintal e, como de costume, foi sentar-se sobre o muro. O Sol tinha, àquela hora, uma tonalidade avermelhada e o azul do céu achava-se rabiscado por um laranja brincalhão, tais eram as formas endiabradas que se cruzavam com as brancas nuvens.

O gato ficava à espera de Beatriz. Como ele gostava de a acompanhar nas suas brincadeiras e de se enrodilhar juntinho dela, enquanto esta espreguiçava o tempo próprio da infância! Quantas horas e gestos de carinho tinham já dedicado um ao outro, desde que ele deixara a sua mãe e fora recebido naquela casa, que era, desde então, a sua!

Quando a menina chegou, aproximou-se e fez-lhe uma carícia suave, envolvendo-o primeiro num morno calor e despertando-lhe, de seguida, uma súbita energia. Convidou-o a acompanhá-la.

– Vem Rezinga! Hoje, temos uma nova tarefa. Nem imaginas sobre o que vamos pesquisar!

O gato saltou de imediato e tomou a dianteira, enquanto se dirigiam para o interior da casa. Pensava nos animais, nas plantas, na Natureza… adivinhando o que os iria ocupar. Sabia que estes eram os assuntos que mais entusiasmavam Beatriz.

– Hoje vamos conhecer a vida de três animais: a coruja, a cegonha e o morcego. – informou a menina, muito determinada.

Rezinga habituara-se a participar nas muitas descobertas de Beatriz, através dos livros, do computador, de jogos e de experiências. Acompanhava-a nos trabalhos que esta fazia, lendo, escrevendo, desenhando, pintando, entre outras atividades, todas elas fascinantes para o gato.

Apreciava especialmente o computador! Ficava deslumbrado com as coloridas imagens, com os sons e com as animações. E subia para a secretária, colocando-se, quantas vezes, em cima do teclado.

– Lá estás tu enfeitiçado! – dizia, então, Beatriz.

Naquele dia, entre outras coisas, Rezinga aprendeu que a coruja é uma ave de rapina, símbolo de sabedoria; que a cegonha é uma ave migratória e que viaja para África durante o inverno; e que os morcegos são mamíferos que têm a engraçada particularidade de dormirem e de repousarem de cabeça para baixo.

O gato via e ouvia, com muita atenção, tudo o que a menina lhe mostrava e dizia. Levava muito a sério a sua educação. Queria ser um gato civilizado e culto. Na verdade, estava a tornar-se cada vez mais instruído, tantos eram os momentos de partilha e de convívio com a amiga.

A presença inteligente e meiga de Rezinga muito contribuía para a felicidade de Beatriz. Adorava o seu ronronar e também sentir os seus pequenos encontrões, desafiando-a para brincar. Enternecia-a o modo como se enroscava no seu colo e até se divertia com as suas tropelias e insistências enquanto estudava, brincava ou desfrutava, quantas vezes, do encantamento da música ou da folia da dança, nos seus tempos livres.

Beatriz e o gato estavam unidos por um poderoso afeto. Já não se imaginavam a viver um sem o outro.

Prestando-lhe todos os cuidados e assegurando o seu conforto, a menina incumbira-se de ser sua mestra para fazer dele o gato mais educado e sabedor das redondezas. Ao seu jeito, Rezinga zelava, com autêntica lealdade, pela sua amiga humana.

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(*) In “Rezinga – Um gato do outro mundo”

25/07/2022

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Celeste Almeida Gonçalves

É professora e escritora de obras para a infância e juventude, desenvolve vasta atividade de mediação de leitura em escolas e bibliotecas e dinamiza variados projetos, no âmbito da leitura e da escrita criativa.

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