Havia abertura para o Em Directo, no qual me senti sempre totalmente livre, quer em 2009, quando regressei de Inglaterra [após uma longa passagem pela BBC], quer em 2012, quando regressei à televisão, após o meu primeiro afastamento. Livre não só para fazer o programa, como para convidar regularmente porta-vozes do partido da oposição, como o ADI [Acção Democrática Independente]. Tal como no telejornal, havia uma margem para intervenção. No entanto, sempre houve um grau variável de governamentalização dos órgãos estatais de comunicação social, mas era algo que permitia espaços de liberdade. Em 2010, quando o ADI chegou ao poder, somos confrontados com uma realidade radicalmente diferente. Os níveis de governamentalização eram sem precedentes, os moldes de funcionamento das redacções dos órgãos [de comunicação social] estatais tornaram-se quase policiais, como são hoje, e assistiu-se a um agravamento brutal daquilo que podemos chamar a partidarização dos órgãos de comunicação social. Hoje os órgãos não só estão governamentalizados, como estão partidarizados. Em 2012, a oposição fez cair o Governo no Parlamento e, entre 2012 e 2014, houve um outro Governo e, mais uma vez, assistiu-se a uma situação em que os níveis de governamentalização, quando existiam, não eliminavam os espaços de liberdade.