A velocidade da Terra

 A velocidade da Terra

(*)

Vivemos em movimento! Não nos apercebemos, mas viajamos pelo espaço cósmico a uma velocidade estonteante para a nossa escala! Na realidade, é a Terra que se desloca, mas nós viajamos com ela. Como sabemos, a Terra percorre anualmente uma trajectória elíptica em torno do Sol. E faz isso a uma velocidade média de cerca de 107.280 quilómetros por hora, ou seja a cerca de 29,8 quilómetros por segundo!

Escrevo “velocidade média” porque a velocidade da Terra varia ao longo do ano. Ela é máxima quando a Terra se encontra mais próxima do Sol (periélio) e mínima quando se encontra mais afastada (afélio). E foi no dia 4 de Janeiro de 2022, pelas 7h00, que ocorreu o periélio. Nesse momento, a cerca de 147,1 milhões de quilómetros do Sol, a velocidade da Terra foi cerca de 30,8 quilómetros por segundo (110.880 quilómetros por hora).

Seguindo a sua órbita, a Terra afasta-se agora do Sol até atingir a sua distância máxima (afélio) no próximo dia 4 de Julho (segundo o Observatório Astronómico de Lisboa). Nessa altura, a uma distância de cerca de 152,1 milhões de quilómetros do astro-rei, a velocidade a que viajaremos pelo espaço será de, aproximadamente, dois quilómetros por segundo (ou 7.164 quilómetros por hora), menor do que a verificada no periélio.

© Nova Escola

O astrónomo e matemático alemão Johannes Kepler (1571-1630) foi o primeiro a detectar estas diferenças na velocidade de translacção e a propor uma órbita elíptica para a Terra e restantes planetas. Kepler baseou-se, para isso, nas tabelas astronómicas do seu mestre, o astrónomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601). Brahe terá sido o observador mais rigoroso do céu antes do início do uso do telescópio para observações astronómicas, realizado por Galileu Galilei (1564-1642) em 1610.

A causa para as diferenças na velocidade da Terra só pode ser compreendida após o trabalho do matemático e físico inglês Isaac Newton (1643-1727), principalmente, após a formulação da sua lei da gravitação universal. Segundo esta lei, a força da gravidade entre dois corpos com massa diminui na razão inversa do quadrado da distância entre eles. No nosso caso, os dois corpos são a Terra e o Sol. Quando estão mais próximos um do outro (periélio) a força da gravidade é maior, o que se traduz numa aceleração do movimento da Terra (de acordo com a 2.ª lei do movimento, também de Newton) e, logo, no aumento da sua velocidade. À medida que a Terra se afasta do Sol, a força da gravidade diminui, há uma desaceleração do movimento e a velocidade diminui, atingindo um mínimo no afélio.

© ResearchGate

Se, em Janeiro, estamos mais próximos do Sol, porque é então Inverno? A Terra não deveria receber mais radiação solar em Janeiro? Mas não é assim que ocorre nessa altura do ano, como podemos testemunhar agasalhados. E a explicação para isso reside no facto de o eixo de rotação da Terra, em torno de si própria, estar inclinado 23,5 graus em relação à perpendicular do plano definido pela sua órbita ao redor do Sol. É a inclinação do eixo de rotação que está na origem das estações ao longo do ano. Aquando do periélio, é o Hemisfério Sul da Terra que está mais exposto à radiação solar e, por isso, ocorre a estação do Verão. O contrário ocorre no Hemisfério Norte e, assim, apesar de mais próximos do Sol, vivemos os dias mais frios de cada ano!

Entretanto, continuamos a viajar no espaço sideral a cerca de 30 quilómetros por segundo!

.

………………….

.

(*) Artigo publicado no âmbito do programa “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa”, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.

.

19/05/2022

Siga-nos:
fb-share-icon

António Piedade

Bioquímico e comunicador de Ciência. Publicou centenas de artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de diversos livros de divulgação de Ciência, entre os quais se destacam “Íris Científica” (Mar da Palavra, 2005 – Plano Nacional de Leitura), ”Caminhos de Ciência”, com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa da Universidade de Coimbra, 2011) e “Diálogos com Ciência” (Trinta Por Uma Linha, 2019 – Plano Nacional de Leitura), também prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, a exemplo do já muito popular “Ciência às Seis”, no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra. Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.

Outros artigos

Share
Instagram