A visita dos direitos (1)

Ilustração: Sandra Serra
(*)
A caminho da escola, Manuel pousou o olhar no céu azul e sorriu.
O brilho da luz intensa acendeu os seus sentidos. Sentiu-se feliz e animado.
Por entre as pessoas atarefadas pela urgência das horas e o bulício de transportes circulando num corrupio, acelerando o passo, Manuel seguia o seu caminho matutando no que a professora dissera no dia anterior: – Amanhã os direitos vêm à escola!
– Os direitos? Quais direitos? – perguntaram em catadupa, os colegas curiosos.
Manuel ouvira aquelas palavras e mil e uma ideias acudiram à sua mente. Mas nenhuma era suficientemente clara.
A professora tinha deixado a pergunta meio respondida.
– Iremos conhecer alguns dos mais importantes direitos das crianças. – dissera.
Manuel ia intrigado e desejoso de conhecer os tais direitos. Aquilo de os direitos irem à escola, trazia água no bico.
Quando entrou na sala de aula, depois dos momentos iniciais de alguma barafunda, sentou-se e reparou que os outros meninos estavam tão ansiosos quanto ele. Esperavam que a professora anunciasse a entrada dos tais direitos.
Porém, depois da habitual rotina do início da aula, a professora dirigiu-se aos alunos e começou por explicar: – Hoje vamos conhecer os direitos das crianças. Na verdade, existe uma Declaração Universal dos Direitos das Crianças, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de Novembro de 1959. Esta Declaração consagra dez direitos e os seus princípios a todas as crianças do Mundo.
– Mas, então, isso foi há muito tempo! – exclamou a Joana, pensando, com os seus botões, que era um tema do passado.
– Calma, ouçam com atenção até ao fim. – pediu a professora. E continuou: – Em 1989, a Organização das Nações Unidas aprovou a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, que protege bebés, crianças e adolescentes, até aos 18 anos. Foi assinada por muitos países que se comprometeram a respeitá-la. A Convenção é uma lei que tem 54 artigos.
– Tantos? – continuava a Joana, inquieta pela quantidade dos artigos anunciados. E a sua mente começava a imaginar artigos de todas as espécies e feitios…
– Sim, são muitos artigos, mas não vamos conhecê-los todos, é claro.
A professora explicou, de seguida, o que são artigos de uma declaração, e que apesar de terem sido escritos e assinados há muitos anos, são atuais e é importante conhecê-los e sobretudo respeitá-los.
– Mas esses direitos vêm à escola? – perguntou a Rita, ansiosa, com um grande sorriso iluminando-lhe a face.
A professora preparava-se para responder quando bateram à porta. Apressou-se a abri-la.

Perante o espanto de todos, entrou uma menina de várias cores, vestida com um belo e longo vestido feito de muitas bandeiras e com uma coroa enfeitada com símbolos de várias religiões. Os seus olhos eram da cor da esperança e a sua voz era doce e suave. Então, graciosa e bela, a menina disse, com a sua voz de veludo: – Eu sou o direito à igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade. Eu digo que nenhuma criança pode ser discriminada por motivos de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião, de origem social ou de outra qualquer razão!
E, dito isto, distribuiu a cada menino um papel da cor do Sol, que dizia: “Todas as crianças têm os mesmos direitos.” Depois abriu os braços, na expressão de um imenso abraço, e encaminhou-se para a porta, saindo.
Eis senão quando, entra um menino azul da cor do mar. O menino trazia nas mãos uma grande ostra reluzente e, com delicadeza, abriu-a suavemente, deixando ver no seu interior uma bela pérola da cor do luar. Depois, com os seus olhos muito vivos, dirigiu-se à turma e disse: – No Mundo, há tesouros infindáveis, mas o mais valioso de todos são as crianças. Eu sou o direito à especial proteção para o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social das crianças. Acima de tudo, está o superior interesse da criança!
De seguida, entregou a cada menino um papel da cor do coral, que dizia: “Todas as crianças têm direito à especial proteção, ao desenvolvimento saudável e normal em condições de liberdade e dignidade.”
Aconchegando nas mãos a sua ostra, o menino sorriu docemente e partiu.

As crianças estavam surpreendidas com aqueles visitantes especiais. Algumas daquelas palavras já eram suas conhecidas, mas outras, não.
A professora convidou então duas meninas a entrar, as quais, em coro, pronunciaram bem alto: – Direito a uma identidade, a um nome e uma nacionalidade!
As meninas eram brincalhonas e bem-dispostas e logo se puseram a galhofar uma com a outra. Uma dizia que era o nome; a outra dizia que era a nacionalidade. Uma trazia vestes com muitas letras que compunham todos os nomes do Mundo, em todas as línguas; a outra tinha minúsculas bandeiras e símbolos de todos os países adornando as suas roupas. Enquanto faziam algumas brincadeiras, entregavam a cada menino da sala um papel da cor do mar, que dizia: “Todas as crianças têm direito, desde o seu nascimento, a um nome e a uma nacionalidade.”
Saltitando e cantarolando uma canção composta por nomes de crianças e de países, as meninas despediram-se e saíram da sala.
Os alunos estavam maravilhados. Além de importantes, os direitos eram divertidos. Manuel olhava para as folhas de papel e fitava as frases que nelas estavam escritas e ia pensando em tudo o que ele os seus colegas tinham ouvido e estava a acontecer.

A certa altura, bateram novamente à porta e entra uma menina, vestida da cor do algodão. Era alta e alva, caminhava com passos firmes e decididos. A menina olhou para as crianças da sala e, com um tom solene, disse: – Eu sou o direito à alimentação, à moradia e à assistência médica para a criança e para a sua família! As crianças precisam de higiene, de boa alimentação, de uma casa para morar e de ter acompanhamento médico, tal como os seus pais. Antes de a criança nascer, a mãe já necessita de cuidados médicos, para que ela seja saudável.
Depois, com os óculos descaídos no nariz, a menina encaminhou-se para as crianças da turma e distribuiu, a cada uma, um papel da cor do rosmaninho, que dizia: “Todas as crianças têm direito a crescer e a desenvolver-se com boa saúde!”
E, antes de sair, a menina da cor do algodão ainda aconselhou: – Não se esqueçam de fazer uma alimentação saudável, de lavar os dentes, de tomar banho, de serem vacinados e de praticarem desporto. E lembrem-se também dos riscos do álcool e das drogas! É preciso saber dizer não aos perigos e escolher os bons hábitos!
(continua)
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(*) In “Os Direitos Vão à Escola”
31/10/2022