Ainda o bolo-rei

 Ainda o bolo-rei

(www.luisa-paixao.com)

A lenda do bolo-rei é uma história engraçada, mas vale o que valem as lendas. Associar o bolo-rei aos Reis Magos é algo que, como outras coisas mais ou menos pagãs, a Igreja católica absorveu como suas.

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Rezam as crónicas que a origem do bolo de reis remonta à Antiga Roma e ao tempo dos festejos em honra do deus Saturno, as quais decorriam em Dezembro, uma semana antes do solstício de Inverno. Durante os banquetes comemorativos destas festividades, como referimos no texto antecedente, elegia-se o “rei da festa” da seguinte forma: numa doce torta redonda colocava-se uma fava seca (símbolo da fertilidade) e a quem calhasse a fava era eleito rei da festa.

Pintura “A Saturnália”, de Antoine François Callet. (www.luisa-paixao.com)

A Igreja católica, como fez em outras situações, aproveitou este costume pagão característico do mês de Dezembro e reconverteu-o relacionando-o com a Natividade e o Dia de Reis.

O bolo-rei, no seu formato actual, surgiu na corte de Luís XIV, em França, para as festas do Ano Novo e do Dia de Reis (Epifania, em 6 de Janeiro). Segundo a tradição francesa, introduzia-se no bolo uma fava seca e um pequeno brinde de porcelana, normalmente uma figura do presépio. A pessoa a quem calhasse a fava era considerada, tal como nos festejos romanos, o rei ou a rainha da festa. Assim, teria direito a usar uma coroa de circunstância e poderia pedir um desejo, mas, no ano seguinte, haveria de pagar o bolo.

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Também em França, com a Revolução Francesa, no século XVIII, o bolo mudou de nome, passando a chamar-se “gâteau des sans-culottes” (bolo dos pobres). O bolo-rei foi popularizado em Portugal, no século XIX, seguindo uma receita francesa que ainda hoje se encontra a sul do Loire. Surgiu em Lisboa no ano de 1870, trazido de Toulouse por uma das mais antigas padarias da capital portuguesa, a “Confeitaria Nacional”, inaugurada, em 1829, na Praça da Figueira, na Baixa, onde se mantém. Mais recentemente, apareceu o “bolo rainha”, apresentando-se como uma versão sem fruta cristalizada, mas com frutos secos.

01/12/2022

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Vítor Duque Cunha

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