Alferes Malheiro: o revoltoso esquecido do “31 de Janeiro”

 Alferes Malheiro: o revoltoso esquecido do “31 de Janeiro”

Na madrugada do dia 31 de Janeiro de 1891, Augusto da Costa Malheiro comandava a guarnição na Cadeia da Relação quando o regimento ali aquartelado foi o primeiro a sublevar-se. (Direitos reservados)

Alferes Malheiro é o revoltoso esquecido do 31 de Janeiro de 1891. Oficial do exército, o portuense Augusto Rodolfo da Costa Malheiro (1869-1924) teve um papel importante naquela insurreição militar.

Os revoltosos desceram a Rua do Almada, até à Praça de D. Pedro, (hoje, Praça da Liberdade), onde, em frente ao antigo edifício da Câmara Municipal do Porto, ouviram Alves da Veiga proclamar da varanda a Implantação da República. (portoarc.blogspot.com)
“Mapa Cor-de-Rosa” (projecto de 1886) representando a pretensão à soberania
sobre os territórios entre Angola e Moçambique. (pt.wikipedia.org)

A revolta teve como palco a cidade “Invicta” e ficou a dever-se às cedências do governo e da Coroa ao Ultimato britânico de 1890, considerando que Portugal, com o “Mapa Cor-de-Rosa”, pretendia ligar, por terra, Angola a Moçambique.

Por via da sua participação, o alferes Malheiro teve de fugir para Espanha e, posteriormente, para o Brasil. Em Minais Gerais, frequentou o curso de Engenharia e envolveu-se na revolução, assumindo a chefia dos alunos da Escola Militar. Ferido em combate, o alferes Malheiro viu os serviços prestados reconhecidos pelo governo brasileiro e tornou-se capitão honorário do exército.

Grupo de sargentos, cabos e soldados de artilharia de montanha da “coluna negra” com boca de fogo e munições, junto da Casa do Mosteiro, pertencente à família do Barão de Basto. Cabeceiras de Basto, Julho de 1912. (Créditos fotográficos: In “Reimaginar Guimarães”, Colecção de Fotografia da Muralha – ocastromanco.blogspot.com)
Número único, publicado em 31 de Janeiro
de 1893, comemorativo do segundo ano da
revolta militar portuense e em homenagem
ao alferes Malheiro.(livrariaferreira.pt)

Após o regresso ao nosso país, ocupou o posto de capitão no Regimento de Infantaria 16, já sob o regime da República. Mas fez questão de acompanhar o batalhão expedicionário a Angola como voluntário, pois “tinha sido dado como incapaz para servir nas colónias”.

Comandou, também, a “Coluna Negra”, que combateu a “Monarquia do Norte”, a acção contra-revolucionária ocorrida no Porto, a 19 de Janeiro de 1919, pelas juntas militares favoráveis à restauração da monarquia em plena Primeira República.

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Nota final:

Apesar da sua importância histórica, o “31 de Janeiro” não foi assinalado por estes dias. Nem mereceu qualquer referência no sítio oficial da Presidência da República Portuguesa.

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05/02/2024

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Soares Novais

Porto (1954). Autor, editor, jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP). Publicou o romance “Português Suave” e o livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”. É um dos autores portugueses com obra publicada na colecção “Livro na Rua”, que é editada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Tem textos publicados no "Resistir.info" e em diversos sítios electrónicos da América Latina e do País Basco. É autor da coluna semanal “Sinais de Fogo” no blogue “A Viagem dos Argonautas”. Assina a crónica “Farpas e Cafunés”, na revista digital brasileira “Nós Fora dos Eixos”.

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