Andar com o credo na boca
Nos princípios do Cristianismo, os seus seguidores eram perseguidos e atirados às feras. Com o aumento dos seus fiéis, estes tornaram-se de perseguidos a perseguidores, de presas a predadores.
Em Dezembro de 1496, Dom Manuel I assinou, mais por razões políticas do que religiosas, o decreto de expulsão dos Judeus de Portugal, concedendo-lhes um prazo de uns meses para deixarem o país. Caso não o fizessem, seriam condenados à morte e todos os seus bens reverteriam para a Coroa.
Alertado pelos seus conselheiros para a provável fuga de capitais, o rei permitiu que ficassem no país desde que, até à Páscoa de 1497, se convertessem ao Cristianismo.
Os Judeus nunca foram bem-vistos pelas sociedades em que se inseriram. A razão primordial é que estiveram sempre muito conectados com o dinheiro, quer como banqueiros e cobradores de impostos para o rei e poderosos, quer como agiotas.
Muitos judeus optaram por ficar em Portugal e converteram-se ao Cristianismo – os chamados cristãos-novos (em contraposição aos cristãos-velhos) –, só que alguns o fizeram na aparência, continuando, secretamente, a seguir o culto judaico.
Havia, no entanto, o perigo de serem apanhados e condenados à morte. A melhor forma de demonstrar, a quem desconfiava, de que seguiam a nova religião era, como declaração de fé, rezar a oração cristã mais popular na altura: o Credo. Para o decorar e não se esquecerem quando fossem interpelados pela inquisição, andavam sempre a recordá-lo mentalmente prontos a citá-lo de imediato. Andavam, com o credo na ponta da língua; ou seja, andavam com o credo na boca.
“Andar com o credo na boca” significa andar com medo de algo, ter consciência de estar a correr perigo iminente.
.
14/07/2022