Andar com o credo na boca

 Andar com o credo na boca

Queima de cripto-judeus em Lisboa. (stringfixer.com)

Nos princípios do Cristianismo, os seus seguidores eram perseguidos e atirados às feras. Com o aumento dos seus fiéis, estes tornaram-se de perseguidos a perseguidores, de presas a predadores.

Em Dezembro de 1496, Dom Manuel I assinou, mais por razões políticas do que religiosas, o decreto de expulsão dos Judeus de Portugal, concedendo-lhes um prazo de uns meses para deixarem o país. Caso não o fizessem, seriam condenados à morte e todos os seus bens reverteriam para a Coroa.

Em Novembro de 1496, D. Manuel I casou com D. Isabel e logo no mês seguinte decretou a ordem de expulsão dos Judeus e dos Muçulmanos. Reprodução de pintura de Alfredo Roque Gameiro. (descobrirportugal.pt)

Alertado pelos seus conselheiros para a provável fuga de capitais, o rei permitiu que ficassem no país desde que, até à Páscoa de 1497, se convertessem ao Cristianismo.

Os Judeus nunca foram bem-vistos pelas sociedades em que se inseriram. A razão primordial é que estiveram sempre muito conectados com o dinheiro, quer como banqueiros e cobradores de impostos para o rei e poderosos, quer como agiotas.

Muitos judeus optaram por ficar em Portugal e converteram-se ao Cristianismo – os chamados cristãos-novos (em contraposição aos cristãos-velhos) –, só que alguns o fizeram na aparência, continuando, secretamente, a seguir o culto judaico.

Credo dos Apóstolos (medium.com)
(Direitos reservados)

Havia, no entanto, o perigo de serem apanhados e condenados à morte. A melhor forma de demonstrar, a quem desconfiava, de que seguiam a nova religião era, como declaração de fé, rezar a oração cristã mais popular na altura: o Credo. Para o decorar e não se esquecerem quando fossem interpelados pela inquisição, andavam sempre a recordá-lo mentalmente prontos a citá-lo de imediato. Andavam, com o credo na ponta da língua; ou seja, andavam com o credo na boca.

“Andar com o credo na boca” significa andar com medo de algo, ter consciência de estar a correr perigo iminente.

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14/07/2022

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Vítor Duque Cunha

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