Arranha-céus sob suspeita

 Arranha-céus sob suspeita

Israelitas querem construir em Gaia o edifício mais alto do país. Terá 28 andares e custará 150 milhões de euros. (© Skyline, Grupo Fortera)

Os inspectores da Polícia Judiciária (PJ), através da Directoria do Norte, apreenderam, no dia 16 de Maio (terça-feira), computadores, telemóveis e detiveram vários indivíduos. O vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia foi um deles. A Operação Babel teve como alvo as câmaras de Gaia e do Porto e a Metro do Porto.

Entre os detidos está também um velho conhecido da PJ: um tipo envolvido na recente Operação Vortex. Tal operação, recordo, levou à detenção do presidente da autarquia de Espinho e do filho de um empresário de carnes local, que também se dedica à construção.  A “Vortex” também ditou o afastamento do vice-líder da bancada parlamentar do Partido Social Democrata (PSD), que foi constituído arguido. O ex-vice-líder, que nem chegou a aquecer o lugar, é muito próximo do actual presidente do PSD.

Segundo as notícias, a Operação Babel visou o grupo israelita Fortera que “quer construir o prédio mais alto do país em Vila Nova de Gaia”. O edifício, baptizado de Skyline, terá 28 andares, um hotel de cinco estrelas e um conjunto de apartamentos de luxo. O projecto é de Eduardo Souto Moura e custará 150 milhões de euros. A PJ suspeita de corrupção em grandes investimentos de projectos urbanísticos, que viciaram normas e instruções de processos. Em causa estarão “interesses imobiliários na ordem dos 300 milhões de euros, mediante a oferta e aceitação de contrapartidas de cariz pecuniário”. Os investigadores admitem, ainda, que houve “reiterada viciação de procedimentos de contratação pública com vista a beneficiar determinados operadores económicos”.

Ontem, no final da Operação Babel, as câmaras das televisões registaram dois momentos particularmente curiosos: aquele em que o presidente da Câmara Municipal de Gaia – que, segundo fonte judicial, citada pela agência LUSA, foi constituído arguido1– cumprimentou os inspectores da PJ, um a um. E o aceno que o autarca dirigiu para o interior das viaturas que os transportaram para fora das instalações da Casa da Presidência, sendo que, numa delas, seguia detido Patrocínio Azevedo, o seu vice-presidente. Perante tão insólitas manifestações, permito-me perguntar: tratou-se, apenas, de um acto de boa educação ou de um agradecimento às autoridades?

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Nota:

1 – O autarca de Gaia (pelo Partido Socialista) é um dos cinco arguidos constituídos no processo – além das sete detenções –, sendo suspeito de alegados favorecimentos em contratações de pessoal e de empresas.

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18/05/2023

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Soares Novais

Porto (1954). Autor, editor, jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP). Publicou o romance “Português Suave” e o livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”. É um dos autores portugueses com obra publicada na colecção “Livro na Rua”, que é editada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Tem textos publicados no "Resistir.info" e em diversos sítios electrónicos da América Latina e do País Basco. É autor da coluna semanal “Sinais de Fogo” no blogue “A Viagem dos Argonautas”. Assina a crónica “Farpas e Cafunés”, na revista digital brasileira “Nós Fora dos Eixos”.

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