As nascentes dos rios

 As nascentes dos rios

Créditos: Tomas Almeida (Unsplash)

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É ideia geral e bem enraizada de que os rios nascem num sítio bem definido. Eu soube as nascentes, de cor, relativamente a todos os nossos rios, quatro em Espanha e as restantes em Portugal. Soube-as, assim, na minha 4.ª classe (correspondente ao actual 4.º ano de escolaridade). Ai de mim, se não soubesse recitar as nascentes dos rios, desde a do Minho à do Guadiana! A régua, na mão do professor, lá estava à espera daqueles que não respeitassem a regra nesse tempo. E a regra era saber tudo “na ponta da língua”.

Em minha opinião, qualquer rio, grande ou pequeno, não tem uma, mas sim um sem-número de nascentes. Fui ver nos livros e na Net o que se continua a dizer sobre este tema. No caso de alguns dos nossos rios, pode ler-se que o rio Minho nasce na Serra de Meira, em Espanha, na Galiza; que o rio Lima nasce no monte Talariño, em Espanha; que o rio Douro nasce na Serra de Urbión, em Espanha; que o rio Mondego nasce na Serra da Estrela, no sítio do Mondeguinho; que o rio Tejo nasce na Serra de Albarracim, em Espanha; que o rio Sado nasce na Serra da Vigia (Ourique); e que o rio Guadiana nasce nas Lagoas de Rubiera, em Espanha.

Os principais rios de Portugal. (© RTP Ensina)

Face a esta visão tradicional, estereotipada em gerações de livros, quanto a mim, profundamente errada, o professor tem de explicar aos alunos que esta noção de nascente de um rio é uma ideia vinda dos geógrafos e exploradores do passado, sem suporte científico. Trata-se de uma ideia convencional que nega a realidade. Nesta ideia, convencionou-se “colocar” a nascente do rio na mais afastada das inúmeras cabeceiras da respectiva rede hidrográfica. É aquela, podemos dizer, que “torna” o rio mais comprido. Na realidade, o rio recebe toda a água que cai na sua bacia hidrográfica. Esta água é toda a que escorre à superfície das vertentes (água de escorrência), a que corre canalizada no fundo dos vales de afluentes e subafluentes e, ainda, toda a que se infiltra no terreno da respectiva área que alimenta os aquíferos e brota, aqui e ali, em inúmeras nascentes.

Rios da Serra da Estrela. (© Passadiços do Mondego)

NOTAS:

Rede hidrográfica – conjunto que engloba o rio e os seus afluentes e subafluentes.

Bacia hidrográfica – área em que as águas precipitadas são conduzidas para uma rede hidrográfica, ou seja, a área total drenada por um rio e seus afluentes e subafluentes.

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(*) Artigo no âmbito do programa “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa”, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.

28/07/2022

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A. M. Galopim Carvalho

Professor universitário jubilado. É doutorado em Sedimentologia, pela Universidade de Paris; em Geologia, pela Universidade de Lisboa; e “honoris causa”, pela Universidade de Évora. Escritor e divulgador de Ciência.

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