As pedras e as palavras
As pedras e as palavras foram dois mares em que naveguei por longos períodos da minha vida. É o título de um livro que publiquei vai para uma dezena de anos, onde inseri este texto que, agora, reescrevi num ritmo como se de um poema às pedras se tratasse.
Para o cidadão comum, pedra – do grego petra – é uma entidade natural, rígida e coesa, que se apanha do chão e faz mossa onde quer que bata. São muitos os topónimos relacionados com a ideia de pedra, quer na versão original grega quer na portuguesa. Pedra Furada é uma localidade no concelho de Barcelos e de mais duas no concelho de Sintra. Pedra Maria é uma aldeia do concelho de Felgueiras. No plural, Pedras Rubras é um lugar do concelho da Maia, onde se situa o Aeroporto Internacional Francisco Sá Carneiro. Aumentativo de pedra, Pedrão é um município brasileiro no estado da Bahia; e padrão, o marco que os nossos navegadores deixaram nas rotas dos Descobrimentos. Pedralva ou pedra branca é o nome de um município do estado brasileiro de Minas Gerais e também o de uma aldeia do concelho de Vila do Bispo, no Algarve. Pedroso (Vila Nova de Gaia), Padroso (duas freguesias, uma em Montalegre e outra em Arcos de Valdevez), Alter Pedroso (Alter do Chão), Pedrouços (Lisboa), Pedregal (Barcelos) e Pedrancha (Trouxemil, Coimbra) são outros topónimos derivados de pedra. Mas há, ainda, Pedrela ou Padrela, uma das serras de Trás-os-Montes; e Padrela e Tazem, uma freguesia do concelho de Valpaços. Pedrulha que, no Português antigo, é sinónimo de cascalho, deu nome a uma localidade do concelho de Coimbra.
Pedrês é a galinha salpicada, num granulado de preto e branco, como o granito. Pedregulho corresponde ao matacão dos geólogos brasileiros. Despedrega é o acto de retirar as pedras de dentro do solo, a fim de o preparar para o cultivo. E pedreiro, que tanto é o operário que trabalha a pedra, como é o nome que se dava aos morteiros de grande calibre que lançavam pelouros de pedra. Empedrar, pedregoso, pedregal e pedrisco são outras palavras radicadas no mesmo étimo.
Pedro, nome de gente, vem de pedra. “Tu és Pedro e sobre ti levantarei a minha Igreja”, disse Jesus ao discípulo. Pedrógão, do latim petroganum, também chamado Pedrógão do Alentejo, é uma freguesia portuguesa do município de Vidigueira. Mas também podemos encontrar Pedrógão Grande, que é uma vila portuguesa do distrito de Leiria; e ainda Pedrógão Pequeno, que é uma freguesia e vila portuguesa do município da Sertã.
Na forma peder, temos pederneira ou pedernal, a pedra-de-fogo que os nossos avós usavam nos bacamartes; ou com que os tetravós destes talhavam machados, facas e pontas de seta; a par de empedernido, nome (qualificativo) dado àquele que é insensível como a pedra.
Petra é a antiga cidade da Jordânia, repleta de monumentais ruínas escavadas na rocha.
Com o mesmo étimo, petróleo é o óleo saído do chão, de dentro das pedras; petrologia, a ciência que estuda as pedras; e petrólogos, os seus cultores. Petrificados ficamos quando uma notícia nos gela o sangue e nos imobiliza. Num falar antigo, petrificados são os fósseis, ou seja, os restos dos seres vivos do passado que chegaram até nós, depois de mineralizados ou convertidos em pedra, isto é, por petrificação. Petrópolis, a “cidade imperial”, do estado do Rio de Janeiro, evoca o Magnânimo D. Pedro II, que lhe deu nascimento, e São Petersburgo é o nome da antiga Petrogrado, assim chamada em homenagem a Pedro, não o Santo, mas o Grande, de todas as Rússias.
Pera é fruto, mas também é pedra e é neste sentido que a palavra deu nome à freguesia de Pera no concelho de Silves. Pero é o nome arcaico de Pedro e Peres são os seus descendentes. Pero Vaz de Caminha e Pero da Covilhã são nomes conhecidos da nossa História. E Pero Botelho é o Diabo que não pára de rugir na caldeira que tem o seu nome, no sítio das Furnas, na ilha açoriana de S. Miguel.
Pereira, no concelho de Montemor-o-Velho, alude a pedra, não à árvore. E Pereiro é o nome de uma aldeia no concelho de Mação. A antiga Castanheira de Pedrógão, no distrito de Leiria, mudou de nome, a meados do século XIX, para Castanheira de Pera, expressão em que o segundo nome também alude a pedra e não ao fruto. Em Peraboa, freguesia no concelho da Covilhã, havia, ao que se diz, uma rocha de boa qualidade. Com o mesmo étimo, Peralta, ou pedra alta, é um município espanhol na comunidade de Navarra e Peramanca e Perafita são nomes de sítios na região de Évora que evocam grandes marcos de pedra. Estas pedras ou estavam “mancas”, isto é, tombadas, ou ainda se mantêm “fitas”, maneira antiga de dizer erguidas, na postura fálica em que as colocavam os nossos antepassados do período megalítico e que os estudiosos da Pré-história divulgaram sob o nome de menhires (ou menires), mantendo a expressão original bretã men hir, que significa pedra comprida. Perolivas, localidade da mesma região, quer dizer pedra verde, cor de azeitona, a cor habitual do anfibolito e de alguns xistos. Pera Velha é uma freguesia do concelho de Moimenta da Beira e Pera Longa, uma urbanização na freguesia de Tortosendo (Covilhã).
Em Galês, pedra diz-se lech, de onde a palavra cromlech, que significa grande pedra arredondada, já usada no século XVII, para designar este outro tipo de monumento megalítico, de que temos magnífico exemplo no cromeleque dos Almendres, no concelho de Évora, a que os naturais deram o nome de pedras-talhas, dado que os respectivos megálitos têm a forma das tradicionais talhas de barro em que ainda se guarda o vinho.
Todos falamos de rocha, palavra, entre nós, muito mais recente do que pedra, por adaptação do francês roche, e com idêntico significado. Dizemos rochedo quando o afloramento de rocha é grande e apelidamos de rochoso um terreno com a rocha à vista. A palavra é um galicismo que, entre nós, se sobrepôs ao termo roca, bem mais antigo, talvez pré-romano. Cabo da Roca – ou “Focinho da Roca”, no dizer dos homens do mar – deve o seu nome a esta versão arcaica da palavra “rocha”. O mesmo termo está na origem das palavras enrocamento, com que se designa o acto de proteger com blocos de rocha certos pontos da linha de costa face à acção erosiva das vagas; derrocada, com o significado de queda ou desmoronamento de rochas ou de um edifício; e rocaille, a expressão artística, nascida em França, em finais do século XVII, inspirada nas rochas.
Do castelhano peña, o cume rochoso de uma elevação do terreno. A nossa palavra penha deu nome a Penha Garcia, freguesia do concelho de Idanha-a-Nova, assim como às conhecidas Penhas Douradas e Penhas da Saúde, na serra da Estrela. Sinónimo de “rochedo”, penhasco está na base do topónimo Penhascoso, freguesia do concelho de Mação, que lembra o carácter rochoso do sítio.
Com o mesmo significado, o étimo pena deu nome ao Castelo da Pena, em Sintra, edificado no alto de uma penedia, à semelhança de outras que marcam certos cumes rochosos desta serra, a oeste de Lisboa. Penalva do Castelo deve o seu nome à alvura da penha onde se erigiu aquela fortificação medieval. Penela ou penha pequena é topónimo de uma vila do distrito de Coimbra, anterior à nacionalidade, nascida em torno do castelo que marca o cimo dos rochedos de arenito do Triássico. Com a mesma raiz, Penedo é uma localidade na freguesia de Colares, Penedono, um município do distrito de Viseu, e Peneda, a serra.
Alusivos a pena e com raiz no latim pinna, Pina é apelido de gente e pináculo, um cimo rochoso e pontiagudo ou, em sentido figurado, o ponto mais alto de uma construção.
Vindo do pré-romano, barroco tanto significa pedra como barranco, o sulco que a água das chuvas escava no terreno, tornando-o irregular e pedregoso. É, ainda, o estilo artístico, que floresceu na Europa, entre o final do século XVI e meados do século XVIII, envolvendo sobretudo, as das artes plásticas, da música e da literatura, que se opôs ao classicismo da Renascença. Barrocal é a paisagem pedregosa que marca o jurássico calcário algarvio e barroqueiro, a pedra que se apanha do chão e se arremessa. A mesma a que o alentejano e o algarvio chamam bajoulo, num regionalismo muito seu.
De origem antiga, duvidosa, talvez do pré-romano canthus, dispomos também para expressar a mesma ideia, do vocábulo canto. Sinónimo de “pedra” na língua de Cervantes, este termo, muito pouco empregue entre nós, é de uso frequente na vizinha Espanha (cantal, em catalão). Dele derivam, entre nós, cantaria, a pedra talhada, normalmente em blocos paralelepipédicos, muito usada na construção civil de maior importância, antes do advento do betão armado. Canteiro tanto designa o profissional desta arte, como a porção de terra do jardim ou da horta onde se plantam flores ou hortaliças, canteira é versão menos comum de pedreira (cantera, em castelhano) e chamamos cântaros aos cumes graníticos da serra da Estrela. Radicados no mesmo canthus, dispomos, ainda, cantil, a ferramenta com que o escultor alisava a pedra, sendo curioso notar que alcantil, com o mesmo étimo, chegou-nos através do árabe al kantil, que refere o escarpado ou cume rochoso, alcantilado.
Em alusão à ideia de pedra usamos, ainda, a palavra latina lapis. Com efeito, era de pedra o lápis feito de ardósia da nossa infância. Deste étimo nasceram expressões mais ou menos correntes como lapiseira, lápide ou lápida, lapídeo que significa petrificado e insensível, lapidoso ou pedregoso e lapidificação que é o mesmo que petrificação, mas que também é uma forma cruel e desumana de execução, entre os fundamentalistas islâmicos, apedrejando os condenados até à morte.
Lapidar é talhar a pedra, quer a ornamental, em cantaria, quer a preciosa, com vista à joalharia. Como adjectivo, quer dizer basilar, fundamental. Lapidários são os manuscritos da Idade Média que falam das pedras, em especial das suas propriedades medicinais e mágicas, com descrições fantasiosas em torno delas, numa época em que mineral e pedra se confundiam. Lapidadas são as mulheres muçulmanas, vítimas da referida sentença de morte, e as pedras preciosas que enriquecem as jóias dos que têm gosto e posses para as adquirir, sendo o lápis-lazuli (pedra azul) uma delas.
Lapidicidas diz-se dos moluscos que perfuram as pedras para aí se alojarem, lapidículas são as águias e outras aves que fazem ninhos entre pedras ou nas fendas dos rochedos. Lapilli é o termo italiano adoptado pelos nossos vulcanólogos para nomear um tipo particular de produtos piroclásticos, para os quais já dispúnhamos da expressão açoriana bagacina.
Na Antiguidade, mármore designava toda a pedra susceptível de ser usada em cantaria, como o mármore propriamente dito, o alabastro, o calcário, o arenito fino, bem consolidado, como o do Triássico germânico (Buntsandstein) e o basalto (ou “mármore negro”, como lhe chamou o naturalista romano Plínio, o Velho, no século I). Pedra ornamental por excelência, abundantemente usada na estatuária, o mármore é, para os geólogos, a rocha resultante do metamorfismo do calcário submetido a temperaturas e pressões elevadas, em profundidade, no decurso da formação das montanhas. Marmório é o que tem o aspecto de mármore e marmorear é o acto que confere esse aspecto.
Na mesma linha de pensamento há, ainda, que relacionar o elemento de composição culta lito, saído do grego, lithós, que encerra a ideia de pedra ou rocha. De uso restrito a estratos mais avançados em termos de escolaridade e de vivência sociocultural, refere-se por Litologia a disciplina interessada no estudo das rochas, por litogénese as suas origens e por litosfera a capa rochosa que envolve a Terra, formando os continentes e o substrato dos fundos oceânicos. Litografia e litogravura, Paleolítico, Mesolítico, Neolítico, Calcolítico e Megalítico são designações que distinguem sucessivas fases da Pré-história do Homem ou qualificam acções ou produtos com ela relacionados. Pirólito, batólito, facólito, fonólito, riólito e micrólito, litificação e litoclasto são termos correntes no jargão geológico, mas que dizem muito pouco ao cidadão comum. Litófagos são os moluscos bivalves que perfuram a pedra onde se encaixam e de litíase falam os médicos relativamente à formação de estruturas sólidas, as vulgaríssimas “pedras” ou cálculos renais e biliares.
Muitíssimo menos divulgado, mesmo entre os geólogos, mas bem conhecido dos cultores da língua e estudiosos dos seus percursos semânticos, temos ainda o elemento de composição culta, sax, que exprime igualmente a ideia de pedra. Oriundo do latim, o elemento saxus compõe as palavras sáxeo e saxoso, duas formas eruditas de dizer pedroso ou pedregoso, saxátil, o que vive entre as pedras, saxícola, que tanto é o indivíduo que habita as penedias como o idólatra que presta culto aos deuses de pedra, e saxífragas, as plantas cujas raízes penetram as fissuras da pedra alargando-as.
Passando ao uso popular, saxus deu seixo, pedra dura ou pedra bruta que, com o tempo e para as gentes do Litoral Sul, passou a referir, em geral, os fragmentos mais ou menos arredondados das praias ou dos rios. Para alguns sítios do Interior Norte e serrano, o termo “seixo” é empregue para denominar os clastos angulosos de quartzo filoniano espalhados no terreno por desmantelamento e erosão dos respectivos filões, onde, em alguns casos, se explora esta variedade de sílica.
Seixal, quer a cidade e o concelho a sul do estuário do Tejo quer a povoação na costa norte da ilha da Madeira devem o nome à abundância de seixos rolados ali concentrados, no primeiro caso, de quartzito, pelo transporte fluvial do Tejo e, no segundo, de basalto, por acção das vagas. Em alusão ao referido carácter anguloso, subentendido na palavra seixo, Têm essa conotação as localidades Seixinho (distrito da Guarda), Seixal (distrito de Viseu) e Seixoso (no distrito do Porto). A associação de seixo ao quartzo filoniano está ainda patente na expressão seixo-bravo usada, no Norte do país, para referir os filões quartzosos estéreis, isto é, sem minério. Chama-se seixeira à escavação de onde se extraem seixos para diversos fins industriais, qualificam-se de seixosos os respectivos locais e seixebrega é a planta usada em tisanas, como mezinha, para dissolver as pedras dos rins.
O vocábulo fraga, que nos chegou vindo do latim hispânico, fragum, é o mesmo que penha ou penhasco e fragoso significa pedregoso ou penhascoso. Fraguedos, fragais e fragarias são penedias, do mesmo modo que fragaredos (como se diz em Trás-os-Montes) e fragueiros, que referem os que vivem nas montanhas, entre fragas.
O termo latino silex que, na origem, significa pedra, passou ao português na versão sílex (sílices, no plural), mais conhecido por pederneira. Radicam neste termo silício, o nome do elemento químico, e os seus derivados sílica, silicato, silicito e silicon.
Mas há ainda outras palavras, na nossa linguagem comum, associadas à ideia de “pedra”, tal a sua importância na vida da Humanidade. E comecemos por cálculo, a expressão erudita para referir a “pedra” das litíases biliares e renais, mas que também dá nome ao acto de calcular. Com efeito, calculu, do Latim, significa pedrinha (o sufixo ulu é um diminutivo), e com pedrinhas se contava e faziam contas na Antiguidade, e que hoje fazemos por via electrónica nas modernas calculadoras.
Também com raiz no latim calx, a nossa palavra vulgar cal designa a pedra branca que, uma vez regada com água, dá a calda com que ainda se branqueiam as paredes nas aldeias e montes que distinguem o Alentejo e o Algarve das restantes regiões do país. Designa, ainda, a argamassa que se usava antes da descoberta do cimento. Cal veicula a ideia de pedra e com pedras a servirem de lastro se calavam os barcos quando, sem carga, se faziam ao mar. Com o mesmo étimo, dá-se o nome de calado à profundidade a que se situa o ponto mais baixo do casco de uma embarcação, em relação à superfície da água em que se encontra mergulhada.
Com a mesma origem, calcário é a rocha sedimentar com que se faz a cal, calçada é o revestimento com pedras e calceteiro é o artista que celebrizou, no Mundo, a calçada portuguesa. O mesmo étimo está na base de calçado, de calcanhar e do respectivo osso, o calcâneo, assim como de cálcio, o elemento químico, e o mais abundante dos seus minerais, a calcite. Calçar é meter uma pedra por baixo daquilo que queremos que fique firme e calcar o chão é dar-lhe a compactação da pedra. Caleiras são sulcos ou regos inicialmente empedrados, tendo o nome sido generalizado, depois, ao mesmo tipo de aparato ainda que feito com outros materiais. Mas caleira ou caieira (termo usado no Alentejo) é o forno de cal, caleiro ou caieiro, o homem que a fabrica e/ou a vende, sendo caiador o que se serve da cal para caiar; e caios, as ilhas rasas, feitas de areia calcária, dos mares recifais das Caraíbas.
Com origem no gaulês caljo (do mesmo modo que o francês caillou), temos calhau, que tanto refere a pedra que se apanha no chão como o seixo rolado do rio ou da praia. Calle é a rua ou a calçada dos nossos vizinhos espanhóis, com correspondência para Português em calhariz e em calheta que, no mundo rural do Continente, se usa para referir um atalho por onde passam os rebanhos e que, nas ilhas, significa pequena enseada ou abrigo na costa rochosa.
E as referências à pedra, sempre ligadas ao nosso quotidiano, desde os tempos mais recuados, não cessam de no-lo lembrar. Lapa, vinda do pré-céltico, é uma pedra que forma um abrigo natural, lapão o respectivo aumentativo e lapedo, um sítio de muitas lapas.
Com significados afins e de origem incerta, talvez pré-romana, temos, ainda, respectivamente, laje, lajedo e lajão.
De origem obscura, dispomos dos termos rebo e gobo que significam calhau rolado, e os seus equivalentes minhotos, gode e godo, e o transmontano gogo, o grande seixo liso, no geral, de quartzito, em que o sapateiro batia a sola.
Burgau é o nome de uma praia algarvia, na região de Vila do Bispo, assim chamada em virtude da presença significativa de calhaus, seixos, burgos ou burgaus.
Cascalho e cascalheira são substantivos colectivos que designam acumulações ou depósitos de calhaus ou seixos, de tamanho a caber numa mão. As duas palavras radicam no latim quassicare, que significa fragmentar, étimo que está na origem de casca, o invólucro quebradiço do ovo, e o nome que se dava às conchas de bivalves que se encontram nas praias, razão de ser do nome da vila de Cascais.
De uso regional, conhos, do latim cuneus, indicam tanto os penedos arredondados emergentes a meio do rio, como os calhaus rolados, geralmente, de quartzo de quartzito, próprios das aluviões fluviais. No Tejo e no Zêzere, entre outros rios do centro do País, fala-se de conheiras, extensos amontoados de conhos, deixados pela prospecção e lavra do ouro, levadas a efeito em grande escala, ao tempo da ocupação romana do nosso território.
Rupi ou rupe são mais dois elementos de composição culta, de origem latina, que veiculam a ideia de pedra, sendo por isso que qualificamos de rupículas os animais que vivem entre rochas e que adjectivamos de rupestres as gravuras e as pinturas deixadas nas paredes rochosas pelos nossos antepassados pré-históricos.
Para os Romanos, gemma era o nome que se dava às pedras preciosas, algumas delas descritas por Plínio, o Velho, e que continuamos a usar na versão portuguesa gema. É por esta razão que damos o nome de sal-gema, ao mineral halite, para o distinguir do cloreto de sódio extraído das marinhas ou salinas. Gemologia é a disciplina que estuda as gemas e gemólogos os seus cultores.
Psephós, a palavra grega que significa seixo é, também, sinónimo de voto ou de sufrágio, porque, entre os Gregos, os votos eram contados com pequenos seixos. Em provas académicas nas nossas universidades, as votações eram feitas, sob sigilo, com “pedras” ou bolas brancas e pretas, lançadas numa urna. Psefógrafo é o aparelho destinado à contagem de votos em assembleias eleitorais; Psefologia, a disciplina que estuda os resultados desses actos; e psefólogo o estudioso desta matéria. Com o aportuguesamento de um termo surgido na Alemanha, em meados do século XIX, psefito é o nome de uma classe de rochas sedimentares essencialmente constituída por seixos ou calhaus.
Com o mesmo significado, rudito, do latim rudus, alusivo a rude e rudimentar é o termo erudito, surgido na América, em começos do século XX, dado a um calhau, pouco trabalhado, tosco, isto é, calhau pouco ou nada boleado pelo transporte.
No Brasil, o étimo ita, do Tupi-guarani, falado pelos índios, quando os Portugueses ali chegaram, traduz a ideia de pedra e figura na composição dos nomes de duas localidades de Minas Gerais, Itabira e Itacolumi, e de duas rochas, muito especiais, oriundas dessas regiões, itabirito, um arenito flexível, e itacolumito, um importante minério de ferro.
Divergente de ita, segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, o sufixo culto ite, do grego ités, é usado, entre Franceses e Ingleses, na formação de nomes quer de minerais quer de rochas. Entre nós, este sufixo é apenas utilizado nos nomes de minerais (pirite, calcite, dolomite, grafite, etc.). Para as rochas, os petrógrafos portugueses da segunda metade do século XX, adoptaram a terminação ito (granito, quartzito, dolomito, antracito, etc.).
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08/02/2024