As venturas e desventuras de um Agosto inquieto

 As venturas e desventuras de um Agosto inquieto

(© CNS photo/Vatican Media – omnesmag.com)

Um mês de Agosto, tradicionalmente de férias e de descanso físico e intelectual, transformou-se, neste ano, num mar de inquietações, algumas espirituais e outras materiais, todas elas nebulosas, confusas e preocupantes. Para além dos fogos martirizantes e criminosos que roubaram vida e tranquilidade a muita gente boa.

Factos: um líder partidário assinou uma petição de culpa, com selo de consciência pesada, por não ter comparecido a um encontro com o Papa Francisco, no qual tinha lugar garantido por direito constitucional.

Fez, por escrito, um “mea culpa” dirigido ao chefe da Igreja Católica, tentando retratar-se, mas não se redimir, que terá servido para se reafirmar perante as suas bases de formação católica, desperdiçado o tempo político de as submeter a um escrutínio perfeitamente descabido e irracional.

Francisco é muito mais do que um Papa.

É um mensageiro, um profeta da verdade, uma razão espiritual, um Ser Humano que se levanta por todos e se recomenda por todos, cumprindo a missão do Todo que representa nas vestes brancas do Vaticano, símbolos da pureza que muitos católicos não têm e que muitos padres rejeitaram.

Francisco não é aceite por esses, mas também não precisa deles para que a Igreja recupere credibilidade.

(Créditos fotográficos: DR – rtp.pt/madeira)

Da mesma forma, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa deixou de ser Santa e Misericordiosa, para se transformar, subitamente, num albergue de mentes capitalistas e redutoras que querem transformar uma instituição de auxílio social e de apoio aos mais necessitados, num “ministério” concebido para obter lucros, para criar riqueza, para funcionar de fora para dentro e não de dentro para fora, numa boa aplicação dos dinheiros públicos provenientes de jogos e de jogos e de jogos, desde a lotaria ao Totoloto, passando pelas raspadinhas, pelo Placard e pelo Euromilhões.

Se há má gestão das verbas obtidas é um caso de competência ou de polícia. Mas cortar nos apoios para melhor gerir os lucros, ou para os garantir, não faz qualquer sentido.

São desventuras. De facto, são.

Mas são ainda mais: são lições a ter em conta. Vale a pena meditar no seu significado e extrair conclusões.

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21/08/2023

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Fernando Correia

Fernando Lopes Adão Correia nasceu em 1935. É jornalista, autor e comentador de rádio e de televisão. Começou na Emissora Nacional, aos 19 anos, e passou pelo Rádio Clube Português, pela RDP, pela TSF-Rádio Jornal, pela TVI, pelo jornal vespertino A Capital, pelo jornal O Diário, pelo Record e pelo Jornal de Notícias, com textos publicados em vários outros jornais e revistas. É autor de 43 títulos, entre os quais se destacam os recentes livros: “E Se Eu Fosse Deus?”, “O Homem Que Não Tinha Idade”, “Piso 3 – Quarto 313”, “Diário de Um Corpo Sem Memória”, “São Lágrimas, Senhor, São lágrimas” e “Um Minuto de Silêncio”. O seu próximo livro (a publicar) chama-se “A Mística do Tempo Novo” e é um ensaio filosófico, de auto-ajuda e acerca da construção do Homem Novo. Dos programas que realizou e apresentou na rádio destacam-se: “Programa da Manhã”, “De Um Dia Para o Outro”, “Falar é Fácil”, “Lugar Cativo” e “Bancada Central”, título que, agora, recupera no jornal sinalAberto. Deu aulas de Ciências da Comunicação e de Sociologia da Comunicação no Instituto Piaget, na Universidade Autónoma de Lisboa (como convidado), no centro de formação Palavras Ditas e na Universidade do Algarve (também como convidado).

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