Asneiras presidenciais

 Asneiras presidenciais

(Créditos fotográficos: Linda Melo – jpn.up.pt)

O verbo “asneirar” tem presença certa nas intervenções públicas do Presidente da República e do presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP). E se é certo que, no caso do mais alto magistrado da nação, as asneiras são, há muito, a sua imagem de marca, a verdade é que, agora, são mais constantes, risíveis e grotescas.

Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. (zap.aeiou.pt)

Provam-no o comentário sobre o decote de uma jovem, em Montreal, na sua recente visita de Estado ao Canadá, junto da comunidade emigrante portuguesa, quando se cruzou com mãe e filha, ambas de Esposende, estabelecendo o seguinte diálogo:

“– A filha é mais bonita do que a mãe.
– E somos as duas Marias.
– Mas a filha ainda apanha uma gripe. Já viu bem o decote?”

E aqueloutro comentário, quando se deslocou a Alcáçovas, em Viana do Alentejo, numa iniciativa à margem do início das comemorações do cinquentenário do 25 de Abril, dizendo a uma jovem cidadã que ia sentar-se para uma fotografia de grupo: “A cadeira aguenta?”

(Fotografia: captura de ecrã a partir do programa “Isto é Gozar Com Quem Trabalha”/SIC – delas.pt)

Também o edil do Porto, Rui Moreira, tem preenchido os seus dias com asneiras. Começou com o ataque ao treinador do seu clube (Futebol Clube do Porto), do qual é membro do Conselho Superior: “Temos um treinador falhado.” O presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP) prosseguiu com a investida contra a estátua de Camilo Castelo Branco no Largo Amor de Perdição e com a revelação pública de uma troca de mensagens com uma deputada municipal do seu movimento ou grupo independente, Isabel Ponce de Leão.

Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. (Créditos fotográficos:
Pedro Correia / Global Imagens – jn.pt)

Tal aconteceu em plena Assembleia Municipal, na última segunda-feira (18 de Setembro). E deveu-se ao facto de Isabel Ponçe Leão, que também preside à Comissão de Toponímia, considerar que, com a polémica em torno da remoção da estátua “Amores de Camilo”, perdeu “a democracia, o bom senso e o Porto”.

Antes, o autarca já tinha asneirado em artigo publicado no jornal Público, no qual, depois de destacar a notabilidade dos “37” e de confessar que não é moralista e de estátuas nada perceber, considera a obra de Francisco Simões “pornograficamente horrenda.”

Tão evidente coerência está de acordo com aquela que revelou quando não deu cavaco ao pedido de uma audiência feita pelos primeiros subscritores da petição pública, assinada por 5103 cidadãos, “Não Deixaremos Morrer A Seiva Trupe”.

Coerentemente, o presidente da CMP gosta de fazer a vontadinha a uma imensa minoria e detesta ouvir a razão das maiorias. Daqueles que clamam contra a injustiça protagonizada pelo seu amigo Pedro Adão e Silva para com uma “Seiva” que resiste há 50 anos e que é um dos símbolos maiores da cidade a que preside e do qual diz ser admirador…

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Nota do Director:

O jornal sinalAberto, embora assuma a responsabilidade de emitir opinião própria, de acordo com o respectivo Estatuto Editorial, ao pretender também assegurar a possibilidade de expressão e o confronto de diversas correntes de opinião, declina qualquer responsabilidade editorial pelo conteúdo dos seus artigos de autor.

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21/09/2022

 

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Soares Novais

Porto (1954). Autor, editor, jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP). Publicou o romance “Português Suave” e o livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”. É um dos autores portugueses com obra publicada na colecção “Livro na Rua”, que é editada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Tem textos publicados no "Resistir.info" e em diversos sítios electrónicos da América Latina e do País Basco. É autor da coluna semanal “Sinais de Fogo” no blogue “A Viagem dos Argonautas”. Assina a crónica “Farpas e Cafunés”, na revista digital brasileira “Nós Fora dos Eixos”.

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