“Bica” despejada
O bairro da Bica venceu a edição deste ano (89.ª edição) das Marchas Populares de Lisboa. A “Bica” já não vencia desde 2003. Por essa razão, houve festa rija no bairro, que se mete entre o Bairro Alto e o Cais do Sodré.
Não admira: “Quando a Bica tem que mostrar quem é, / Tem sempre alegria até ao fim / À rua não vem quem lhe bata o pé, / Onde ela chegar é sempre assim.”
“A Marcha da Bica”, então, cantada por Fernando Farinha, foi escrita por Frederico de Brito (1894-1977), popularmente conhecido por Britinho, que foi estucador e taxista, antes de se tornar poeta e compositor de renome. Na edição de 2023, as marchas da Bica e de Alfama foram as que tiveram as melhores letras.
A “Bica”, que nos atira com o Tejo aos olhos e mostra com garbo os seus edifícios coloridos e varandas recheadas de flores e roupas nos estendais, é hoje palco da especulação imobiliária e recheado de Alojamentos Locais (AL).
Tanto que o Marítimo Lisboa Clube, que, há muito, é o útero quente dos marchantes da “Bica”, foi despejado do número 36 da Calçada da Bica Grande, uma das mais bonitas de um bairro cheio de calçadas, escadinhas e quelhas.
A venda a retalho das cidades é coisa que parece não preocupar o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, nem os edis de Lisboa, do Porto e de outras cidades. As suas gentes bem podem ir viver para as periferias ou para as ruas das urbes. Mesmo que, no próximo Natal, voltem a fazer uma ronda pelos sem-abrigo e chorem “lágrimas de crocodilo”…
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15/06/2023