Biodiversidade e geodiversidade

 Biodiversidade e geodiversidade

São Miguel, Açores. (Créditos fotográficos: Rui Silvestre – Unsplash)

De biodiversidade, ou seja, do conjunto das espécies biológicas que povoam o nosso mundo, não só falam muito e bem, biólogos e ambientalistas, como políticos. Uns com propósitos sérios e outros não tanto assim. O mesmo não acontece com a geodiversidade (que, não é demais lembrar, constitui o suporte da biodiversidade) exposta à superfície do planeta ou oculta nas profundezas oceânicas, onde ecossistemas muito particulares vieram revolucionar as nossas ideias sobre a origem da vida.

Numa primeira aproximação, “geodiversidade” pode ser entendida como o conjunto de todas as ocorrências de natureza geológica.

A Natureza é una e indivisível e é geobiológica. Canyonlands National Park, Utah, nos Estados Unidos da América. (Créditos fotográficos: CMS – wikiciencias.casadasciencias.org)

Em terra e em condições favoráveis, os agentes atmosféricos alteram a capa externa das rochas dando origem ao solo, uma entidade presente na imensa maioria das terras emersas, na interface da litosfera com a biosfera, a atmosfera e a hidrosfera.

Sem solos não haveria prados, nem charnecas nem florestas, assim como nem hortas, nem searas e nem olivais; nem toda a biodiversidade animal que povoa a superfície da Terra.

(Créditos fotográficos: NASA – Unsplash)

Sabemos, hoje, que a atmosfera que nos rodeia e nos assegura a vida é o resultado de uma interacção constante e contínua que sempre existiu, sobretudo, entre os seres vivos e a cobertura gasosa do planeta. Muito diferente da actual, a atmosfera primitiva não tinha oxigénio. Foram organismos muito simples, como cianobactérias e algas marinhas microscópicas que produziram, por fotossíntese, todo o oxigénio que viria a ser necessário à respiração dos animais. Trata-se de um processo que continua a ser assegurado por todas as plantas que nos rodeiam.

É por isso que dizemos que os parques arborizados, no interior das cidades, são os seus pulmões. E é por isso que lutamos pela defesa de todas as florestas, de todas as latitudes e altitudes, das quentes e húmidas, como a amazónica, à taiga canadiana e siberiana, pois são elas que fabricam a parte mais importante do ar que respiramos.

(Créditos fotográficos: Rural Explorer – Unsplash)

As rochas, a água, o ar e os seres vivos ou, por outras palavras, a litosfera, a hidrosfera, a atmosfera e a biosfera conviveram entre si ao longo da história do “Planeta Azul”. Deste modo, a biodiversidade que, actualmente, nos rodeia é uma consequência dessa interacção, sendo o cérebro humano o mais recente e complexo resultado desse convívio.

Para além das rochas, dos minerais, dos fósseis e dos solos, a geodiversidade abarca outros temas de estudo, não menos importantes, como a erosão, os rios, os glaciares e os desertos, o nascimento e a evolução das montanhas e das aplanações, os vulcões, os sismos e a deriva dos continentes. Os recursos minerais, nomeadamente, os minérios de ferro, de alumínio, de cobre, de ouro, de lítio e muitos outros, bem como as fontes energéticas, sejam elas os combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural), a geotermia ou o nuclear, foram e são determinantes na História da Humanidade.

As águas subterrâneas e o conhecimento dos terrenos, com vista à construção de barragens, de pontes, de estradas e de outras grandes obras de engenharia são suportes fundamentais da civilização. Todos estes domínios da geodiversidade e, ainda, a defesa do ambiente natural e a preservação do património geológico e paleontológico representam aspectos práticos ao serviço da sociedade em desenvolvimento sustentado, com profundas implicações económicas, sociais e políticas, à escala local, regional e global.

(Créditos fotográficos: Pavel Neznanov – Unsplash)

Acresce ainda, e é bom não esquecer que, nos seus domínios fundamentais, a geodiversidade sempre teve a maior importância no pensamento filosófico, desde a Antiguidade aos nossos dias.

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26/10/2023

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A. M. Galopim Carvalho

Professor universitário jubilado. É doutorado em Sedimentologia, pela Universidade de Paris; em Geologia, pela Universidade de Lisboa; e “honoris causa”, pela Universidade de Évora. Escritor e divulgador de Ciência.

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