Bode expiatório
A expressão “bode expiatório” tem origem nas cerimónias hebraicas do Yom Kippur (o Dia da Expiação ou Dia do Perdão) realizadas na época, como parte dos Korbanot (Korban ou Qorban são os diversos tipos de sacrifícios e de ofertas dentro do Judaísmo) do Templo de Jerusalém.
Neste ritual da tradição judaica, descrito na Bíblia (no livro do Levítico), dois bodes e um touro eram levados ao local do sacrifício. Os sacerdotes sorteavam qual dos bodes ia ser queimado no altar dos sacrifícios (ou, então, cujo sangue iria marcar as paredes do templo), juntamente com o touro, e qual seria o bode expiatório.
Quanto a este segundo bode, o sacerdote executava sobre ele uma cerimónia em que punha as mãos sobre a sua cabeça e lhe confessava os pecados do povo de Israel.
Confessar os pecados ao bode tinha o significado de depositar nele todas as culpas do povo judaico, livrando-se assim dos seus próprios pecados. Depois, o bode era abandonado bem longe, ao relento, no meio do deserto ou na natureza selvagem, levando consigo e expiando todos os actos de algo que não tinha feito ou os pecados de toda a comunidade, para ser reclamado pelo anjo caído Azazel (segundo as crenças judaicas, cristãs e islâmicas).
Como regista Rainer Sousa, ao longo da História, “percebemos que várias minorias ou grupos marginalizados foram utilizados como bode expiatório de algum infortúnio ou fracasso”. Para este estudioso brasileiro, em certa medida, os Judeus “foram ironicamente alvo de sua própria tradição”, ao serem “culpados pela Peste Negra, na Baixa Idade Média, e – muito tempo depois – perseguidos na Europa pelos movimentos antissemitas”.
Actualmente, a expressão “bode expiatório” é usada em relação à pessoa ou à coisa à qual são atribuídas as culpas alheias.
08/09/2022