Carapau de corrida

 Carapau de corrida

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Haverá, certamente, outras explicações para a expressão popular “carapau de corrida”, mas esta que li e sobre a qual vou contar tem bastante lógica.

Tradicionalmente, nas lotas, o peixe é vendido pelo sistema de leilões invertidos, em que o leiloeiro começa por um preço elevado e vai, numa toada rápida, descendo o preço até um comprador dizer “chui”, como sinal de que determinada caixa foi arrematada.

(sesimbraepeixe.pt)

Outra caixa se seguirá e o processo é repetido. Nas lotas, o primeiro peixe a ser leiloado é o de maior qualidade, sendo, por isso, vendido a preço mais elevado.

Mas há sempre varinas que tentam comprar ao menor preço e se deixam ficar para os últimos leilões. Comprar ao menor preço nas lotas é, praticamente, sinónimo de arrematar o peixe de menor qualidade.

Estas varinas que se deixaram ficar para o fim tentam recuperar o tempo perdido, relativamente às peixeiras que tinham adquirido o peixe mais caro e de melhor qualidade (o qual tinha sido leiloado na lota em primeiro lugar), correndo para as vilas e cidades na intenção de venderem o seu peixe, sobretudo, o seu carapau, tentando vendê-lo ao preço do de maior qualidade.

Litografia representando uma peixeira do Porto. Trata-se da reprodução de uma cromolitografia, a partir de aguarela original, publicada no “Álbum de Costumes Portugueses”, obra editada por David Corazzi, entre 1888 e 1890. (gisaweb.cm-porto.pt)

Na realidade, nem todas as freguesas se deixam enganar. As mais conhecedoras identificam logo o peixe de menor qualidade, dizendo que é “peixe de corrida” ou, mais precisamente, que é “carapau de corrida”. Ou seja, nem sempre a destreza e a esperteza das varinas compensam.

A página da Internet Ciberdúvidas da Língua Portuguesa – criada em 15 de Janeiro de 1997 a partir de uma ideia do jornalista português José Mário Costa, que a fundou com o também jornalista, já falecido, João Carreira Bom – indica que a origem da expressão “carapau de corrida” é obscura, como se regista no livro “Puxar a Brasa à Nossa Sardinha”, da autoria da jornalista Andreia Vale.

Outra explicação sobre a hipotética proveniência desta expressão popular atribui-se ao facto de os carapaus serem peixes muito rápidos. Contudo, não deixam de serem capturados nas redes de pesca. O que, por analogia, corresponderá à observação de que mesmo as pessoas que são ou julgam ser muito espertas também poderão vir a ser apanhadas ou desmascaradas.

(educacao.umcomo.com.br)

O termo, no entanto, passou para outros domínios. Hoje, comentar que alguém é “carapau de corrida” significa que esse indivíduo se julga mais esperto do que os outros, mostrando ser uma pessoa convencida. Também se usa a expressão “armar-se em carapau de corrida” para se aludir a alguém que tenta impressionar os outros com manifestações de exibicionismo.

Por sua vez, o Dicionário Priberam Online de Português confirma que a expressão “carapau de corrida” tem um uso informal e depreciativo e que se aplica a uma pessoa “que se considera muito esperta ou que se tem em alta conta”. Daí os exemplos: “Há gente armada em carapau de corrida que tenta passar à frente da fila. Noutro dia, no café, um carapau de corrida disse o mesmo.”

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21/09/2023

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Vítor Duque Cunha

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