Carlos Reis: “Quando a universidade se limitar a responder a encomendas, perde muita da liberdade de que jamais deve abdicar”

 Carlos Reis: “Quando a universidade se limitar a responder a encomendas, perde muita da liberdade de que jamais deve abdicar”

Carlos Reis (Foto de Pedro Loureiro).

De que havemos de falar com alguém que em vez de uma mera conversa jornalística merece um livro-entrevista e que ensinou gerações a descobrir o que antes não vislumbravam tão claramente nas linhas queirosianas? de que havemos de falar com alguém que reintroduziu o debate académico em torno da dimensão ideológica do neo-realismo — que umas décadas antes semeara ventos e tempestades em polémicas literárias (e partidárias) entretanto enterradas, e que passou o último meio século a desbravar livros, a escrever sobre eles e seus autores?; de que havemos de falar com alguém que passou a vida a ganhar prémios (Eduardo Lourenço e Vergílio Ferreira) e distinções, é professor convidado em prestigiadas universidades estrangeiras, é o atual comissário para o Centenário de José Saramago e foi diretor da Biblioteca Nacional? De que havemos de falar, pergunto-me ainda, com alguém que viveu a crise coimbrã de 1969 como o “soldado raso perplexo perante as coisas” e depois se tornou uma das maiores referências dos estudos literários? De que havemos de falar, afinal, com Carlos Reis, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que a 28 de setembro de 2020 deu a “Última Lição”, intitulada “Para uma releitura intermediática da ficção queiroseana?

A sua jubilação é só um pretexto para uma conversa que fatalmente, face a tanta dúvida, será um pouco vadia e diversa. Espreitaremos Angra do Heroísmo, onde nasceu e onde à socapa, por não ter ainda idade, se iniciou na leitura do Eça. Amor para a vida — e de perdição.  Pelo meio, haveremos de nos rir, quando ele confidenciar que a sua chegada a Coimbra, em 1968, para cursar Filologia Românica, proporcionou-lhe a primeira viagem de comboio! Recordaremos a certa altura Antero de Quental, outro açoriano que também andou a agitar ideias por Coimbra, e falaremos, claro, de ensino, da vida universitária e da sua mania ou secreto prazer de andar (e pensar) contra-a-corrente.  Querem uma amostra?…

“A relativa massificação da universidade traduziu-se, algumas vezes, em aligeiramento da exigência e em multiplicação de instituições que eventualmente ficam aquém, do ponto de vista qualitativo, do que entendo ser uma instituição universitária com forte componente de investigação, a par da componente de ensino rigoroso e exigente”. E um pouco mais adiante vai surpreender de novo, quando disser: “temos a ideia de que todos os alunos têm de gostar de ler. Ora, isso é uma ilusão. Nem todos têm de gostar de Biologia ou de Matemática ou de Física, Filosofia…”. Não deixará, por outro lado, de agitar uma pergunta a que não vai responder, mas sobre a qual deseja que se pense: “os professores, em especial de português, leem muito?, leem bem?, leem autores com qualidade?”. É o pensamento mais provocador em estado puro — que nos desafia e enriquece. Ainda bem.

Carlos Reis: Um professor universitário é alguém que leu mais, já viveu e pensou mais, tem mais dúvidas, enquanto um estudante está no princípio deste trajeto.

sinalAberto — A pandemia obriga-nos a falar à distância, uma entrevista via zoom. Como está a lidar com esta nova vida quase toda virtual, passada diante de um computador?

Carlos Reis — As nossas rotinas mudaram claramente. Pessoalmente não me posso queixar muito, pois nem se imaginam as dificuldades que algumas pessoas enfrentam, sobretudo aquelas com casas pequenas, animais, com crianças na escola à distância…E isso conduz-me a outra observação que é, talvez, a mais significativa: para o bem e para o mal tudo isto está a mudar as nossas vidas e as nossas atitudes civilizacionais. No último meio século habituámo-nos a uma espécie de síndrome do excesso. Excesso em tudo: de população, de proximidade…e, portanto, tudo isto criou na natureza — ou em deus — para quem é crente — um sinal de que não nos estávamos a comportar muito bem.  De resto, para quem conhece um pouco sobre o modo de vida oriental (estive uma vez no Japão e três na China), sabe que as populações desses países já antes desta pandemia usavam máscara nos espaços públicos, como se o meio ambiente lhes fosse de certo modo agressivo. Provavelmente, foi essa síndrome do excesso que provocou aquilo que estamos a enfrentar nos nossos modos de vida. Hoje uma pessoa está em Nova Iorque, mas 12 horas depois está em Berlim; de Berlim viaja mais umas 10 horas e está em Pequim e assim sucessivamente. Em suma: tudo isto mostra uma enorme possibilidade de circulação de pessoas, mas onde circulam muitas outras coisas, incluindo vírus. E eu não sei até que ponto nós teremos de repensar a nossa forma de vida e de relacionamento com a natureza, com os animais, uns com os outros. A ser assim, estaremos a aprender isso de uma forma muito dura.

Juan Gomez, Unsplash

sA — Jubilou-se em setembro de 2020. O que é que mudou na sua vida académica?

CR — Na minha vida atual não noto grande diferença, salvo não ter o encontro semanal com os estudantes. E talvez até o ser online me tenha perversamente ajudado a desligar-me de uma atividade que eu gosto muito: estar numa aula a falar para 40, 70 ou 80 alunos — cheguei a dar aulas para 150 alunos.  E aí há uma emoção e um empenhamento que eu não esqueço. Ficou muita coisa…e quando ainda hoje recebi — outros colegas meus receberão também, não será um exclusivo meu — uma mensagem de uma antiga aluna a dizer que eu tinha sido para ela uma grande inspiração, isto é muito gratificante. De resto, continuo na minha investigação no Centro de Literatura Portuguesa, em torno das personagens de ficção e das edições críticas do Eça, e sou o Comissário para o Centenário do José Saramago que decorre, sobretudo, no próximo ano. E não sou capaz de imaginar a vida sem livros para ler, textos para escrever…

sA — Iremos seguramente falar de livros e de leitura, mas permita que recupera essa ideia do trabalho online com os estudantes, porquanto é à distância que o ensino, incluindo o universitário, está a ser feito. Como sabe esta é uma questão que divide muitos professores. Qual é o seu entendimento sobre o assunto?

CR — Neste momento não há alternativa. Lamento muito, mas os números estão à vista e mostram isso. Sublinho, no entanto, que a questão não é apenas das escolas, mas dos circuitos que se fazem a caminho dela, o que se leva para lá, o que se traz para casa, etc. Bem sei que tudo isto tem um preço social, cultural, mas as escolas não vivem numa bolha isolada. É um pouco como o comércio de rua, restaurantes, tudo isso. E repare, eu que fui reitor da universidade Aberta [n.r.: especializada em ensino à distância] e quase toda a minha vida académica fui professor de uma universidade de ensino presencial, não tenho dúvidas que o ensino privilegiado é o presencial. É aquele em que estou numa sala, com os alunos, interajo com eles ao vivo, observo as reações, há toda uma espécie de contratualização que funciona para além de outros aspetos sociais que também são importantes. Os estudantes, no campus ou na escola, socializam entre si, fazem amizades, namoros, combinam saídas, coisas que fazem parte do processo de amadurecimento.

Dito isto, continuo a acreditar que para certos contextos e para certas populações e para certas idades (que não são as do ensino básico nem secundário), o ensino à distância tem potencialidades que são hoje conhecidas e reconhecidas em todo o mundo, e que só não são mais reconhecidas, em Portugal, por várias razões, entre as quais sobressai o preconceito para com o ensino à distância. É evidente que se me perguntassem se queria voltar ao ensino — agora que estou jubilado — e que tipo de ensino preferia eu optava pelo ensino presencial — até porque, é bom clarificar, o ensino como generalizadamente está ser feito, através de computador, é, em rigor, ensino emergencial online. Ensino à distância é outra coisa, é um sistema bem mais complexo.

sA — É curioso dizer isso, porque poucas vezes se terá falado tanto em estratégias pedagógicas e na utilização de meios tecnológicos no espaço da aula — e refiro-me ao ensino superior. Donde, emerge uma pergunta óbvia: qual o papel do professor, hoje, o que é que se espera dele?

CR — Quais foram as matérias, os temas, os conteúdos a que nós mais empaticamemte aderimos? Aquelas que nos foram comunicadas em aula por professor ou professora com quem nós tínhamos uma relação de empatia; por professor ou professora que nos passava, pelo seu carisma, uma relação de sedução com um tema, uma matéria, uma disciplina. Em contexto universitário, como fez questão de situar a pergunta, este aspeto é essencial. Costumo dizer, aliás, que o carisma, neste contexto, carateriza-se de uma forma muito prática: um professor entra numa sala de aula com 70 ou 80 alunos e eles continuam a conversar; um outro professor entra na mesma sala com os mesmos 70 ou 80 alunos, escolhe os seus materiais, olha a turma e esta cala-se. Este professor tem carisma. E isto é muito importante, ainda que hoje seja demasiado popular uma conceção de ensino construtivista, em que o saber se vai construindo, em que o aluno vai descobrindo…, enfim, pode acontecer, é uma estratégia pedagógica, mas não omite esta realidade de base: um professor universitário é alguém que leu mais, já viveu e pensou mais, tem mais dúvidas, enquanto um estudante está no princípio deste trajeto. A meu ver não há mal nisso.

“Na minha vida atual não noto grande diferença, salvo não ter o encontro semanal com os estudantes”.

sA — O que acaba de dizer entronca numa afirmação sua dita durante a “Última Lição”, quando afirmou e passo a citar: “não há dispositivos técnicos que substituam o professor”. É possível acreditar ainda no poder da palavra num mundo dominado por imagens?

CR — Em grandes universidades norte-americanas (nas que estão sempre nos primeiros lugares de todos os rankings) existe ainda, sobretudo na graduação, o tipo de aula que se aproxima das nossas aulas magistrais. Ou seja, durante 50 minutos um professor fala aos seus alunos e diz-lhes o que é a literatura brasileira, a álgebra linear, a mecânica quântica — e os alunos ouvem, apreendem, e o professor deu o exemplo. Em Portugal há a noção distorcida de que os professores com mais currículo, mais qualificados e mais experientes só devem lecionar no doutoramento, mestrado, nas pós-graduações. Em grandes universidades estrangeiras não é assim: as grandes figuras da Biologia, da Literatura, da Física, da Matemática ensinam os estudantes de graduação e, em especial, dos primeiros anos, porque é ali que tudo se começa a construir. E isso acontece sobretudo nesse tipo de relacionamento pedagógico em que um sujeito tem, evidentemente, mais palavra do que os outros, mas em que está a dar o exemplo e o princípio para que os outros tenham também mais palavra.  É difícil que a tenham na mesma altura e sobre as mesmas matérias. Claro que isto não é muito popular que seja dito, mas é a minha convicção, creio que baseada em factos — alguns deles algo deprimentes.

sA — Considera, então, que a imagem não desaloja ainda o poder da palavra.

CR — Exatamente. A imagem é um apoio muito importante e eu, que sou professor de literatura, digo uma coisa que parece contra a imagem — quando sou também um cinéfilo feroz e um apreciador de séries de televisão e de imagem de publicidade, tudo isso me fascina —, mas mesmo nesses domínios a grande imagem é a que não diz tudo, é a que deixa espaço para a nossa palavra interior. E é nesse não dizer tudo, que se aloja a nossa liberdade e a nossa capacidade de imaginação para dizer o que não está lá.

sA— No sentido em que esse dizer o que “não está lá” corresponde à construção de um novo discurso?

CR — Absolutamente. É o meu espaço de afirmação. Se assim não for sou completamente passivo perante aquilo que me é dado.

sA — E que imagem retém de Coimbra, quando em 1968, então jovem açoriano de Angra do Heroísmo, chega para ingressar na Faculdade de Letras?

CR — Sou capaz de recordar dois ou três episódios, um deles caricato, que nunca esqueci. Desde logo, foi a primeira vez que andei de comboio (risos). Nos Açores não há comboio… Eu sabia que depois de chegado à estação marítima de Conde Óbidos, em Lisboa, tinha que apanhar um comboio e sair em Coimbra B, para mudar para Coimbra A. E quando a certa altura achei que era Coimbra B saí — era Alfarelos. Avisado a tempo, voltei a entrar no comboio. Bem, com as quatro malas que trazia, lá cheguei a Coimbra A, onde tinha uns primos e um tio avô à espera. Lembro-me que nesse dia houve uma sessão de doutoramento “Honoris causa” do chanceler alemão Kurt Kiesinger, que mais tarde seria acusado de nazi. Depois, ao passar de táxi na rua Ferreira Borges, vi um antigo colega de liceu meu mais velho, Fernando Pimentel, que seria depois professor na universidade dos Açores — portanto tudo aquilo me parecia familiar. Lembro-me ainda de ter mudado da casa que um açoriano me tinha arranjado, ali na Sé Velha…

sA —  Quer dizer que não foi para o “Corsário das Ilhas”, [nr.:república de estudantes açorianos] que à época já existia, em Coimbra.

CR — Não, fui para um quarto alugado. Mas o primeiro obrigava-me a ter de sair para ir jantar, o que não me agradava, e por isso mudei; além, claro, é preciso dizer, do risco que havia em ser rapado. Penso, aliás, que comecei aí a construir a minha repulsa para com a praxe coimbrã.

sA — No ano seguinte dá-se a crise de 1969.  Como é que a percebeu e viveu?

CR — Foi um batismo de fogo muito importante para mim — até para me aperceber de algumas coisas de que não tinha conhecimento. Vamos dizer uma coisa muito clara e talvez um pouco até contra a corrente. Naquela época a esmagadora maioria das pessoas, estudantes ou não, não tínhamos formação política. O país dividia-se, então, digamos assim, em três grupos a esse nível: a oposição (no país e no estrangeiro) que corria riscos, evidentemente; havia a chamada “situação”; e havia quem estava no meio, que eram as pessoas sem informação, sem formação nem consciência política, até com algum receio das coisas, e onde eu me incluía. Portanto, tudo aquilo foi uma enorme revelação para mim. Basta reparar, de resto, num pormenor que nunca vi muito sublinhado sempre que se evoca o 17 de abril, onde tudo teve início, como sabe, quando o Alberto Martins pede para falar no interior do anfiteatro da Faculdade de Matemática: a esmagadora maioria de nós, estudantes, não sabíamos o que iria acontecer, só soubemos depois. Por uma razão simples: não se podia saber. Aquilo que estava planeado fazer-se teve de se manter restrito aos 200 ou 300 estudantes mais politizados, o que faz todo o sentido que assim fosse, sob pena de se perder o fator surpresa e a iniciativa correr o risco de ser abafada. Portanto, tanto para mim como para muitos da minha geração, aquilo foi uma revelação de que se podia estar contra o governo, falar contra o governo, fazer greves a exames e eu, como reles caloiro, também andei um pouco no rebanho, a correr à frente da polícia e da GNR, como muitos outros, mas não tive aí nenhuma outra participação que não fosse a desse soldado raso  perplexo perante as coisas. Há, aliás, um texto do Eça em que eu me revejo muito, quando ele conta a sua relação com a Questão Coimbrã (que acompanhou porque nessa altura, 1865, ele estava em Coimbra) e diz a certa altura que viveu tudo aquilo como o rapaz do pasteleiro que, em Paris, assistiu à tomada da Bastilha e prosseguiu na sua tarefa de distribuição dos pastéis. Isto é, sem a noção da importância que aquilo tinha. Disso apercebemo-nos depois.

sA — O que significa que o jovem aluno de Filologia Românica não iria continuar no seu percurso, como o filho do pasteleiro. De que forma a crise de 69 foi importante no seu processo de aquisição de uma consciência política que não tinha?

CR — Abriu-me os olhos, evidentemente —a mim e a muitos outros estudantes. E criou até uma atitude diferente que depois até teve repercussões familiares, sobretudo nos casos — e foram muitos — de estudantes presos e cujas famílias estavam preocupadas porque nada sabiam dos seus filhos. Houve um colega meu, que mais tarde haveria de ser médico na Terceira, que esteve preso 40 dias e a família nada sabia dele. Sempre que chegava um barco ia ao cais ver se ele lá vinha…e nada. E ninguém sabia o que se passava ou informava as famílias. Hoje não se faz bem ideia do que isto era…

sA —  Os contextos são muito diferentes, mas já que há pouco puxou para a conversa o Eça, recordo-lhe um texto em que ele descreve com admiração (e até fascínio) o seu primeiro encontro, em Coimbra, com Antero de Quental, outro açoriano. Alguma vez lhe ocorreu, durante esse período de estudante a imagem (ou exemplo) do revolucionário Antero?

CR — Sim, mas talvez retrospetivamente, porque nessa altura não tinha ainda conhecimento desse episódio (não vale a pena estar agora a inventar), mas mais tarde liguei os cabos. Tenho uma memória muito viva de uma situação como essa quando, no dia 18 de abril (depois de na véspera o presidente da AAC, Alberto Martins, ter sido preso; à noite ter havido mais uma cena de repressão junto ao edifício da PIDE; o senhor Mário do café Oásis, por cima do qual eu vivia, ter sido agredido e ter ido parar ao hospital…), fomos todos para a praça da Porta Férrea, nos Gerais, porque o Alberto Martins tinha sido libertado. Guardo a imagem dele, com aspeto bastante cansado, de que tinha passado uma noite em claro, preso…Tenho uma outra imagem próxima dessa, quando no antigo ginásio da AAC numa assembleia geral de estudantes, apareceu o Professor Paulo Quintela, também num momento marcante, a recomendar serenidade. São, portanto, imagens que me ficaram desses episódios, em que um jovem caloiro com 18 anos viveu tudo aquilo, como lhe dizia há pouco, como uma revelação e, no fundo, como início da sua formação política.

“Os tempos vão maus para as Humanidades. Em parte por uma certa deriva tecnocrática e (digamos) utilitarista que capturou uma parte da universidade, transformada, por força dessa deriva, em empresa de prestação de serviços”.

sA — Entretanto passaram umas boas décadas, sendo que nos últimos 40 e picos anos foi professor na Universidade de Coimbra. Como olha para o papel e relevância da instituição universitária, em Portugal, ao longo das últimas quatro décadas e meia?

CR — Referem-se, evidentemente, ao tempo da universidade posterior à Revolução de 1974. Nesse tempo (que é o nosso), a universidade ganhou uma relevância e uma capacidade de intervenção social consideráveis. E transformou-se numa entidade muito mais aberta e participativa do que a universidade anterior a 74. Só quem conheceu esse tempo pode dar valor e confirmar o que digo. E também sublinhar que, apesar de algumas disfunções e vacilações, as mudanças (para melhor) são inquestionáveis, a começar pela integração já apreciável de muitos estudantes que anteriormente dificilmente tinham acesso à universidade. E isso deve ser saudado, mesmo sabendo-se que se trata de um processo por acabar.

Isto não anula o sentido crítico que sempre devemos manter desperto. A relativa massificação da universidade traduziu-se, algumas vezes, em aligeiramento da exigência e em multiplicação de instituições que eventualmente ficam aquém, do ponto de vista qualitativo, do que entendo ser uma instituição universitária com forte componente de investigação, a par da componente de ensino rigoroso e exigente. Por outro lado, a prestação de serviços e a interação com a comunidade são hoje dimensões irrecusáveis da existência social da universidade, mas não devem transformar-se em fator de dependência. Quando a universidade se limitar a responder a encomendas, perde muita da liberdade de que jamais deve abdicar.

sA — E o que se pode dizer, em favor das Humanidades, num contexto crescentemente embeiçado pelas tecnologias?

CR — É um facto: os tempos vão maus para as Humanidades. Em parte por uma certa deriva tecnocrática e (digamos) utilitarista que capturou uma parte da universidade, transformada, por força dessa deriva, em empresa de prestação de serviços. Mas esse campo a que chamamos Humanidades também tem as suas culpas no cartório, quando pensamos na crise de legitimação que elas vivem.  Por um lado, alguns dos seus atores têm transferido para a esfera da pura militância social e política o trabalho das Humanidades (se é que, nesse caso, ainda se lhes pode chamar assim). Por outro lado, outros atores cedem ao comodismo de se encerrar na sua torre de marfim – e perdem contacto com a realidade. Na hora de disputar campos de influência e fatias do “queijo orçamental” com as engenharias ou com a gestão, com as ciências da saúde ou com a química já se sabe quem fica com os nacos mais suculentos…

sA — Vou recuperar a expressão “contra-a-corrente” que há pouco utilizou, para lhe pedir que me fala de duas opções académicas que revelam bem esse sentido de navegação. Por ordem cronológica: em 1975 publica o primeiro o primeiro livro, Estatuto e perspetivas do narrador na ficção de Eça de Queirós, numa época em que ninguém queria saber do Eça…

CR — É verdade. Sucede, no entanto, que esse livro tinha sido terminado em 1973: era a minha tese de licenciatura e correspondia ao meu fascínio pelo Eça.  E foi também o exemplo de um professor que foi muito importante para mim, Aguiar e Silva (que teve vários problemas no pós-25 de abril, que não vem agora ao caso detalhar) e, sobretudo, foi a possibilidade de publicar a tese de licenciatura na Almedina, ainda no tempo do Joaquim Machado, pessoa a quem muito devo. Mas recorda bem: as águas nesses tempos de 1974-75 eram outras e eu próprio fui arrastado nelas, porque depois a minha tese de doutoramento já foi sobre o neo-realismo.

sA — É verdade, mas isso foi em 1983, quando o neo-realismo tinha, de certo modo, falecido com o PREC, e o Carlos Reis aparece com O discurso ideológico do neo-realismo português, dentro da tal ideia de navegar contra-a-corrente

CR — De acordo. Mas aí tenho de sublinhar o seguinte: iniciei a minha tese de doutoramento por volta de 1976, 1977 e, nessa altura, estávamos ainda sob o fascínio e a revelação de livremente, ler, discutir e ensinar (o que não era possível fazer antes) escritores como Soeiro Pereira Gomes, Alves Redol, Fernando Namora, Manuel da Fonseca, Joaquim Namorado…, toda essa geração de escritores dos anos de 1940 e 1950  e um pouco de 60. E tudo isso começou a fazer parte dos meus programas académicos. Mas a minha aproximação ao neo-realismo tinha também um outro propósito, que era este: até 1974 ou se era ideologicamente a favor ou contra o neo-realismo. Eu não era nem uma coisa nem outra, porque considerava que se poderia estudar o neo-realismo segundo outros conceitos e abordagens, desde logo através da teoria da literatura, da semiótica da ideologia, das teorias de Bakhtin. Daí admitir perfeitamente que a minha tese não tenha agradado nem a uns nem a outros, porque estava um pouco fora desse dilema.  Tenho, aliás, uma estória curiosa a este respeito, que me contaram, e que é o comentário que o Vergílio Ferreira (antes da minha relação pessoal de amizade com ele) fez quando soube dessa minha tese: “como é que o fulano tal que não é comunista está a estudar o neo-realismo?”… Está a ver?: como se fazer uma tese sobre o neo-realismo fosse um exclusivo dos comunistas. Mas isto serve para ilustrar o pensamento da época.

“Até aos anos 70, 80, havia uma crítica literária regular nos jornais e suplementos literários, designadamente através do João Gaspar Simões, Óscar Lopes, do Mário Dionísio que marcaram a crítica literária em Portugal e, de certo modo, ajudaram a fazer o gosto”.

sA — Algum desse espanto corresponderá a uma pergunta que o próprio estudioso tem de colocar a si próprio: de que modo o respetivo posicionamento ideológico influencia a sua leitura crítica de uma dada obra, de um dado autor?

CR — Absolutamente e esse é um princípio fundamental de qualquer discurso  científico, no sentido em que não nos podemos identificar com o objeto de estudo, porque essa identificação retira lucidez, racionalidade, etc. E esse, devo dizer, é um esforço que eu tenho feito toda a vida em relação ao Eça. Ou seja, tenho também de me aperceber que o Eça escreveu e disse coisas das quais eu discordo. Não há muitas, é certo, mas o que que eu quero dizer é que é necessário manter esse distanciamento.

sA — Falemos então dessa ideia de distanciamento que se exige à crítica. No seu livro Diálogos com José Saramago, a certa altura pergunta-lhe: “a crítica literária é um poder?”. Pois bem: que crítica literária temos hoje, nos media portugueses?

CR — Muito pouca. Ou de outras formas. Repare: até aos anos 1970, 1980, havia uma crítica literária regular nos jornais e suplementos literários, designadamente através do João Gaspar Simões, Óscar Lopes, do Mário Dionísio que marcaram a crítica literária em Portugal e, de certo modo, ajudaram a fazer o gosto. Mas nessa altura o que havia era a literatura e pouco mais: o cinema ainda não tinha talvez o impacto que tem hoje, a televisão nem falar, o mesmo se dirá das artes plásticas e da dança; o vídeo e o digital não existiam…Hoje, como sabe, o espaço público está ocupado por múltiplas formas de expressão e de representação e todas elas ambicionam conquistar o seu espaço de afirmação. Donde, observarmos hoje em algumas publicações espaços dedicados à crítica de livros, mas também à televisão, cinema e artes plásticas, entre outras áreas. Portanto, o espaço dos media é hoje muito fragmentado e muito disputado. Há ainda um outro domínio, que talvez não tenha ainda a expressão que pode vir a ter, que é o das redes sociais e dos blogues, onde a circulação de informação, crítica e debate em rede tem cada vez mais importância e é mais acessível a toda a gente, coisa que a crítica literária nos media não é.

Carlos Reis: “Youtube, redes sociais, influencers constituem para os jovens o fascínio que na minha geração era constituído pelos escritores”.

sA —  Essa ideia de ampliação e democratização do debate remete-nos para uma questão de base: qual a responsabilidade dos diversos níveis de ensino no gosto e na curiosidade pela leitura?

CR — Começo por colocar uma pergunta um pouco embaraçosa e pouco popular: os professores, em especial de português, leem muito?, leem bem?, leem autores com qualidade? Esta, portanto, a interrogação que quero deixar — e a que não respondo — com alguma insídia, devo dizer. Por outro lado, os jovens e adolescentes têm ao seu dispor um manancial de informação, de canais de informação, de suportes e de linguagens que vai muito para além da literatura; e sobretudo com uma lógica representacional que não tem que ver com o romance de 500 ou 700 páginas, que o estudante tem de ler — e este “ter de” já é um problema. Portanto, hoje coloco a questão em termos pragmáticos, sabendo que estou a lidar com outros apelos — YouTube, redes sociais, influencers —, que constituem para os jovens o fascínio que na minha geração era constituído pelos escritores. Por exemplo: se entre os 100 alunos que têm de ler um romance como Os Maias, 10 o leram e outros 30 ou 40 ficaram a saber alguma coisa, pode ter ficado ali uma semente. Não é o que eu desejaria, mas para mim isso já é suficiente. E digo isto pela seguinte razão: temos a ideia de que todos os alunos têm de gostar de ler. Ora, isso é uma ilusão. Nem todos têm de gostar de Biologia ou de Matemática ou de Física, Filosofia…,logo, os leitores que se formam na idade dos 15, 16, 17 anos podem formar-se de várias formas, nem que uma delas seja apenas saber que há leitura e uns textos a que se chama romances. Dou-lhe um exemplo pessoal: o meu filho, hoje na casa dos 40 anos, é muito melhor leitor do que era quando jovem. Provavelmente devido à tal semente de que eu falava antes.

sA — E no seu caso, como começou a paixão pela leitura?

CR — Na idade dos 14, 15 anos quando, durante as férias, em Angra, não havia muito para fazer. Lia-se. Ia então buscar livros à biblioteca fixa da Gulbenkian que ficava na câmara municipal. Um dia reparei que havia um escritor chamado Eça de Queirós com livros de capa branca, com uma tirazinha cor de laranja colada na lombada que significava que era ficção e, pela posição, que eram livros para adultos. Aquilo aguçou a minha curiosidade. Enfim, lá consegui convencer o responsável pela biblioteca a deixar-me trazer alguns desses livros, sendo que o primeiro foi A Capital e a seguir, A cidade e as serras. Foi uma revelação. Confesso que fiquei fascinado, porquê, não sei dizer. Mas havia naquela escrita uma fluidez, ironia, sentido de humor que me prendeu.  

sA — Mas o seu primeiro herói na literatura não terá sido uma personagem do Eça…

CR — Aí pelos 12, 13 anos, foi o Robinso Crusoe, onde sobressaía toda uma estória da vontade, da afirmação do individualismo, da sobrevivência, daquilo a que hoje chamamos resiliência. Na altura, evidentemente, eu não tinha maturidade para perceber que havia ali também um jogo civilizacional, o branco dito civilizado e o negro dito selvagem, etc. Só me vim a aperceber desses pormenores mais tarde. Agora, todo esse trajeto da sobrevivência e o modo como a estória está contada…

sA — O facto de viver numa ilha foi também um elemento de aproximação à estória?

CR —  Acho que sim. Numa ilha todos temos um pouco de Robinson Crusoe, mais ainda naquela época. Repare: a Angra chegava, então, apenas um navio de 15 em 15 dias — era dia de S. Vapor. Claro que havia as ligações aéreas, mas essas não estavam ao alcance da maioria.

sA — Sabe que os heróis e heroínas do tempo presente são os/as influencers das redes sociais.

CR — Se sei! E ganham milhões de dólares ou de euros com o que fazem.

sA —Como observa esse fenómeno da instanteinedade face ao movimento lento da reflexão que a obra literária nos impõe?

CR — Ainda há dias comentava com um colega, que escreveu um texto para o Jornal de Letras, sobre leitura dos clássicos. E ele falava da leitura da Menina e moça, obraque requer tempo, reflexão, lentidão, coisas que hoje não valorizamos. Ora, ler em extensão exige silêncio, concentração, estar dedicado à leitura durante uma hora, hora e meia, coisas que não se compatibilizam com o tipo de fragmentação da informação, da atenção e comunicação em que hoje vivemos.

“Ler em extensão exige silêncio, concentração, estar dedicado à leitura durante uma hora, hora e meia, coisas que não se compatibilizam com o tipo de fragmentação da informação, da atenção e comunicação em que hoje vivemos”.

sA — Como é que a literatura, que é essa arte da paciência, vai resistir às sociedades impacientes, apressadas, fragmentadas que já substituem as palavras por abreviaturas?

CR — Há indicadores que nos dizem que continuam a publicar-se muitos livros. O caso Harry Potter é um fenómeno interessante. Milhões de livros vendidos e fanaticamente lidos por jovens fazem-nos pensar em duas coisas: uma é que há esperança, afinal não há falta de leitores; a outra é que a leitura não será para toda a gente. E temos de saber viver com isso.

sA — E o que pensa dessas hipóteses que coloca?

CR — Quando digo que o ato de ler não será para toda a gente, faço a afirmação não no sentido elitista, mas na perspetiva da predisposição cognitiva individual. Encaro isso do ponto de vista técnico, não sócio-económico. Haverá pessoas com predisposição para os vídeos jogos, por exemplo, outras para outro tipo de interesses. É nesse sentido.

sA — Referia-me também ao uso crescente de abreviaturas, à perda de hábito da escrita completa. Considera que esta tendência conduz a um empobrecimento da linguagem e, com ela, do próprio pensamento?

CR — Existe, claro, esse risco. Devo dizer que eu não sou capaz, escrevo tudo direitinho, as palavras todas e completas, com pontuação, etc. Agora, o que é preciso é dizer às pessoas que há contextos em que essa forma mais simples de escrita não é correta. Porque o que a linguagem tem, ao mesmo tempo, de complexo e de muito rico é a sua maleabilidade para se adaptar a diferentes contextos de comunicação.

sA — Paralelamente assistimos a outro fenómeno que é a introdução de expressões, sobretudo inglesas, na nossa linguagem corrente, quando existem palavras em português para dizer a mesma coisa.

CR — É verdade e contra mim falo. Ainda há pouco enviei uma mensagem para colaboradores e amigos da Fundação José Saramago, dizendo-lhes que precisamos de fazer um “briefing”, acrescentando depois, “com licença do estrangeirismo”. Atenção: eu não tenho preconceito de partilha contra o estrangeirismo. Revejo-me, a este respeito, muito na lição do Garrett quando, em As viagens na minha terra, escrevia em itálico os termos em inglês; termos, de resto, que hoje estão incorporados na nossa língua. Portanto, uma coisa é o uso de uma expressão que não tem ou dificilmente tem tradução em português; outra coisa totalmente diferente é a introdução de uma palavra em inglês quando existe uma em português que tem o mesmo significado. Nestes casos estamos perante uma espécie de novo riquismo técnico, próximo de um exibicionismo pretensamente elitista, que nada de novo traz à língua.

sA — O que acha da qualidade da linguagem usada pela classe política portuguesa?

CR — Temos um destacado político que sistematicamente diz “precaridade”. Nunca houve um assessor que lhe dissesse que da mesma maneira que se diz solidariedade (de solidário) também se diz precariedade (de precário). Dir-se-á que não vem mal ao mundo com a pronúncia errada da palavra — o melhor era mesmo acabar com a precariedade no trabalho. É verdade, mas é uma questão de princípio, de rigor. Depois, para além da falta de sintaxe, palavras deformadas, e uso de lugares comuns, há expressões como “o que está em cima da mesa é” que denota uma grande falta de criatividade. Tudo isto tem a sua gravidade. Mas pior é pronunciar mal as palavras ou comer algumas sílabas. Mas estas falhas estão longe de se circunscrever aos políticos. Há um conhecido pivô de um canal de televisão que atropela as palavras de tal forma, que fico espantado. Como é possível que um pivô de telejornal, de um canal aberto de televisão, com as palavras, para mais ainda sendo escritor…

sA — Por falar em qualidade da linguagem: mantém a posição de defesa da nova ortografia em língua portuguesa?

CR — Mantenho, embora esse seja já um assunto ultrapassado. O acordo ortográfico de que se fala tão mal remonta a 1990, de novo não tem nada; discuti-lo, hoje, se calhar deveria ser na ótica de o reajustar…Enfim, respeito todas as posições, devo dizer que ao contrário do que sucedeu comigo, que fui insultado, eu nunca insultei ninguém. Faz-me confusão aquela posição de algumas pessoas que olham para a ortografia como se fosse uma vaca sagrada. Eu não tenho bem essa noção. De resto, é bom lembrar, que a ideia do acordo estava ligada a uma política da língua portuguesa, que nunca foi por diante.

“É uma espécie de tensão ou conflito entre a qualidade e a quantidade. E também pela cedência, certamente necessária, das livrarias aquilo que se vende ou está a dar.”

sA —  Regressemos aos livros. Dados oficiais dizem-nos que nunca se publicou tanto, mas depois vamos a uma livraria e não encontramos — ou encontramos poucos — clássicos da literatura portuguesa. Como olha para este fenómeno?

CR — É uma espécie de tensão ou conflito entre a qualidade e a quantidade. E também pela cedência, certamente necessária, das livrarias aquilo que se vende ou está a dar. Há 30, 40 anos, quando publiquei aquele meu primeiro livro de que falávamos há pouco, era impensável assistir ao que está agora a suceder. Hoje, as editoras têm de pagar para que os livros, nas livrarias, estejam em lugar de evidência. Naturalmente que as editoras fazem esse esforço para com os livros que se vendem mais. Claro que a poesia de Sá de Miranda, A menina e moça, do Bernardim Ribeiro, o Amor de Perdição, do Camilo ou mesmo Os Maias, do Eça, não vendem tanto como os romances do pivô que come as palavras em direto.

sA — Por falar ainda em livrarias: Coimbra é uma cidade universitária e, praticamente, não tem aquilo a que se pode classificar de uma boa livraria. Pensa nisto? É correta esta observação?

CR — Não só Coimbra, infelizmente. E eu próprio me penitencio de raramente entrar, hoje, numa livraria. Porque se for a uma qualquer livraria, independentemente da cidade, e perguntar se tem as Vinte horas de liteira do Camilo Castelo Branco (por acaso um livro que foi reeditado pela Imprensa Nacional, numa coleção dirigida por mim) o empregado ou empregada vai ao computador, tecla o nome do livro e como pode não estar na base de dados diz-lhe que está esgotado. E não está. Ele não existe é naquela  livraria, o que é diferente. O que se passa, é que a deslocação do best-seller e do livro que vende muito para áreas não canónicas, fez com que desaparecesse uma figura que eu ainda conheci — e você também — que é a do livreiro. Ele era dono da livraria, uma pessoa que estava ali há 20 anos, que tinha memória, que tinha cultura, que lia muito e que era capaz de lhe dizer, perante as mesmas Vinte horas de liteira, que havia uma edição da Imprensa Nacional,  ia confirmar, e encomendaria o livro se o não tivesse. Por isso eu acabo por direcionar os meus alunos para as plataformas de venda de livros, embora saiba porque sou um apreciador, o que é sentir o cheiro dos livros, o prazer em folhear o livro, percorrer as estantes…é um exercício fascinante.

sA — Gostaria de terminar esta nossa conversa pedindo-lhe um comentário a uma frase de García Lorca, proferida em 1931, no discurso de inauguração da biblioteca da sua cidadezinha, Fuente Vaqueros, em Granada: “ se tivesse fome e estivesse à míngua na rua não pediria um pão; pediria meio pão e um livro”.

CR — O pão esgota-se muito rapidamente; meio pão talvez sirva para acalentar a fome, e o livro alimenta e entretém por muito tempo. É muito fácil e muito fascinante.

18/02/2021

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João Figueira

João Figueira é doutorado em Ciências da Comunicação e professor de Jornalismo na Universidade de Coimbra. É autor de vasta bibliografia sobre jornalismo, editada em Portugal e no estrangeiro, e co-organizador da obra "As fake news e a nova ordem (des)informativa na era da pós-verdade". As questões ligadas com a História do Jornalismo e dos "media"; com a desinformação/manipulação; e com as relações entre Jornalismo e Democracia, constituem as suas principais fontes de interesse académico. Como jornalista, recebeu vários prémios e distinções, de que se destaca o Prémio de Reportagem/Jornalismo atribuído, em 1999, pelo Clube Português de Imprensa. É co-fundador do jornal "sinalAberto", tendo sido o seu primeiro diretor.

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