
Caro Manuel Moura dos Santos,
Desculpar-me-á a ousadia de lhe enviar um postal assim, quase a despropósito, mas, neste espaço do jornal online “sinalaberto.pt”, eu tenho a liberdade de corresponder-me com quem quiser e me apetecer; até mesmo com pessoas que nunca me viram na vida nem sabem quem sou nem o que faço – privilégio de jornalista.
Jornalista viciado na adrenalina da hora limite para a entrega dos textos, nos jornais diários em papel, escrevo estes postais de segunda-feira nas noites dos domingos anteriores. Escrevo-os e escolho os respectivos destinatários na véspera, como aconteceu ontem, a olhar para o programa da RTP1 “Got Talent Portugal” e a ver o Manuel Moura dos Santos como um dos jurados, como o mais temido dos jurados. Pelo menos, no respeito de alguns, muitos, concorrentes.
Na verdade, muitos concorrentes admitem que, na hora de subir ao palco numa audição do “Got Talent Portugal”, o principal receio é a reacção do Manuel Moura dos Santos ao trabalho que vão apresentar. Muitos concorrentes e muitos telespectadores não lhe perdoam um “não”, especialmente se dirigido a alguém que caiu nas graças do público.
E, no entanto, como aprendi quando tinha vinte anos, os amigos devem ter punhos de aço na hora em que apreciam o trabalho dos amigos. Há quem só goste de ouvir elogios, mas estes punhos de renda nem sempre são amigos e nunca são de amigos se forem falsos. O Manuel Moura dos Santos assume-se no programa da RTP1 como um crítico muito exigente, o que é muito difícil num país que só gosta de críticas quando estas são favoráveis.
Há uma velha expressão portuguesa a dizer que a palavra “sucesso” só no dicionário aparece antes da palavra “trabalho”. Na vida real, o trabalho antecede o sucesso. E não há talento que inverta esta relação, como o Manuel Moura dos Santos tantas vezes sublinha, ao proferir um “não”; o Manuel Moura dos Santos e os restantes jurados, embora lhe caiba a si, reconhecidamente, o papel mais implacável.
Não basta calçar umas sabrinas de ballet para poder fazer pontas ou meias-pontas. Nem tampouco para desenhar na perfeição um plié. Ou seja, esse só aparentemente simples movimento de dobrar suave e lentamente os joelhos. Esse ponto de partida para muitos exercícios de dança clássica. Nem toda a gente sabe que os improvisos, os bons improvisos, dão muito trabalho a ensaiar.
Por tudo isto, caro Manuel Moura dos Santos, o papel que assume no programa “Got Talent Portugal” é muito importante. A lembrar ao público e aos concorrentes que os bons resultados nunca caem do céu, mesmo que, às vezes, tudo pareça simples e fácil.
Continuação de bom trabalho,
Júlio Roldão
21/02/2022