Casa da mãe Joana
Isto, aqui, não é a casa da mãe Joana! Aqui, há regras! Mas quem foi, afinal, a mãe Joana?
Embora a origem desta estória não seja cem por cento confiável, alguns eruditos afirmam que esta expressão se deve a Joana I, rainha de Nápoles e condessa de Provença, que viveu no século XIV (entre 1326 e 1382) e que teve uma vida muito atribulada. Por exemplo, Joana I, além de ter sido uma das protagonistas de uma trama que envolveu o rei francês Felipe IV, teve de fugir de Nápoles, em 1348, após ser acusada de participar no assassinato do marido.
Refugiada em Avinhão (recorde-se que, entre 1309 e 1378, residiram sete papas diferentes nesta cidade francesa), regulamentou e estipulou os estatutos dos bordéis da cidade. Uma das normas estipulava: “O lugar terá uma porta por onde todos possam entrar.” Esta norma parece quase sem sentido, porém, ao ter apenas uma porta de entrada e de saída, impedia que alguns frequentadores saíssem sem pagar. Também introduziu normas para impedir que os clientes dos bordéis agredissem as prostitutas.
Para as meretrizes, Joana (verdadeira dona da cidade) era como uma mãe protectora e, por isso, os bordéis eram conhecidos como a “casa da mãe Joana”, atribuindo um sentido afectivo de uma casa aberta para qualquer um entrar.
Actualmente, esta expressão nada tem a ver com prostituição. Como confirma a Wikipédia, “Casa da mãe Joana” significa um lugar ou situação em que vale tudo, onde não existe ordem, predominando a confusão, a balbúrdia e a desorganização.
Transferida para Portugal, como adianta a Wikipédia, a expressão próxima “paço da mãe Joana” tornou-se sinónimo de prostíbulo. Teófilo Braga (que presidiu ao Governo Provisório da República Portuguesa e que terminou sua carreira política depois de ter exercido fugazmente o cargo de Presidente da República, em substituição de Manuel de Arriaga), observa, na sua obra etnográfica “Costumes Crenças e Tradições, Vol. II”, de 1885, que a expressão ainda era de uso comum nos Açores, nos finais do século XIX.
Dizem, igualmente, os estudiosos que, ao ser levado para o Brasil, o termo “paço”, por não ser da linguagem popular, foi substituído por “casa”. Desse modo, surgiu a expressão “casa da mãe Joana”, a qual serviu, por extensão, para indicar o lugar ou a situação em que cada um faz o que quer e onde imperam a desordem e a desorganização. Por outro lado, pode também querer dizer que, simbolicamente, tal casa “não possui janelas nem portas”; onde todos entram e saem sem pedir licença, dominando, assim, a indisciplina e o desrespeito.
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23/02/2023