Censurados
Os cantautores foram silenciados nas rádios e banidos das editoras e televisões. Censurados. Pelos animadores de rádio, pelos chamados programadores culturais e pelos promotores de festivais.
A censura(*) exercida, por rapaziada que nem precisa do lápis azul, é um crime de lesa-cultura. E uma injustiça para com um punhado de mulheres e de homens que nos ensinaram e ensinam a ver o Mundo com outros olhos…
Com palavras suas ou musicando poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen, de Natália Correia, de José Carlos Ary dos Santos, de Papiniano Carlos, de Rosalía de Castro, de José Afonso, de Joaquim Pessoa, de Amélia Muge, de António Gedeão, de Tiago Torres da Silva, de José Mário Branco, de Manuela de Freitas ou de José Saramago.
Os cantautores são vítimas da ditadura do pensamento único e da censura imposta pelos seus servidores. Também com o prestimoso contributo da esmagadora maioria dos autarcas, que sempre preferem animar as festas da terrinha com coisas que, dizem, são mais do agrado dos seus fregueses.
Para tais artistas, as vozes dos cantautores calavam-se para sempre. Mas eles resistem e continuam a cantar. Sempre disponíveis para intervir em espectáculos solidários, que assinalem o “25 de Abril” e o “1.º de Maio” ou que festejem a Liberdade. Pelo bem público. Como muitas vezes aconteceu. Antes e depois de Abril. Mesmo que isso lhes custe os olhos da cara.
Ou os obrigue a fazer edições de autor. Como aconteceu com Samuel e com o seu CD “Sempre um fim, sempre um começo”; e, mais recentemente, com Carlos Mendes e com o seu CD “Viagem”, sabendo-se que o cantor recorre às redes sociais para o promover e para o vender junto daqueles que gostam dele e das suas canções.
Comprar os seus CD, ouvir as suas canções e impedir que os calem de vez é a nossa obrigação. Além de mais, devemos-lhes algumas das mais belas melodias. Como esta de Samuel, com versos de Maria do Amparo e intitulada “Aquilo que tu és para mim”. A canção integra o último CD do cantautor e contou com a produção de José Mário Branco. Deliciem-se!
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(*) João Carlos Calixto e Júlio Isidro são as excepções que confirmam a regra de censurar os cantautores. Fazem-no à revelia da ditadura que impõe o mau gosto, quase generalizado, que tomou de assalto as editoras, as rádios, as televisões, os festivais e as festinhas nas cidades e aldeias. É isso que lhes garante a massaroca. E também os votos do povoléu, que paga as festanças com os impostos municipais.
17/10/2022