Chalana (1959-2022): “Com um brilhozinho nos olhos”

 Chalana (1959-2022): “Com um brilhozinho nos olhos”

Fernando Chalana no jogo com a Dinamarca, a caminho do Mundial’78. (Créditos: Record / Getty Images)

Finda a entrevista, pedi ao Fernando Chalana (1959-2022) que se deslocasse até ao parque de estacionamento do pequeno hotel onde estava alojado. Chalana acedeu ao meu pedido de pronto. Fui à mala do carro e, do seu interior, tirei uma pequena bola de praia. Pedi-lhe para dar uns toques. “Chalanix” assim fez. Com um brilhozinho nos olhos. Nos seus olhos de menino, senhor dos grandes palcos do futebol, mas de uma humildade a toda a prova. 

Fernando Chalana ficou sempre conhecido pelas suas parecenças físicas com a personagem de banda desenhada Asterix, sendo algumas vezes chamado de “Chalanix”. (Imagem de Mário Cruz, Agência Lusa, 2019)
O antigo jogador do Benfica era também reconhecido como
“Pequeno Genial”. (© Sport Lisboa e Benfica)

Chalana, que actuava no Bordéus, o clube gaulês que o contratara ao seu Benfica, seduzido pela magia que exibira durante o “Euro 84”, vivia, então, um dos períodos mais negros da sua brilhante carreira. Uma lesão, grave, levou-o a entregar-se aos cuidados do “Dias das Areias”, que exercia as funções de massagista no Rio Ave, de quem se dizia capaz de fazer milagres e a cujos serviços já recorrera Humberto Coelho – outro dos históricos do Benfica.

A cena que conto acima, registada pela “objectiva” do Francisco Neves, meu camarada na Redacção do Record”, teve como palco os jardins do “Santana Hotel”, aconchegante unidade hoteleira com vista priveligiada para o majestoso Mosteiro de Santa Clara, fundado em 1318 por D. Afonso Sanches e D. Teresa Martins, e que é um dos mais emblemáticos monumentos de Vila do Conde.

É este Chalana, com um brilhozinho nos olhos, que hoje relembro no dia em que nos deixa. Sobre as suas qualidades futebolísticas outros falarão melhor do que eu. Para mim, Chalana será sempre aquele senhor do futebol que nunca deixou de ser o menino que nasceu no Barreiro, que ocupava os tempos livres a cuidar dos seus pombos, e que ía para os treinos à boleia da carrinha do sogro de Manuel Bento.

Paulo Futre escreveu hoje (10 de Agosto) que Chalana foi a sua maior referência e inspiraçãoe Bernardo Silva considerou-o “um grande amigo” que guardará “para sempre”.Não tive o privilégio de ser amigo de Fernando Chalana, mas fiquei apaixonado pelo ser humano com quem falei em Vila do Conde. Uma paixão que me levou a titular um livro de crónicas, apresentado em Dezembro de 1996, com desenho de capa do artista plástico Agostinho Santos, assim: O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana.

O meu pequeno tributo ao Maradona de Portugal.

11/08/2022

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Soares Novais

Porto (1954). Autor, editor, jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP). Publicou o romance “Português Suave” e o livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”. É um dos autores portugueses com obra publicada na colecção “Livro na Rua”, que é editada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Tem textos publicados no "Resistir.info" e em diversos sítios electrónicos da América Latina e do País Basco. É autor da coluna semanal “Sinais de Fogo” no blogue “A Viagem dos Argonautas”. Assina a crónica “Farpas e Cafunés”, na revista digital brasileira “Nós Fora dos Eixos”.

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