Chalana (1959-2022): “Com um brilhozinho nos olhos”
Finda a entrevista, pedi ao Fernando Chalana (1959-2022) que se deslocasse até ao parque de estacionamento do pequeno hotel onde estava alojado. Chalana acedeu ao meu pedido de pronto. Fui à mala do carro e, do seu interior, tirei uma pequena bola de praia. Pedi-lhe para dar uns toques. “Chalanix” assim fez. Com um brilhozinho nos olhos. Nos seus olhos de menino, senhor dos grandes palcos do futebol, mas de uma humildade a toda a prova.
Chalana, que actuava no Bordéus, o clube gaulês que o contratara ao seu Benfica, seduzido pela magia que exibira durante o “Euro 84”, vivia, então, um dos períodos mais negros da sua brilhante carreira. Uma lesão, grave, levou-o a entregar-se aos cuidados do “Dias das Areias”, que exercia as funções de massagista no Rio Ave, de quem se dizia capaz de fazer milagres e a cujos serviços já recorrera Humberto Coelho – outro dos históricos do Benfica.
A cena que conto acima, registada pela “objectiva” do Francisco Neves, meu camarada na Redacção do Record”, teve como palco os jardins do “Santana Hotel”, aconchegante unidade hoteleira com vista priveligiada para o majestoso Mosteiro de Santa Clara, fundado em 1318 por D. Afonso Sanches e D. Teresa Martins, e que é um dos mais emblemáticos monumentos de Vila do Conde.
É este Chalana, com um brilhozinho nos olhos, que hoje relembro no dia em que nos deixa. Sobre as suas qualidades futebolísticas outros falarão melhor do que eu. Para mim, Chalana será sempre aquele senhor do futebol que nunca deixou de ser o menino que nasceu no Barreiro, que ocupava os tempos livres a cuidar dos seus pombos, e que ía para os treinos à boleia da carrinha do sogro de Manuel Bento.
Paulo Futre escreveu hoje (10 de Agosto) que Chalana foi a “sua maior referência e inspiração” e Bernardo Silva considerou-o “um grande amigo” que guardará “para sempre”.Não tive o privilégio de ser amigo de Fernando Chalana, mas fiquei apaixonado pelo ser humano com quem falei em Vila do Conde. Uma paixão que me levou a titular um livro de crónicas, apresentado em Dezembro de 1996, com desenho de capa do artista plástico Agostinho Santos, assim: O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana.
O meu pequeno tributo ao Maradona de Portugal.
11/08/2022