Chegou a hora da decisão

 Chegou a hora da decisão

(Créditos de imagem: Leandro Lima – revistagalileu.globo.com)

A indecisão é um estado de espírito resultante da incerteza quanto à escolha a fazer, se o objecto de escolha for semelhante a outro, mas cujas funções de utilidade não coincidem. Essa incerteza decorre das experiências anteriores de lidar com o objecto em causa, da qualidade da informação sobre as suas características e das circunstâncias que rodeiam o momento da escolha, sem esquecer os fenómenos aleatórios que momentaneamente geram a tomada de decisão.

(coimbra.pt)

O voto no partido Livre ou no Bloco de Esquerda (BE), na Aliança Democrática (AD) ou no partido Iniciativa Liberal (IL) é um bom exemplo de indecisão, sem excluir outras combinações, como o Partido Socialista (PS) ou o Partido Comunista Português (PCP), ou partido CHEGA e AD. Aquela percentagem de eleitores que, a acreditar nas sondagens, varia entre 15%-20%, considerando que a sua indecisão é extrema, votar ou abster-se será, por regra, a que reuniu mais informação e que tem estado mais atenta à vida política, tanto nacional como internacional. Por isso, pondera em que prato da balança vai depositar o seu voto, embora a incerteza, em maior ou menor grau, se mantenha activa. Essa é uma das suas características.

(Créditos fotográficos: Steffen Zimmermann – Pixabay.com)

Geralmente, os programas partidários pouco influenciam o processo de tomada de decisão de votar. Situações extremas, como a que aconteceu em 2022, com eleitores do BE e do PCP a irem a correr votar no PS, não são frequentes. Para o que vai acontecer a 10 de Março, o fenómeno do medo não vai estar presente, a partir da altura em que o líder da AD declarou um rotundo não a qualquer tipo de entendimento com o CHEGA.

Essa decisão de Luís Montenegro trouxe algum apaziguamento ao eleitorado, tendo contribuído para que os resultados venham a reflectir com maior fidelidade as escolhas reais de quem se dirigir às mesas de voto. Afastada uma condição perturbadora do que poderia vir a constituir um risco para o regular funcionamento do regime democrático, e para as decisões do governo que se vier a constituir, a indecisão será agora resolvida, tendo como principais critérios, sobretudo, aspectos subjetivos. Os candidatos que tiverem a sageza de conseguirem penetrar na esfera emocional dos indecisos serão aqueles que poderão dividir, entre si, cerca de um milhão de indecisos. 

(amensagem.pt)

O que poderá, também, constituir motivo de indecisão é o quase meio milhão de votos que deu os 120 deputados ao PS, em 2022. A acreditar nas sondagens, mesmo com todas as margens de erro, as estatísticas e as outras, esses eleitores já se foram embora do Largo do Rato, podendo agora estar indecisos sobre se devem regressar às respectivas casas ou incluir nessa dispersão outras formações, cabendo nestas o partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) e o Livre. E se queremos encontrar um responsável por este nível de indecisos, devemos procurá-lo no governo do PS, no tal que teve todas as condições políticas para fazer bem, mas que passou o tempo a desfazer os nós dos casos que se iam engendrando no seu seio, e na obsessão pelo superavit orçamental, lançando contra si professores e médicos, que, ao todo, perfazem uns bons milhares de eleitores. 

Embora o PS tenha escolhido para seu secretário-geral uma personalidade que politicamente não oferece grandes distinções da coordenadora do BE, ao contrário desta, Pedro Nuno Santos carrega uma mochila recheada do que podia ter sido feito nos últimos dois anos e não foi feito. Acreditando na lenda, este é o seu calcanhar de Aquiles, aquele tendão que durante a campanha eleitoral o obrigou a andar mais devagar, a ter de inaugurar uma estação onde irá passar a nova ferrovia por ele planeada. E se o aparecimento de António Costa encheu o pavilhão Rosa Mota, no comício que ali foi realizado, isso fez-me lembrar um comício do PCP, no Campo Pequeno, na altura das eleições para a Assembleia Constituinte, em que se murmurava que o PCP ia ganhar as eleições. E, afinal, ficou pelos 12%. 

(Créditos fotográficos: Phil Scroggs – Unsplash)

Apesar de o ambiente político estar carregado de incertezas – acerca do que cada um, principalmente, à esquerda, pode fazer e de qual é a sua margem de manobra no plano europeu –, o importante é, na manhã do dia 10, cada indeciso acordar com o propósito de se dirigir à assembleia de voto, colocar-se na fila da respectiva mesa e, na solidão da cabina, olhar para o boletim de voto, procurar os símbolos dos partidos que se reclamam de esquerda e votar num deles. Pelos indecisos, é o máximo que posso aconselhar. 

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Nota do Director:

O jornal sinalAberto, embora assuma a responsabilidade de emitir opinião própria, de acordo com o respectivo Estatuto Editorial, ao pretender também assegurar a possibilidade de expressão e o confronto de diversas correntes de opinião, declina qualquer responsabilidade editorial pelo conteúdo dos seus artigos de autor.

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07/03/2024

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Cipriano Justo

Licenciado em Medicina, especialista de Saúde Pública, doutorado em Saúde Comunitária. Médico de saúde pública em vários centros de saúde: Alentejo, Porto, Lisboa e Cascais. Foi subdiretor-geral da Saúde no mandato da ministra Maria de Belém. Professor universitário em várias universidades. Presidente do conselho distrital da Grande Lisboa da Ordem dos Médicos. Foi dirigente da Associação Académica de Moçambique e da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa. É um dos principais impulsionadores da revisão da Lei de Bases da Saúde.

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