Chuva de estrelas das Perseidas
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No seu movimento de translação ao redor do Sol, o nosso planeta atravessa ao longo de todo o ano várias regiões do espaço polvilhadas com poeiras deixadas pela passagem de cometas.
O fenómeno é observável, anualmente, a partir de meados de Julho, mas regista-se maior actividade na primeira quinzena de Agosto, altura em que a taxa de rastos luminosos (ou de estrelas cadentes) pode ser superior a 60 por hora. A Terra atravessa o rasto de poeiras deixadas pela passagem do cometa 109P/Swift-Tuttle. Este encontro provoca a entrada na atmosfera terrestre dessas poeiras (do tamanho de grãos de areia) que, devido à fricção, se incendeiam originando um rasto luminoso visível à noite. Comummente, designa-se este evento astronómico por “chuva de estrelas”.
A chuva de estrelas (ou chuva de meteoros) surge mais intensamente no céu, no mês de Agosto, a partir da constelação de Perseu. Daí a denominação de “chuva de estrelas das Perseidas”, apesar de também ser conhecida por “lágrimas de São Lourenço”, na tradição popular.
São Lourenço (ou Lourenço de Huesca), mártir e um dos Sete Diáconos (ou guardiães do tesouro) da Igreja católica, morreu imolado numa grelha ardente, sob a ordem do imperador romano, no dia 10 de Agosto de 258 (d.C.), na cidade eterna. Não sei precisar se esta data é segundo o calendário Juliano ou Gregoriano, mas inclino-me mais para este último. Não por ser este o calendário que seguimos no Ocidente, mas por 10 de Agosto (quando se celebra a festa litúrgica católica em honra do mártir cristão) se situar entre os dias em que é possível observar, com maior intensidade, um elevado número de estrelas cadentes a cruzar o zénite, nessas noites cálidas de Verão.
Como já referi, a tradição popular baptizou a dita “chuva de estrelas”, que deslumbra por esses dias a abóbada estrelada, por “lágrimas de São Lourenço”. A sobreposição entre a data da sua morte e o acontecimento astronómico faz-me situar o início da atribuição popular para depois de 1582, ano em que foi promulgado pelo Papa Gregório XIII o calendário com o seu nome.
Ou seja, só no Verão de 1583 é que o planeta Terra, na sua inexorável translacção à volta do Sol, sublimou um “enxame” de meteoros denominado nuvem Perseida, entre os dias 8 e 14 do mês de Agosto do calendário gregoriano, que adoptámos. Só por curiosidade, diga-se que o dia 10 de Agosto, do nosso calendário, seria o dia 28 de Julho no calendário juliano.
A chuva de estrelas das Perseidas é uma das maiores do ano, e a noite em que atinge o seu máximo é a de 12 para 13 de Agosto, chegando a observar-se cerca de 100 rastos luminosos ou meteoros por hora, em céus escuros. O radiante das Perseidas é o ponto de onde parecem provir, na abóbada celeste.
Acrescente-se que estas poeiras, reminiscentes da passagem do cometa 109P/Swift-Tuttle, ingressam na atmosfera com uma velocidade entre os 59 quilómetros por segundo (km/s) e os 72 km/s; e que a maior parte se desintegra a uma altitude de 100 quilómetros.
Recorde-se ainda que o cometa 109P/Swift-Tuttle foi descoberto a 19 de Julho de 1862, por Lewis Swift e Horace Parnell Tuttle, e tem um diâmetro de 9,7 quilómetros. É um cometa periódico, regressando às proximidades do Sol em cada 135 anos. A sua última aproximação teve lugar em 1992, ano em que a chuva de estrelas das Perseidas foi espectacular, com mais de 300 rastos luminosos por hora, devido à maior densidade de poeiras deixadas então recentemente pelo cometa.
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(*) Artigo no âmbito do programa “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa”, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.
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22/09/2022