(Ciber)guerra!

 (Ciber)guerra!

Jordy Meow (Unsplash)

Há uma semana, escrevi aqui sobre segurança informática e ciberataques, tendo concluído que, inevitavelmente, “mais e mais graves ataques irão acontecer; provavelmente, orquestrados a partir do estrangeiro”.

Uma semana depois, vários ataques a sistemas e infraestruturas críticos aconteceram, tornando claro que os ataques iniciais não foram casos isolados nem “brincadeiras” de adolescentes com aspirações a “hackers”. O país está a ser alvo de ataques concertados, contra infraestruturas públicas ou privadas e contra sistemas da esfera da governação. Está a decorrer uma ciberguerra, que poderá causar perturbações muito sérias em variadíssimos sectores.

Também é claro que, nesta ciberguerra, só estamos a tentar voltar com a cabeça à tona, sobreviver com o mínimo de danos, viver com o prejuízo. A avaliar pela quantidade e gravidade dos ataques bem sucedidos em tão curto espaço de tempo, não há indícios de que estivéssemos minimamente preparados para evitá-los. Tão-pouco há indícios de que conseguiremos, no curto prazo, fortalecer os sistemas informáticos a ponto de garantir que não serão afectados no futuro próximo. Repõe-se, a custo, parcialmente, este ou aquele sistema atacado. De seguida, espera-se que não volte a acontecer. Quão frágeis estarão os sistemas críticos que mantêm a sociedade a funcionar? Quão frágeis estarão os inúmeros sistemas informáticos da administração pública que garantem o funcionamento do Estado e dos quais temos vindo a estar cada vez mais dependentes?

Tudo isto é resultado de políticas e de decisões erradas ao longo de, pelo menos, duas décadas. A escolha dos sistemas informáticos é feita pelo menor custo. Os especialistas informáticos são os estritamente indispensáveis. Destes, poucos são especialistas em segurança informática. Os melhores vão para o estrangeiro ou para o sector privado, onde as condições são muito mais atractivas. Só que, como diz o ditado, “o barato sai caro”. Agora, para resolver o problema imediato, iremos contratar grandes especialistas, nacionais ou estrangeiros, que serão pagos a peso de ouro. E depois, voltaremos a pensar no imediato e no custo mais baixo.

09/02/2022

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Fernando Boavida Fernandes

Professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sendo docente do Departamento de Engenharia Informática. Possui uma experiência de 40 anos no ensino, na investigação e em engenharia, nas áreas de Informática, Redes e Protocolos de Comunicação, Planeamento e Projeto de Redes, Redes Móveis e Redes de Sensores. É membro da Ordem dos Engenheiros. É coautor dos livros “Engenharia de Redes Informáticas”, “Administração de Redes Informáticas”, “TCP/IP – Teoria e prática”, “Redes de Sensores sem Fios” e “Introdução à Criptografia”, publicados pela FCA. É autor dos livros “Gestão de tempo e organização do trabalho” e “Expor ideias”, publicados pela editora PACTOR.

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