Cidade, República, sustentabilidade
À cidade entregamos tantos recursos das nossas vidas! No trabalho, nos impostos, naquilo que criamos, em riqueza material, em arte e em cidadania. Dela esperamos retorno em oportunidades, em segurança, em beleza e sombra, em água limpa, também no que respeita a casa e à vida em comum, bem como retorno de possibilidades na cultura e em alegria.
Como uma nora gigante, a cidade recolhe o que lhe damos e eleva esses donativos para pontos mais altos, transforma-os e devolve-os. Ou não. Quando os alcatruzes estão rotos, perde-se muito do que demos e a cidade desperdiça e empobrece.
A cidade é como se fosse a nossa República de hoje. Os seus destinos estão unidos. Os inimigos de uma atentam também contra a outra. Fazem-no de duas maneiras: corroem os alcatruzes, para que se percam os recursos que depositamos; e atrasam, desviam, enfraquecem a força da água que move a nora gigante, para que esta afrouxe e pare.
Os liberais dizem-nos que não devemos pôr nada no alcatruz, porque a roda é um monstro devorador e o mercado das nuvens e da chuva resolverão tudo por si mesmos. Os arrivistas (neste caso, de “arrive”) exortam-nos a bloquear a roda e a destruir o mecanismo que a faz andar, acusam-nos de dar água a mais a quem pouco põe no seu alcatruz, semeiam e exploram invejas entre tudo e todos.
Porém, a grande roda não parou nem vai parar. A generalidade dos cidadãos interiorizou que faz parte de um bem comum e, por isso, os alcatruzes nunca vão vazios. Há sempre quem contribua para os fazer andar para mais alto, para melhor. Esse sentimento e essa vontade reforçam-se quando nos apercebemos de que a nossa opinião conta, quando somos informados sobre as opções para a cidade/República e quando os responsáveis sabem escutar o que lhes dizemos.
No próximo dia 24 de maio, os cidadãos poderão participar num importante debate sobre o Plano de Pormenor da Estação (“Velha”) de Coimbra (procedimento de elaboração). Digo debate e não apresentação, porque esta já foi feita em 18 de janeiro. Agora, é para nos pronunciarmos. É bom que assim seja. Os projetistas precisam de saber o que as pessoas querem, mesmo quando pensam que já sabem tudo. As instituições que financiam as obras devem evitar soluções que podem parecer rendíveis, mas que amanhã se demonstrarão desadequadas e falhadas.
A roda anda no dia 24, às 14h30, no Pavilhão Centro de Portugal. Leve o seu alcatruz!
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11/05/2023