Comer que nem um abade
A expressão “comer que nem um abade” (ou “comer como um abade”) está enraizada na língua portuguesa e equivale a “comer muito” ou a “comer como um alarve”. O significado original desta expressão foi um pouco distorcido porque seria mais adequado referir-se não a “comer muito”, mas a “comer à mesa com bons modos”.
Conta-se que, no reinado de Dona Urraca da Saxónia, foi fundada, na abadia de Westminster, uma escola de boas maneiras à mesa. Esta escola surgiu da necessidade de educar os frequentadores do paço real, uma vez que o seu comportamento à mesa era deplorável.
A dita escola de boas maneiras teve como professores os abades mais conhecedores da arte e da etiqueta de estar à mesa real. Nas matérias ministradas, era ensinado a comer com os talheres e copos certos, a não tocar nos alimentos com as mãos, a não ser em situações específicas, tais como descascar camarões e chupar os ossos da carne.
Esta formação em etiqueta e boas maneiras foi, na época, muito satirizada e a expressão “comer como um abade” (leia-se “comer com boas maneiras, como um abade”) rapidamente se tornou, na boca do povo, numa outra: “Estou cheio que nem um abade.”
Portanto, “comer como um abade” significava “comer com bons modos”, da mesma forma que os professores abades faziam e não, necessariamente, “comer muito” ou “ficar satisfeito com um a refeição”, como hoje se interpreta esta expressão. Agora, quando se fala em “abade”, há a tendência de imaginar alguém que se dedica à vida monástica e que também governa uma abadia ou vive num bucólico bassal, o que induz a pensar que se trata de um clérigo anafado e calmo que come bem e fartamente. Todavia, para comermos bem, não temos de comer muito.
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02/03/2023