“Cruzes, Canhoto!”
Estas duas palavras são utilizadas frequentemente para afastar perigos ou acontecimentos nefastos, sendo, muitas vezes, acompanhadas do acto de se benzer. Como surgiu esta expressão?
Rezam as crónicas que apareceu na Idade Média, quando grassava, na Europa, a Peste Negra ou peste bubónica. Então, um cangalheiro, atarefado com o excesso de trabalho, contratou, para o ajudar, um rapazola de apelido Canhoto.
Certo dia, estando a carreta já cheia de corpos prontos a partir para o cemitério, o cangalheiro chegou-se à porta da sua loja e gritou, para o seu ajudante, avisando-o de que ainda faltavam, na carreta, certos apetrechos necessários para a cerimónia fúnebre.
Do interior da loja, o ajudante – o Canhoto – respondeu, de imediato: “Pois que não, meu senhor!… Aparelhei vossa besta mui cedo e, pois, que já carreguei as pás, as cordas, as velas e, outrossim, os pobres defuntos de vossa senhoria. Que poderá faltar ainda?”
O cangalheiro, irado com a demora, redarguiu: “Cruzes, Canhoto!”
Certamente, por estar associada a uma cerimónia fúnebre, num tempo em que grassava a Peste Negra, esta frase ficou na boca do povo para afastar acontecimentos nefastos. Sem as cruzes, a cerimónia dificilmente seria considerada cristã e, portanto, não haveria a salvação das almas.
Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, esta é uma expressão de repulsa ou de desagrado, similar a “Abrenúncio!” ou a “Credo!”. Ou seja, é uma exclamação “usada para afastar perigos ou acontecimentos nefastos”, tal como se pode exteriorizar, informalmente: “Lagarto, lagarto!” Há, ainda, quem afirme que pode servir para afugentar o Demónio, em situações de espanto ou de repulsa.
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30/03/2023