Da Portela ao Choupal

 Da Portela ao Choupal

(Créditos fotográficos: Francisco Oliveira)

O Parque Verde de Coimbra está por concluir e sofre agressões presentes e ameaças no futuro muito próximo. Temos uma albufeira magnífica, que incorpora as captações da água que consumimos. E temos, também, a felicidade de as margens estarem maioritariamente disponíveis, porque as cheias contiveram durante séculos a ocupação humana.

Entre a Portela e o Rebolim, a “pista” está a ser reocupada pelas acácias. (Créditos fotográficos: Francisco Oliveira)

Há cerca de dois anos, a cidade acordou sobressaltada com a desarborização e a terraplanagem de um troço muito importante da margem direita, entre a Portela e o Rebolim, em plena área de proteção das captações. Na polémica que se seguiu, faltaram muitos esclarecimentos quanto ao móbil da intervenção camarária, falhou clamorosamente a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), faltou a participação de muitos mais cidadãos e cidadãs, designadamente dos e das que vivem na proximidade mais direta.

Desarborização na margem direita do Mondego, em Coimbra. (Créditos fotográficos: Francisco Oliveira)

O último inverno fez o seu trabalho, muitas toneladas de areia da margem foram rio abaixo, a “pista” está a ser reocupada pelas acácias e abusada por despejadores de entulhos, mas a nova maioria camarária (com 20 meses já não é assim tão nova…) ainda não se mexeu. Junto à Ponte da Portela, a Metro Mondego mandou abater dezenas de árvores adultas, sem qualquer esclarecimento público.

Há medidas urgentes de impedimento do trânsito motorizado na margem e de contenção da erosão. E é necessário acertar ideias quanto aos futuros usos e tipo(s) de coberto vegetal da área, no seu todo.

O último inverno fez o seu trabalho, muitas toneladas de areia da margem foram rio abaixo, enquanto esta área é abusada por despejadores de entulhos. (Créditos fotográficos: Francisco Oliveira)

Mais uma vez, os moradores estão a tomar a iniciativa e perfila-se, para setembro, a realização de uma assembleia de moradores, que muito terá a ganhar com a presença de responsáveis, pelo menos, ao nível técnico, do município. A falta de equipamentos de uso coletivo da enorme urbanização da Portela aconselha a que esteja também presente alguém responsável da área da gestão urbanística, para esclarecer.

Na outra ponta do Parque Verde, o Choupal volta a ser tema de controvérsia, a propósito do projeto de construção da linha de alta velocidade, com duplicação da largura da linha ferroviária na travessia do rio Mondego. A que a Câmara Municipal de Coimbra quer somar uma nova ponte rodoviária de ligação ao IC2 (Itinerário Complementar n.º 2) para Norte, para o trânsito de passagem. Ainda o debate mal se fez, os estudos estão apenas iniciados, mas já se contam as árvores a sacrificar, segundo informou a vereadora Ana Bastos, no encerramento do escasso debate de 24 de maio.

O Parque Verde, visto como um todo, é uma preciosidade de Coimbra, que todos devemos defender e preservar. O sinal está aberto nos dois sentidos. Não é um problema “deles”. O rio e as suas margens são mesmo “nossos”.

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29/06/2023

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Jorge Gouveia Monteiro

Exerceu funções de direcção política no Partido Comunista Português. Foi vereador da Câmara Municipal de Coimbra, entre 1997 e 2009. Ajudou a fundar e a desenvolver múltiplas associações de moradores e culturais, bem como a Associação Grupo Gatos Urbanos. É coordenador da Direcção do Movimento Cidadãos por Coimbra (CpC) e sócio-gerente do bar e espaço cultural Liquidâmbar.

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