Danças com Lobos
Se o título desta crónica não é original, a culpa é do filme “Danças com Lobos”, que me prendeu a atenção nos idos anos 90, quando as metáforas não eram ainda uma grande moda entre nós e Kevin Costner estava “na berra”.
Desta feita, as danças são outras e os lobos também, porque o contexto tem a ver com o “Mundial” de râguebi, onde os amadores portugueses estiveram presentes, pela primeira vez na história da modalidade, fazendo aquilo que algumas equipas profissionais não foram capazes.
Não sei se lhes devo chamar “lobos”, se valentes portugueses, capazes de feitos como este, historicamente inigualáveis, o que se demonstra facilmente pelos dados estatísticos disponíveis internacionalmente.
Mas chamando-lhes “lobos” e mantendo a ligação à dança, não tenho dúvida em dizer que os jogos mundiais da selecção portuguesa foram heróicos e reveladores desse espírito indomável de ir sempre mais longe e de chegar, pelos nossos meios e costumes, a patamares apenas reservados aos eleitos.
Os jogos foram uma dança pegada, misto de vira e de corridinho, com muito de fandango a perturbar o adversário, facto comprovado pelo que aconteceu diante, por exemplo, das Ilhas Fiji.
Daí que a Selecção dos “Lobos” tenha merecido honras de condecoração da parte do Presidente da República que se esmerou na tradução simultânea, adoptada no contacto à distância por si próprio, com o treinador francês.
Seria evitável, mas foi o modo preferido pelo original Marcelo Rebelo de Sousa.
Esta questão das condecorações é que obriga a um critério uniforme rígido, porque os Campeões do Mundo de K2 500 metros, João Ribeiro e Messias Baptista, ainda estão à espera, desde 27 de Agosto de 2023 (quando a dupla portuguesa venceu a final, em Duisburgo, na Alemanha), que alguém se lembre deles para lhes dar a medalhinha a que julgam ter direito.
No entanto, no mesmo dia em que recebeu os Lobos, o Presidente da República condecorou, em cerimónia no Palácio de Belém, o treinador de canoagem Hélio Lucas, com o grau de Comendador da Ordem de Mérito, e o canoísta Fernando Pimenta, com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Instrução Pública.
As danças aquáticas do remo português têm sido de expressão invulgar e, por isso, tanto mérito e tanto esforço também merecem o agradecimento da Presidência da República que, o mesmo é dizer, do País inteiro.
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16/10/2023