Danças com Lobos

 Danças com Lobos

(olympics.com)

Se o título desta crónica não é original, a culpa é do filme “Danças com Lobos”, que me prendeu a atenção nos idos anos 90, quando as metáforas não eram ainda uma grande moda entre nós e Kevin Costner estava “na berra”.

Em “Dances with Wolves”,John Dunbar (Costner) é um oficial de cavalaria que se destaca como herói na Guerra Civil Americana. (mag.sapo.pt)

Desta feita, as danças são outras e os lobos também, porque o contexto tem a ver com o “Mundial” de râguebi, onde os amadores portugueses estiveram presentes, pela primeira vez na história da modalidade, fazendo aquilo que algumas equipas profissionais não foram capazes.

Não sei se lhes devo chamar “lobos”, se valentes portugueses, capazes de feitos como este, historicamente inigualáveis, o que se demonstra facilmente pelos dados estatísticos disponíveis internacionalmente.

Mas chamando-lhes “lobos” e mantendo a ligação à dança, não tenho dúvida em dizer que os jogos mundiais da selecção portuguesa foram heróicos e reveladores desse espírito indomável de ir sempre mais longe e de chegar, pelos nossos meios e costumes, a patamares apenas reservados aos eleitos.

Os jogos foram uma dança pegada, misto de vira e de corridinho, com muito de fandango a perturbar o adversário, facto comprovado pelo que aconteceu diante, por exemplo, das Ilhas Fiji.

Os Lobos nacionais venceram, em 8 de Outubro de 2023 (domingo), as Ilhas Fiji, por 24-23, e somaram a primeira vitória de sempre num Mundial de râguebi. (24.sapo.pt)

Daí que a Selecção dos “Lobos” tenha merecido honras de condecoração da parte do Presidente da República que se esmerou na tradução simultânea, adoptada no contacto à distância por si próprio, com o treinador francês.

Seria evitável, mas foi o modo preferido pelo original Marcelo Rebelo de Sousa.

Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu a Selecção Nacional de Râguebi, em 12 de Outubro de 2023. (Créditos fotográficos: Rui Ochoa / Presidência da República)

Esta questão das condecorações é que obriga a um critério uniforme rígido, porque os Campeões do Mundo de K2 500 metros, João Ribeiro e Messias Baptista, ainda estão à espera, desde 27 de Agosto de 2023 (quando a dupla portuguesa venceu a final, em Duisburgo, na Alemanha), que alguém se lembre deles para lhes dar a medalhinha a que julgam ter direito.

Os canoístas João Ribeiro e Messias Baptista sagram-se campeões do mundo de K2 500 metros nos campeonatos de Duisburgo, na Alemanha, apurando-se para os Jogos Olímpicos Paris’2024. (Créditos fotográficos: ICF – record.pt)

No entanto, no mesmo dia em que recebeu os Lobos, o Presidente da República condecorou, em cerimónia no Palácio de Belém, o treinador de canoagem Hélio Lucas, com o grau de Comendador da Ordem de Mérito, e o canoísta Fernando Pimenta, com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Instrução Pública.

As danças aquáticas do remo português têm sido de expressão invulgar e, por isso, tanto mérito e tanto esforço também merecem o agradecimento da Presidência da República que, o mesmo é dizer, do País inteiro.

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16/10/2023

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Fernando Correia

Fernando Lopes Adão Correia nasceu em 1935. É jornalista, autor e comentador de rádio e de televisão. Começou na Emissora Nacional, aos 19 anos, e passou pelo Rádio Clube Português, pela RDP, pela TSF-Rádio Jornal, pela TVI, pelo jornal vespertino A Capital, pelo jornal O Diário, pelo Record e pelo Jornal de Notícias, com textos publicados em vários outros jornais e revistas. É autor de 43 títulos, entre os quais se destacam os recentes livros: “E Se Eu Fosse Deus?”, “O Homem Que Não Tinha Idade”, “Piso 3 – Quarto 313”, “Diário de Um Corpo Sem Memória”, “São Lágrimas, Senhor, São lágrimas” e “Um Minuto de Silêncio”. O seu próximo livro (a publicar) chama-se “A Mística do Tempo Novo” e é um ensaio filosófico, de auto-ajuda e acerca da construção do Homem Novo. Dos programas que realizou e apresentou na rádio destacam-se: “Programa da Manhã”, “De Um Dia Para o Outro”, “Falar é Fácil”, “Lugar Cativo” e “Bancada Central”, título que, agora, recupera no jornal sinalAberto. Deu aulas de Ciências da Comunicação e de Sociologia da Comunicação no Instituto Piaget, na Universidade Autónoma de Lisboa (como convidado), no centro de formação Palavras Ditas e na Universidade do Algarve (também como convidado).

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