Deixar para as calendas gregas

 Deixar para as calendas gregas

Créditos fotográficos: Spencer Davis (Unsplash)

Quando dizemos que deixamos alguma coisa para as calendas gregas significa que adiamos esse afazer ou responsabilidade para uma data muito distante, indefinidamente, ou seja, para um dia que, o mais provável, nunca chegará.

Segundo consta, esta frase é originária da Roma Antiga e era utilizada, ironicamente, pelos Romanos para se referirem a uma data que não existia.

Calendário juliano indicando, para cada mês, o signo do zodíaco, a luz do sol e o trabalho agrícola do momento (Alemanha, c. 1400). (ensinarhistoria.com.br)

Calendas (de que advém o termo “calendário”) eram os primeiros dias de cada mês do calendário romano, mas esta palavra não existia no calendário grego. Daí que adiar alguma coisa para as calendas gregas era o mesmo que retardar para algo que não existia; isto é, protelar para um dia que jamais viria ou para o dia de “São Nunca à tarde”. A este respeito, a Wikipédia confirma que “ad kalendas græcas” é uma expressão latina indicativa de algo que nunca ocorrerá, já que as calendas eram inexistentes no sistema de cronologia ou calendário grego.

Acontece também que as calendas, os primeiros dias de cada mês, eram os dias em que, tradicionalmente, os Romanos efectuavam os seus pagamentos aos credores. Não admira, portanto, que tentassem atrasar os seus pagamentos para as calendas gregas ou para um tempo remoto.

Créditos fotográficos: Constantinos Kollias (Unsplash)

A expressão “ad kalendas graecas soluturos” (“aqueles que pretendem pagar nas calendas gregas”) é atribuída, segundo o historiador Caio Suetónio Tranquilo, na obra “Vidas dos Doze Césares”, ao fundador do Império Romano e seu primeiro imperador, Otaviano Augusto, que a teria usado frequentemente para indicar aqueles que não pretendiam pagar suas dívidas.

Otaviano Augusto: o primeiro imperador de Roma. (romapravoce.com)

Em Português, utiliza-se igualmente esta expressão já traduzida: “Isto vai ficar para as calendas gregas.” Escreveu António Mega Ferreira que, para o caso português, talvez conviesse inventar uma nova lei de Murphy: se alguma coisa puder ser atrasada, podes ter a certeza de que será constantemente atrasada”. Para o cronista (jornalista, escritor e gestor cultural, falecido em 26 de Dezembro de 2022), em Portugal, “há um costume imemorial: o de adiar qualquer decisão para ‘momento oportuno’; para isto, também nós utilizamos a imagem das calendas”.

E Mega Ferreira concluía a sua crónica “Adiar à portuguesa”, na revista Visão (de 21 de Julho de 2005): “As calendas portuguesas são uma variação dramática desta forma de impotência: às vezes, tem-se a sensação de que estamos a perder um tempo que nunca há-de chegar.”

16/02/2023

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Vítor Duque Cunha

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